Fafe é daquelas terras que, embora debruçada no provincianismo da alma portuguesa, ainda é capaz de nos surpreender. A dialéctica que se imprime no dia-a-dia caracteriza-se por uma óbvia dicotomia: por um lado o «foda-se» e o «caralho» são marcas indeléveis do quotidiano, por outro lado, no sempre presente diminutivo encontramos a outra face da moeda. Expressões como «queridinho», «pequeninho», «nelinho», «nelinha», «manelinho», «vinhinho», «comidinha», enquadram-se numa vertente maternal que nos enternece. É também uma marca fecunda o momento público que oferecemos aos nossos mortos. Em pontos centrais da nossa cidade encontram-se as devidas homenagens aos nossos entes queridos que partem. Contudo… nunca se esquece de colocar o devido epíteto público, vulgo alcunha: morreu X (esposo da piolhosa donzela da rua…). Curiosamente, é este rótulo eterno que se atribui às pessoas que mais nos cativa e mais nos identifica. Mas as ambiguidades não se ficam por aqui. Somos capazes de dizer «aquele filho da puta é um gajo porreiro», ou «aquele caralho é inteligente». É no acto de fala que dizemos tudo aquilo que somos e sentimos em relação a Fafe: um misto de ternura e repulsa. Vence a ternura.
António Daniel
5 comentários:
Fafe preserva no seu "falar" os calões e os diminutivos típicos nortenhos e, simultaneamente, tem influências transmontanas e brasileiras que podem ser comprovadas na acentuação dos "S", dos "En, Em", etc.
Pena ainda não ter havido alguém que se dedicasse a estudar a influência brasileira em algumas palavras que usamos.
Esse seu sentido ternuroso das expressões que escreve é particularmente interessante.
A maneira de falar entre homens e mulheres é diferente, raro algumas excepções. As mulheres entre elas, usam expressões muito ternurentas como queridinha, amorzinho, sobretudo as senhoras de idade gostam que as mulheres mais novas as tratem assim. Mas ninguem se pode dirigir a um homem dessa forma, são todos muito arteiros, mesmo de idade avançada. Tambem há, quem tenha repulsa pela forma como pronunciamos algumas vogais e para serem chikes, falam à moda das tias de Lisboa a mastigar as palavras.
caro anónimo, mas repare que quando «salta a tampa» os calões mais «peludos» também saem da boca das mulheres. É comum ouvir-se nos mercados «As putas das laranjas estão podres». Concordo também consigo que por parte dos homens está interdita esse diminutivo. Resquícios de pseudo poder.
Os e as laranjas estão podres e de que maneira
Caro anónimo não se aproveite do meu acto falhado.
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