11 dezembro 2009

Ao "Costinha"...


Encontrei o Costinha. Pela primeira vez olhei-o. Ou melhor, observei-o. É bonito! Todo ele é ternura, todo ele é amargura. Nessa tarde chuvosa de 29 de Novembro, Costinha estava no passeio e enviou um saco plástico do Pingo Doce para o meio da estrada. Esteve cerca de meia hora a observar o bailado que o saco plástico encetava pela passagem dos carros. Divertia-se imenso, sorria, estava feliz. Nessa atitude vislumbrei a ingenuidade, a pureza de se ser eternamente criança, mas também indaguei os inúmeros impropérios de que foi vítima. O mais interessante é que nunca me importei. Nunca pensava nele. A sua existência assemelhava-se a uma espécie de presença incógnita, habitual. Pela primeira vez dirigi-me ao Costinha. Levava no bolso um All Bran recentemente adquirido no super-mercado desse saco plástico. Amigável mas imbecilmente, disse ao Costinha: «não se lança um plástico para o chão». O Costinha, bem mais inteligente do que eu, fez gestos e expeliu interjeições que queriam dizer: «deixa-me em paz». Resultado, não comeu o All Bran. Fui um grande cabrão para o Costinha, fui idêntico a tantos outros que o insultam: não o deixei continuar com a brincadeira. Desculpa, Costinha.
Obrigado a quem trata do «nosso» Costinha.

António Daniel

12 comentários:

Pedro Fernandes disse...

O Costinha é indissociável de Fafe. Representa para esta cidade uma figura ímpar que figurará na memória colectiva dos fafenses durante largos anos.
Aquilo que mais me admira nele é a sua capacidade de aguentar nesta terra fria e húmida as intempéries do Inverno. Facilmente o encontramos na rua, muitas vezes a altas horas da noite, vagueando nas ruas que sempre o acolheram, nas ruas que sempre lhe transmitiram o aconchego que nunca teve e rebuscando interiormente o passado que, por vezes, em momentos mais lúcidos, consegue transmitir.
Este texto puro, com grande sentido humanista é um justo tributo ao Costinha. Parabéns António Daniel.

MFM disse...

Gostei muito de ver aqui o nosso Célio, com o mesmo sorriso com que chega a meio da manhã no refeitório da instituição onde trabalho para tomar o pequeno almoço. Um dia desta semana apareceu por volta das 11 horas. Então menino, são horas de vir tomar o pequeno almoço?Resposta dele “sabes a minha mãe já morreu”. Mas eu também sou tua amiga.”És mas a minha mãe chamava por mim”.

O Célio(Costinha) é utente da Misericordia de Fafe à vários anos. Tem tudo que precisa, mas como viveu muitos anos na rua não conseguiu adaptar-se. Desaparece por uns dias, depois regressa. Tem sempre o lugar dele reservado na sala de jantar, um banho quente, cama e roupa lavada, é só aparecer.

António Daniel disse...

Não sabia que se chamava Célio...

PedroMiguelSousa disse...

António Daniel, todos erram, mas o mais importante é saber reconhecer e não repetir. Grande mensagem... Obrigado! Sei que muitos, ao verem as tuas palavras, vão pensar duas vezes antes de zombarem com o Costinha ou outra pessoa...
Forte abraço

Anónimo disse...

este blog esta cada vez melhor. pena que quase ninguem o conheça.
parabens aos seus autores, ou autor.
ate do costinha falam como nunca se falou. essa personagem...
força pessoal.
candidatem-se num movimento independente nas proximas eleições lol. fafe merece gente como o antonio daniel, o daniel bastos, o pedro sousa, o pedro fernandes.
não conheço nenhum mas pelo que leio são do melhor que se escreve cá nesta parvónia.

jmmc disse...

Na verdade o Costinha nome artístico Celio de seu nome, sua origem é de Ribeira de Pena.
Pena é que alguns Fafenses façam troça de quem infelizmente não tem capacidades para se defender, outros sabendo que principalmente o álcool lhe faz mal e mesmo assim pagam para depois se divertirem, as mentalidades e civismo só alguns e poucos tem
Ainda temos o Landinho que também está na Santa Casa da Misericórdia de Fafe

Marco Gomes disse...

O Célio(Costinha) é alguém muito popular em Cabeceiras de Basto. Simplesmente, uma figura (sempre) presente nas festas de São Miguel e, também, em outras alturas do ano.

Sobre ele pouco tenho a dizer. Vi-o uma dúzia de vezes, pouco mais. Contudo, reparei que ele tem uma "fixação" especial com os relógios, usando aos pares nos braços e, mesmo assim, sempre perguntando as horas.

Sem dúvida, é e será, ma personalidade marcante nas vivências de Cabeceiras e Fafe.

MFM disse...

Célio: sabes tou na máquina de botões, do café
Maria: eu tambem já vi
C: vite onde
M: na minha casa. As máquinas de botões mandam umas pras outras
As pessoas de Fafe gostam muito de ti
C: adeus cara... lá tá tu, no goto nada

jmmc disse...

Celinho como chamavam os ribeira-penenses mas as origens do “Costinha “é de uma aldeia próxima , Balteiro

MFM disse...

Como diz jmmc existem pessoas que são capazes de pagar bebidas a inocentes para depois se divertirem.
Quando assistirmos a actos desses devemos agir, não ter uma atitude passiva, chamar as autoridades se preciso for.
Porque quem cala consente.Devemos ter essa atitude em relação ao próximo à natureza e tudo que nos rodeia.
Para que os anos que se seguem uns aos outros, nós sejamos cada vez mais solidarios e com o nosso contributo possamos fazer deste um mundo melhor
FELIZ ANO NOVO

Anónimo disse...

Onde foste buscar a fotografia do Costinha?
Pelo menos devias referenciar a fonte original!

Nabais disse...

O último anónimo que escreveu está mais preocupado com a origem da foto do que com o teor do texto em si. Mentalidade típica fafense...