11 março 2010

Orgulho e Auto-Estima


Tenho lido no Blog algumas considerações sobre a falta de auto estima dos fafenses. A relutância em assumir as coisas boas que existem no nosso concelho e as lamentações e queixumes que denotamos parecem confirmar esta “tese”. Existe, talvez, um sentimento demasiadamente negativista na nossa identidade. As razões não são assim tão objectivas mas podemos ir buscar algumas respostas ao nosso passado recente. Poderemos falar do fim do comboio, do fecho prolongado do cine teatro, da crise do têxtil, da perda do rallye de Portugal, entre outras, que afectaram o nosso orgulho.
Ao longo dos anos, certamente, sofremos mutações na sociedade que influenciaram decisivamente a nossa estima mas nunca conseguimos substituir a perda da maior manifestação colectiva que alguma vez tivemos. Falo do rallye de Portugal que granjeava a simpatia e a adoração de todos. Talvez, a “romaria” mais grandiosa e unificadora da estima e do orgulho de sermos fafenses. O epíteto da “terra do rallye” enchia-nos de um orgulho que não era superado pela “terra da justiça”.
O rallye atraía gente de todo o Portugal e milhares de espanhóis. Fafe ganhou a fama de “catedral dos rallyes” e o concelho tornou-se referência neste tipo de provas ao mesmo tempo que fazíamos uma promoção turística do concelho inigualável.
Não me lembro de outro acontecimento mobilizar e entusiasmar tanto as gentes de Fafe. Relembro, com saudade, dos dias sem aulas, das noites a acampar nas Serras frias de Fafe, do convívio, das longas caminhadas a pé para o “Confurco” ou para o “Salto da Lameirinha”, das boleias inesperadas e dos farnéis…
Os fafenses sentiam orgulho em dizer que eram de Fafe, em dizer que eram da “terra do rallye”.
Actualmente, continuamos a ter importantes manifestações colectivas mas nenhuma tão marcante na nossa identidade como o rallye de Portugal. As festividades da Sra de Antime, as Feiras Francas são importantes para o concelho, tal como a Volta a Portugal, mas esta não substituiu a “fama” do rallye, nem sequer as outras elevam assim tanto o nosso ego.
E, as manifestações colectivas, quando congregam todos, são determinantes para mobilizar as forças vivas concelhias, a auto-estima individual dos fafenses e a captação de novos públicos. E, isso tem faltado… claramente!

Pedro Fernandes

5 comentários:

António Daniel disse...

O Pedro fez uma levantamento das principais perdas dos últimos anos. Nem sei se será possível recuperar algumas. Por esse motivo compreende-se todo o entusiasmo à volta do cine-teatro. Do que perdemos, foi o pouco que salvamos. Creio que no subconsciente das pessoas a coisa funcionou mais ou menos assim. Mas, no fundo, gostamos de Fafe. Por isso é que (perdemos?, ganhamos?)ocupamos parte do nosso tempo nestas deambulações.

Alex disse...

Bem visto, Pedro Fernandes. Mas a perda do rally, o fim do comboio, o fecho prolongado do cine-teatro, a crise do têxtil… são tudo exemplos de perdas que não foram causadas pela falta de auto-estima nem por falta de orgulho próprio nem mesmo por um “ternurento provincianismo”. Por isso tenho dito que não é assim tão relevante alterar essa dita “mentalidade” e que mesmo que se consiga uma mentalidade mais “urbana” continuaremos sem rally, com o têxtil em crise, sem comboio… Era preciso ir às reais causas.

Pedro Fernandes disse...

Caro Alex,
Esses acontecimentos que refiro não são as causas objectivas de uma "baixa auto estima" dos fafenses mas são perdas que fragilizaram a nossa estima colectiva, na minha opinião.

Raja disse...

Sim, concordo plenamente.

Anónimo disse...

Não podia estar mais de acordo. Sobra uma cidade cinzenta, que cada vez perde mais o respeito e a vontade dos mais jovens em cá ficar... afinal é tão fácil sair cá dentro.