30 abril 2014

Avé Maria




Era habitual… Maio, Mês Mariano, rádio sintonizado em AM na RR. Palavras ditas e cantadas em unísssono, velas acesas que derretiam a cera (a cera a escorrer pelo fálico corpo). Na Igreja, palavras mansas próprias de quem está em estado de levitação, de quem maneja o rebanho. O Cónego. E nós todos: Avé… pelas intermináveis calendas do terço, descontávamos os rosários como um prisioneiro desconta a vida, vida essa que morava lá fora sobre a terra de Maio com o seu tempo indefinido. Contudo, até ao fim do mês de Maio repetia-se, sob uma voz sonâmbula, as passagens mais terríveis do Livro. Pecado, soava a dor no peito, diabo encarnava uma figura sem rosto mas medonha, para no fim tudo repousar no seu lugar natural, na Luz. A minha luz era, porém, a testosterona. Pela primeira vez pensei: é ela. A Carina correspondia a um desejo imberbe, a uma tentação que, curiosamente, se tornou divina. Perante a divindade, o complexo hormonal amolece, perde vigor, promovendo uma paixão que nos aprisiona porque transforma o objectum numa espécie de divindade oculta. No fundo simbolizava a Eva, a tentação agridoce.
Tudo era terrível, o luto, o peso evangélico, o pecado. Até que pensei: quando for grande quero ser padre. Claro que isto aconteceu muito antes de querer ser Bombeiro. O Bombeiro correspondia a uma adolescência do sonho, promovia o vigor, a luta. Em contrapartida, o padre simbolizava o poder. A gesticulação harmoniosa de dar a bênção com aqueles dedos médio e indicador sobrepondo-se aos outros dedos (O domínio, a segurança do dogma, a protecção fatalista, se Deus quiser…). É o período infantil do sonho.
Há ingenuidades que marcam.

António Daniel

24 abril 2014

Câmara e Religião


Esta confrangedora imagem pode não repetir-se. De acordo com a manchete do Notícias de Fafe, a Câmara parece estar decidida a separar o sagrado do profano. Esta notícia é, na minha opinião, francamente boa, surpreendente e é a melhor homenagem à data que hoje se comemora. Já várias vezes aqui sublinhei a situação caricata da Srª de Antime fazer a vénia ao poder político. Ainda mais me parecia contraditório por estarmos perante uma Câmara PS, partido que, como se sabe, sempre advogou a separação entre a Igreja e o Estado. Se a notícia for verdadeira significa um salto civilizacional sem precedentes em Fafe. Obviamente que se encontrará quem não siga a minha opinião e se sinta revoltado por tal desiderato, quer porque deposita uma grande importância na tradição, quer porque considera desprestigiante para a fé. 

As tradições devem existir. São vinculadoras, promovem laços afectivos e reforçam a pertença. Deixam de fazer sentido quando se tornam anacrónicas. A política não necessita das manifestações de fé religiosa e esta não necessita de se afirmar na política. Quando as duas manifestações se separam reforçam a sua presença. A vénia da Srª de Antime era confrangedora. A fé nunca agradece, caso contrário perde a sua transcendência. Simultaneamente, o poder político é legitimado pela racionalidade e discussão acesa e, por isso, não deve perder a sua imanência. 

Se a decisão partiu do Presidente da Câmara, então subiu significativamente na minha consideração.

António Daniel

25 de Abril SEMPRE!


http://beebgondomar.blogspot.pt/2012/04/colorir-abril.html

Estando a aproximar-se o 25 de Abril, e como forma de evocar esta data que tanto diz à maioria dos Portugueses, deixo, uma vez mais, um conjunto de sugestões, à escala local, que, sendo implementadas, ajudariam a cumprir o desígnio da LIBERDADE!
Estas ideias foram propostas no mandato anterior como “voto de recomendação” da Assembleia Municipal ao Executivo Autárquico, tendo sido chumbadas apenas com os votos favoráveis dos Independentes e PCP.
Este chumbo, na minha modesta opinião, apenas confirma a falta de abertura que os partidos têm para medidas que ajudem a tornar transparente o relacionamento entre o cidadão e a administração pública, vá se lá saber porquê…

§  Instituir que as decisões de investimento que ultrapassem o limite do mandato autárquico apenas possam ser tomadas por uma maioria de 2/3 dos membros do executivo;
§  Instituir um princípio de divulgação pública das declarações de rendimentos de todos os políticos com funções executivas, chefes de departamento do Município e Administradores Delegados, com funções executivas, em empresas Municipais ou participadas;
§  Oficializar os objectivos para o mandato autárquico, permitindo à população ajuizar e julgar o nosso desempenho;
§  Tornar públicas as contas simplificadas da autarquia, das empresas municipais e das empresas participadas, para que a população saiba onde está a ser gasto o dinheiro dos seus impostos;
§  Tornar claro o andamento de todos os processos administrativos de responsabilidade municipal, aproximando os cidadãos da decisão;

Viva a República!
Viva o 25 de Abril!

