23 janeiro 2013

Cafés

 Café Vianna - Braga 
A propósito desta notícia, lembrei-me de uma grande lacuna em Fafe. Nenhum café ou restaurante soube manter o seu charme, quer pelo seu prematuro desaparecimento, quer pelas sucessivas renovações que lhes retiraram o brilho. Perguntar-me-ão: mas houve algum café com charme em Fafe? Penso que sim! O desaparecido Cafelândia, com um nome «sui generis», tinha uma identidade própria. Com os seus sofás bem visíveis do exterior e a sua cave de «snookers», já para não falar na clientela muito própria; o Avenida, célebre representante de uma irreverência política, personalizada por António Saldanha; o Império, com a bem vincada personalidade do seu proprietário e o Dom Fafe, último reduto burguês; o Arcada, com uma vista privilegiada sobre este último, como a fazer «marcação cerrada», era o último reduto socialista. O «Peludo», não sei se assim se designava, em frente ao teatro-cinema com os seus célebres «finos». O saudoso Condestável, onde tomei os meus primeiros «pingos» acompanhados pelo «guarda-chuva» de chocolate.
Quanto aos restaurantes, a Julinha da Ribeira tinha um perfume especial, tendo como coadjuvante um terno Zé da Ribeira. o Zé da Menina tinha nome e confundia-se com a terra. Mas gostava especialmente do ranger do soalho da «Dinâmica». A vitelinha ou o feijãozinho faziam parte da mobília.
Por que razão os fafenses raramente souberam acarinhar o tempo?

António Daniel

3 comentários:

Anónimo disse...

São os efeitos de uma pseudo modernidade e mentalidade parola que estragou Fafe. Estragou a arquitetura, os cafés, os restaurantes. Nunca soubemos preservar aquilo que tínhamos de bom.

Pedro Miguel Sousa disse...

António Daniel,
A maior parte dos nomes de estabelecimentos não conheço. Mas concordo com a última questão. A cidade de Fafe (ou os seus políticos), mesmo depois de todas as indicações comunitárias, ainda olha para o antigo como uma coisa 'velha' e destrói.
Não sei se já repararam, mas os políticos andam à procura da nossa identidade do outro lado do atlântico. Pomposamente dignam a cidade de 'Fafe dos Brasileiros'.
Não menosprezando o brilhante trabalho de pesquisa de Miguel Monteiro, que foi meu professor no Ciclo e que eu admirava por andar sempre à procura de saber coisas antigas - um dia viu-me na minha freguesia e parou para me perguntar o nome de uma casa de lavrador - na altura não percebia muito, hoje sei que estava a reunir material (da nossa identidade), contudo não se pode pensar que somos todos descendentes dos 'torna-viagem'.
A identidade de Fafe está em Fafe. As suas gentes. A sua ruralidade. As casas dos brasileiros mas também as casas dos lavradores (ou da lavoira). Miguel Monteiro também tem estudos sobre isso.
Se me permitem uma indicação de leitura: 'Morgado de Fafe em Lisboa' de Camilo Castelo Branco. Esta dramaturgia é excelente para quem quer investigar sobre a nossa identidade.

António Daniel disse...

Um bom exemplo, Pedro. Mas por que razão isso acontece?