01 novembro 2012

A Minhota



Estou a ler pela primeira vez Mistérios de Fafe de Camilo Castelo Branco. Pela leitura das primeiras linhas, surge-nos a presença dominadora da mulher, no comum do seu substantivo. Posso estar equivocado, mas a mulher funciona aqui simultaneamente como ventre e conservação: Ela dá e dispõe da vida. Rosa parece ser, a partir das primeiras palavras, a mulher (substantivo comum), aquela que sofre e que faz das poucas forças a sua própria emancipação. Considerando que na literatura esconde-se os mais altos desígnios da vida, Camilo vai revelando a essência da mulher minhota e o homem como mero joguete dos jogos de sobrevivência e de prazer (sabemos que estes dois conceitos estão bem intrincados).
Os primeiros ditos da obra fez-me deambular por uma ideia que comummente domina: a mulher minhota é conservadora. Faz ela muito bem, tira grandes vantagens disso! Na sombra do magnificente macho, com as manifestações de testosterona, oculta-se a matriarca. Por ela tudo passa porque por ela tudo nasce. A própria terra é e sempre será feminina. Nela está o ventre, nela está o fim.

António Daniel

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