Viva a Liberdade!

Miguel Sumavielle

17 abril 2014

E Se Uma Empresa Fosse Uma Banda

Ao ver o telejornal com o nosso Primeiro-ministro a anunciar cortes de 1.4KK para atingir um défice de 2,5% para 2015, não se sabe bem como, fiquei a olhar para o salmão fresco grelhado que a minha mulher estava a comer e veio-me uma ideia divinal. E se as empresas portuguesas fossem todas Associações sem fins lucrativos, isto é, tipo uma banda filarmónica!
Pegando no exemplo que tenho mais à mão, a Banda de Golães (associação privada sem fins lucrativos), e olhando para o relatório e contas de 2012 (sim, tenho os Relatórios e Contas versão assinada mas NÃO me foram facultados pela associação, fiquem descansados!) verificamos, e bem, a presença das contas Despesas e Receitas (esqueceram-se de atualizar, com a entrada em vigor em 2011 do SNC, para gastos e rendimentos). Ora claro e por erro meu a Câmara Municipal de Fafe afinal não dá nenhum subsídio protocolar mas sim um DONATIVO! Ahh, fiquei elucidado.
Acontece que em 2010 o “Presidente” da Direcção na altura, Ernesto Carvalho Machado, mais conhecido por Senhor Ernesto, assina um contrato programa com a CM de Fafe que lhe chama apoio financeiro, vulgo subsídio, e que só poderia ser, sobre título de reembolso aplicado no referido no documento. Ahh, fiquei elucidado.
Como associação uma das fontes de receitas que temos é a receita de cobranças de quotas, ora neste caso em apreço passa para a rubrica de proveito suplementar! Como o nome o diz, suplementar quer dizer “por acréscimo e não previsto” se vier melhor mas caso contrário não há problemas nem está previsto! Deduz-se, os sócios não são cá chamados nem precisos mas se pagarem quotas tanto melhor, dai ser suplementar a sua receita! Ahh, fiquei elucidado.
Depois temos as receitas em si, concertos, designado como Prestação de Serviços. Ahh, fiquei elucidado a banda presta serviços e passa fatura! Ahh, fiquei elucidado.
Na rubrica de gastos temos de um total de 83.000 dos quais 72.000 são Deslocações e Estadas. Afinal a Banda percorre Portugal de Norte a Sul e isto várias vezes! Ahh, fiquei elucidado.
Como não tem Amortizações de Imobilizado refletidas no exercício, ver contas de 2012, significa que a associação não adquiriu mais nada desde 2002. Está explicado a ausência de inventário nas contas, pois nada tem. Ahh, fiquei elucidado.
Ora refletindo isto no mundo empresarial resolver-se-iam, de uma assentada só, todos os nossos problemas. Ora vejamos:
- Acabava-se de vez com a subsídio dependência já que passaríamos todos a receber um donativo para cobertura dos nossos prejuízos.
- A Segurança Social deixava de existir bem como as finanças nem o Estado de Direito em si, acabaríamos com a Assembleia da República, Polícia, Escolas oficiais e reconhecidas etc.
- Em vez de ordenados passávamos a receber em Despesas de Representação/Ajudas de Custo. Ora bem pegando nos 72.000 € e dividir por 60 músicos e 12 festas (sim um marco!) à razão de 0,36 €/Km, daria 200.000 km percorridos, feito as contas dá 280 km por festa / músico. Não me perguntam como se resolve as boleias e os menores e o aluguer do autocarro. Obviamente alguns tinham para além dos quilómetros direito a hotel e pensão completa, tudo na rubrica de Deslocações e Estadas. Não esquecer que as ajudas de custo são só aplicável a funcionários! Afinal os músicos são todos funcionários e podem pedir indemnização por despedimento pela antiguidade! Ahh, fiquei elucidado.
- Indo mais longe e tendo em conta que tudo se resumo a Km e hotéis iriamos por exemplo à mercearia aqui da freguesia de Cepães (ex. o mercado do Ernesto) e comprávamos mas para o livro e dizíamos: “Ernesto amanhã vou fazer uns Quilómetros e depois ao fim do dia pago-te”. Depois não venho no dia seguinte porque vou para o hotel. Ahh, fiquei elucidado.
- Não nos preocupávamos em investimentos e lucros já que todos os prejuízos eram cobertos por um donativo. Ahh, fiquei elucidado.
- A Assembleia da República e toda a sua máquina DEMOCRÁTICA desapareciam já que não há necessidade de mostrar nada a ninguém e só entra neste meio quem “eles” entendem que reúna as condições, isto é, tem que ser DOUTOR mas se não for pode ser EMPRESÁRIO e em último dos últimos PADRE. Mas se for vogal abdica de qualquer título académico e passa somente a referir-se ao nome próprio. Ahh, fiquei elucidado.
- Acabar-se-ia com os debates para os orçamentos anuais, plano de atividades e investimento, programação e realização do ato eleitoral… só poupar!!! Ahh, fiquei elucidado.
Não sei como é que o Passos Coelho ainda não se lembrou desta solução!
Analisando bem as coisas quem mais sofria eram os contabilistas já que não se prestava contas a ninguém e era uma profissão desnecessária (como se processam Kms no desemprego?).

