
Não me vou preocupar em avaliar a justiça da destituição do Padre Lopes nem as reacções desencadeadas pela população. Já disse que respeito o sacerdote, nas suas mais variadas valências e virtudes. Interessa-me, somente, descortinar as razões subjacentes a essas reacções. Um leitor do blogue disse, e muito bem, que semelhantes manifestações justificar-se-iam em acontecimentos passados, tanto ou mais graves do que a saída do Pároco Lopes.
A figura do Pároco possuiu sempre uma importância vital em Fafe. O Cónego Leite de Araújo representou uma época, protagonizando medidas que, bem ou mal – julgo que mais bem que mal – marcaram indelevelmente os destinos de Fafe. Possuía liderança e protagonizava lutas políticas, justificadas pelos tempos «ideológicos» das décadas de 70 e 80. A partir daí, o pároco começou a funcionar como um referencial.
Este referencial apresentava-se de acordo com duas nuances: primeiramente, revestia-se de um referencial culto, o que lhe dava um substancial poder sobre os partidos de esquerda que, apesar do apoio popular, nunca possuíam uma verdadeira inteligentzia; por outro lado, nos partidos de direita granjeava respeitabilidade e, até, um poder paternal. Curiosamente, seria este poder paternal que lhe forneceria legitimidade popular. O pai é tanto mais forte quanto menos disser. A dicção do Cónego era tão fraca que as pessoas pouco percebiam as homilias, mostrando-nos que mais importante do que a matéria é a forma do que é dito.
Com uma herança destas, o Padre Lopes «movia-se» bem, apesar da tarefa não ser fácil em virtude da herança. Muito «terra-a-terra», com discurso acessível, tornou-se, aos poucos, filho do povo e, simultaneamente, frequentava os círculos ditos cultos. Havia, e há, uma unidade convergente na sua pessoa, como bem se viu nos protestos.
Estas formas do exercício do poder eclesiástico promoviam a ideia fundamental do catolicismo: a unidade. As pessoas de Fafe, e possivelmente do resto do país, gostam disto. Gostam de protecção e de alguém que pense e execute por elas. Não me refiro pura e simplesmente ao espírito do «rebanho», mas à forma patriarcal com que os representantes eclesiásticos exercem as suas funções. Perdendo-se o pai, perde-se o norte.
António Daniel