13 julho 2013

Nossa Srª de Antime


Apesar do meu crescente cepticismo, aprendi com a minha querida mãe o gosto pelas manifestações marianas. A sua devoção por qualquer imagem mariana, na qual a Nossa Srª de Antime ocupava lugar de relevo, intrigava-me. Percorrendo as obrigações religiosas, desde o baptizado até ao crisma, experimentei o peso das manifestações formais que lhes davam rosto, como experimentei que, sem formalismo, não há religião. Presente no quotidiano, o pecado abrangia grande parte das motivações. As deliberações tomadas obedeciam ao medo do anátema. A dúvida e a descrença sobre as formas legítimas e ilegítimas de poder eclesiástico começava a pesar nas decisões. A instituição religiosa tornara-se para mim um biopoder: a vida fora a dádiva para a morte.

O culto mariano, em contrapartida, é vida (talvez por isso a teologia católica continue a submetê-lo à divina trindade). Não é por acaso que a sua génese pagã está umbilicalmente ligada a rituais de fertilidade. Daí que o culto mariano funcione como uma espécie de catarse para os fieis católicos. Ela é esperança porque é o lado feminino da vida. Evidentemente que o milagre é indissociável do fenómeno que nos acompanha nestas festividades. Contudo, não se julgue que é isso que motiva as pessoas.

A procissão de Domingo é um paradigma de uma fé que move as pessoas. Ao contrário do que habitualmente acontece nas formalidades católicas, aí se dissipam as diferenças. Não se distinguem ricos e pobres, analfabetos ou letrados, bonitos ou feios. Talvez porque todos têm uma mãe.

António Daniel

PS: Só não entendo a sua vénia ao poder temporal!

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