BOA PASCOA A TODOS com um abraço amigo,
(O Licenciado) António Oliveira.

(A pois é, este título também não existiria!)
P. S. Para a semana estou de férias mas recebo ajudas de custo por km´s mas não vou fazer km´s!!! Ahh, fiquei esclarecido. J
Nota Final: As contas de todas as empresas portuguesas são passíveis de ser vistas/consultadas (algumas até na internet nos diversos sites corporativos) ao contrário das da Banda de Golães mas como o mundo é grande tudo se conseguiu.

10 abril 2014

Agricultura, Desafio e Alternativa

A JSD de Fafe e a JSD Distrital de Braga realizam no próximo sábado dia 12 de Abril,durante a manhã,um conjunto de ações que pretendem ir ao encontro de jovens que encontraram na agricultura um negócio ,um emprego e uma forma de vida .
A JSD Fafe procura assim contactar diretamente com os jovens agricultores, de modo a ouvir os seus problemas e ideias, bem como conhecer no terreno um setor que pode ser uma grande oportunidade.E,numa altura em que o desemprego teima em quebrar recordes,voltar a olhar para a agricultura com outros olhos pode ser uma boa saída.
Importa referir ,de acordo com a Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte (DRAPN), o Programa de Desenvolvimento Rural (PRODER) ajudou a instalar 3.496 jovens agricultores até janeiro de 2014, um pouco por toda a região norte.O apoio deste programa ultrapassou os 273 milhões de euros (prémio de instalação e subsídio), alavancando um investimento global de 290 milhões de euros.E a aposta destes novos agricultores vai para as mais variadas áreas de negócio.
Em contrapartida, 48 por cento dos agricultores portugueses têm mais de 65 anos, o que faz de Portugal o país com setor agrícola mais envelhecido da Europa, onde a média de agricultores naquela faixa etária ronda os 27 por cento.
Neste sentido ,a JSD Fafe pretende convidar os jovens fafenses a voltar às origens ,à terra.
Assim ,a primeira produção agrícola a visitar ,corresponde a um projecto PRODER de instalação de jovens agricultores integrado na fileira de produção,transformação e comercialização de plantas aromáticas e medicinais em agricultura.Esta exploração situa-se na Freguesia de Travassós,o jovem agricultor é o João Pedro Sousa ,da Cooperativo dos Produtores Agrícolas de Fafe ,Cofafe CRL .
De seguida,é o momento de visitar a empresa Vinhos Norte,uma empresa de cariz familiar e conta já com a 3ª geração que pretende consolidar as suas marcas no mercado nacional inovando,gerindo sinergias e apostando sempre na qualidade dos seus produtos.Trata-se de um dos principais produtores de vinho verde a nível nacional,em média 2 milhões de litros de vinho são produzidos anualmente em Fafe por uma única empresa.
Por último ,está previsto visitar o parque de pesca e consumo de trutas ,que situa-se na freguesia de Várzea Cova.
O percurso terá início às 10:30h, sendo o ponto de encontro a sede do Partido Social Democrata de Fafe.

Fonte: JSD Fafe

06 abril 2014

Mais Encanto na Hora da Despedida


Se foi esta a última vez que o Rali de Portugal se disputou em terras algarvias (coisa que, em bom rigor, ninguém sabe com certeza absoluta), fê-lo com brilhantismo e, se foi esse o caso, tal como a Coimbra dos estudantes, teve mais encanto na hora da despedida.

Houve tudo o que se pode pedir numa prova automobilística disputada em pisos de terra: lama, piso escorregadios, emoção no topo da tabela classificativa e, para acabar bem, melhoria do estado do tempo à medida que se avançava para o final da prova, à hora de almoço de domingo.

Não faltaram despistes e peripécias, todos, felizmente, sem desastres pessoais: dois carros deslizaram por um barranco abaixo no fim do troço de Almodôvar sexta-feira à noite, obrigando bombeiros e organização a um trabalho insano à luz dos projetores. O checo Robert Kubika bateu forte no primeiro troço da manhã do dia seguinte e o estónio Ott Tanak que estava a fazer uma prove espetacular despistou-se no troço do Malhão (no preciso local onde Latvala "fora aos figos" em 2009 num dos sítios com mais gente a assistir), obrigando à neutralização do setor.

Nos portugueses Ricardo Moura confirmava que era o mais rápido (15º da geral) e o regressado Rui Madeira, navegado por Nuno Rodrigues da Silva, conseguia superar problemas elétricos e manter-se em prova.

Para ser perfeito este Vodafone Rally de Portugal, precisava de um banho de multidão como no Fafe WRC Rally Sprint há oito dias. Mas, quando se desloca a prova para o extremo sul do país, obrigando os espectadores de Coimbra para norte a terem de fazer uma ida e volta de mais de mil quilómetros não se podem esperar milagres.

E não é por os troços não serem bonitos nem mal desenhados. É por se desenrolarem longe de tudo, entre o extremo sul do Alentejo (Almodôvar) e a serra algarvia (Santana da Serra) ou seja naquilo que os geógrafos chamam o "deserto português".

O troço do Malhão, com os seus 22 km, a desenrolar-se entre montes e vales a norte de Messines e de Salir não fica a dever a Arganil nem a Fafe em espetacularidade. No gancho da Zona Espectáculo 21, perto de Várzea Redonda (a nordeste de São Marcos da Serra) vêm-se os carros a passar na cumeada a sul, ouvem-se descer para o vale e começar a subir, aprecia-se uma monumental atravessadela num gancho à direita (onde os pilotos dos carros menos potentes e de tração às duas lutam com brilhantismo para não perderem muito tempo) e ainda se podem ver os concorrentes fazer o início de uma subida sinuosa.

Ali, na tarde de sábado houve de tudo: a luta entre Ogier (VW) e Hirvonnen (Ford) pela primeira posição, um surpreendente jogo de equipa na Hyundai com um dos i20 a parar no gancho, depois de meio pião e marcha atrás, para dar a posição ao companheiro de formação e um concorrente dos mais atrasados que tanto balançou o carro para a esquerda ante do cotovelo à direita que ficou pendurado no barranco em equilíbrio instável e teve de ser empurrado pelos comissários...

Está lá tudo o que faz um bom rali menos... público. Para quem esteve em Fafe uma semana antes, era a diferença entre um jogo de futebol de salão num pavilhão e o Estádio da Luz cheio. Era o mesmo ambiente mas numa escala fractal de milésimas.

Lá estava numa encosta um pândego no meio da multidão a pôr música ao berros e a incitar os que estavam do outro lado da pista a bater palmas e a fazerem barulho. Um artista com uma motosserra a fazer barulho. Um outro que tinha microfone e amplificação e fazia o escrutínio de toda a gente que passava no carreiro: "Ó chefe não mije no pinheiro que pode vir o dono", "não empurrem a velha, malandros, deixem-na descer", "das cervejas que aí levas, tens que aqui deixar metade" e por aí fora.

A diferença é que, numa nesga em Fafe onde haveria cinco ou seis mil pessoas a comprimirem-se em cada milímetro quadrado disponível, aqui num ponto equivalente, se houvesse 500 ou 600 já era muito. A única vantagem para quem vem ver o Rali e sobretudo para quem vem trabalhar é que nunca há problemas de maior a estacionar perto do troço nem a sair...

Mas onde a diferença é abismal é no Parque Fechado e zona de equipas no Estádio do Algarve. Enquanto em Fafe se vai a pé do centro da cidade ver o arraial de carros e mecânicos, comer uma bifana e beber uma cerveja, no Estádio, até pelos excessos de zelo da GNR, um humilde espetador que só queria ver os seus ídolos mais de perto sente-se desmotivado e acaba por se ir embora, ou nem sequer lá vai por a zona fica numa terra de ninguém entre Faro e Loulé onde só se chega de carro (se a polícia deixar) ou depois de uma longa caminhada a partir da estação de comboio.

O Rali volta de vez ao Norte? Como sem público não há desporto, todos ficamos a aguardar.

Fonte: www.expresso.sapo.pt
por Rui Cardoso