05 janeiro 2010

Fafe, que futuro?


Sem surpresa, a votação levada a cabo por este blog confirmou o que a maior parte dos fafenses pensam: O Cine-Teatro foi a melhor obra de Fafe na última década. Terminada esta década, é tempo de olhar para a próxima e Fafe irá ter grandes desafios pela frente. Embora obras importantes (e necessárias) vão ser realizadas no nosso concelho a médio prazo que irão colmatar algumas lacunas, existem factores que, de uma forma indirecta, serão decisivos para o concelho no futuro.
Primeiro, a questão do emprego. Como resolver a falta de emprego que alastra no nosso concelho (e região)? Como atrair investimento e mão de obra qualificada? Um desafio que envolverá respostas rápidas e uma competição desenfreada entre regiões.
Segundo, os nossos decisores. Quando falo em decisores, falo no presidente da câmara, do centro de emprego, da associação empresarial, das associações, entre outros. Um dos grandes males que pouca gente fala neste Portugal é a ruptura de uma sociedade a caminhar em dois ritmos diferentes. O ritmo de quem decide parece andar demasiado lento relativamente ao ritmo que a sociedade caminha. E é neste desfasamento que se situa a grande avaliação daquilo que é um bom decisor e de um fraco. E em Fafe, temos decisores que não acompanharam o ritmo de mudança da sociedade. São estes mesmos decisores rodeados dos mais conservadores tiques burocratas que têm sido o travão ao desenvolvimento sustentado da nossa sociedade. Os mesmos decisores que se mantêm em cargos anos e anos a fio, corrompendo a dinâmica da sociedade e do país.
Fafe não tem sido capaz de gerar dinâmica social. Fafe assemelha-se a uma sociedade amorfa, sem audácia e sem visão de futuro que vive à custa sobretudo daquilo que o estado lhe garante e da velha geração de empresários que, ainda assim, são um dos motores da economia fafense. Fafe não tem sido capaz de olhar para os jovens, não havendo ninguém que tenha percebido bem o que são e como funcionam as inúmeras culturas contemporâneas da juventude que já são uma importante fonte da economia de alguns locais. Insisto na juventude porque é ela que cria as dinâmicas em todas as sociedades ocidentais desenvolvidas. E, é uma anomalia vivermos num concelho em que a juventude deixa de criar e participar activamente, procurando outras paragens para o fazer. Umas vezes porque não quer, mas muitas vezes porque não lhe deixam.
Cavaco Silva alertou que Portugal pode viver uma situação explosiva. Esta situação tem origem numa sociedade potencializadora de desigualdades sociais, numa justiça que não funciona e na corrupção que conduz a sociedade a um descrédito permanente. Não sei se esta explosão um dia chegará mas são os jovens que têm que dar resposta a que tipo de sociedade querem para o seu futuro e com que atitude encaram esse mesmo futuro. Serão eles os decisores de amanhã que serão tão bons ou tão fracos no futuro, dependendo da resposta que derem a este status quo no presente.

Pedro Fernandes

9 comentários:

António Daniel disse...

Embora confiante, diria que a situação de Fafe é preocupante. Não é exclusivo, mas é preocupante. Pedro, muito bom diagnóstico.

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
rodrigues disse...

Parabens montelongo.
neste blog encontramos comentadores melhores daqueles que escrevem nos nossos jornais locais.
po~em o dedo na ferida sem receios, são isentos e nota-se que querem ver fafe melhor.
caro pedro fernandes, concordo consigo e ate digo mais. a juventude nunca teve politicas a altura em fafe. penso que quando fala nessa juventude fala também nos jovens politicos, nos jovens empresarios certo?
e embora hajam excepço~es, fafe ainda vive muito da "velha guarda" dos empresarios, concordo. essa falta de dinamismo tem muitas causas mas ha uma esencial.
em fafe não se pensou nunca no tipo de cidade que queremos ser para o futuro. continuamos a ser uma cidade vizinha de guimaraes, sem identidade.
antonio daniel, tambem acho que devemos ser confiantes no futuro mas essa confiança resulta mais da emoção ou da razão? sinceramente acho que daqui a 20 anos fafe esta melhor mas continuamos a ser a cidad vizinha de guimaraes, a da justiça de fafe e pouco mais.

Alex disse...

Confesso que fiquei meio confuso com o seu texto... Afinal, resumindo, o que fica?

A "sociedade" quer avançar mas os "decisores" travam o avanço?

António Daniel disse...

Caro Rodrigues, racionalmente sou céptico, emocionalmente sou esperançoso.

Anónimo disse...

Muito preocupante a situação do nosso concelho.Por mais que hajam edifícios restaurados, muitos jardins, muito dinheiro mal gasto, a verdade é que a nível social pouco ou nada se tem feito. O que é que Fafe tem para oferecer a um jovem recém-licenciado desempregado....NADA!!!!!Penso que estamos condenados nesta cidade...ninguém quer saber daqueles que realmente precisam de respostas.....

Pedro Fernandes disse...

A sociedade sofre constantes mudanças e o bom decisor é aquele que antecipa e prevê cenários, que cria e inova. Que está sempre mais à frente que os demais.
Vejamos dois exemplos claros de duas cidades que tinham e têm o calçado como economia principal. felgueiras e santa maria da feira.
hoje, felgueiras vive um grande desemprego, centenas e centenas de postos de trabalho se perderam. a emigração regressou.
santa maria da feira tambem teve os mesmos problemas mas deu a volta muito melhor porque criou polos de inovação no calçado, criou polos industrias para outro tipo de industrias que permitiu a muitas empresas sobreviver, competir e algumas ate aumentar volume negocios.
em felgueiras so anos mais tarde se esta a fazer o mesmo. a resposta foi tardia e isso tem o seu peso na economia porque muitos postos trabalho poderiam hoje ainda estarem a salvo.
Mas a fonte de economia de uma cidade tem que se diversificar senão corre-se o risco de acontecer o que aconteceu aqui com o textil, por exemplo.
Exemplificando de novo, e reforçando o papel da cultura nesta economia e nas novas culturas contemporaneas. santa maria feira apostou numa oferta cultural com eventos de rua de dias e dias que aumentou o turismo (exemplos? os festivais de musica, a feira medieval, o festival imaginarius, o festival de cinema jovem, o festival de cinema luso brasileiro, o festival para gente sentada)
claro que isto é trabalho de uma equipa que sabe trabalhar, sabe publicitar as coisas e andar na vanguarda das ideias criativas.
e é disso que falamos, destas respostas que alguns dão e outros so fazem se forem atras, se forem pressionados e algumas vezes fazem com grande atraso.
infelizmente assim é em fafe. em fafe e em muitos lados. porque simplesmente as ideias parecem esgotar-se. fazem-se as vigésimas não sei quantas mostras de artistas fafenses, cantar reis,entre muitas outras coisas importantes mas sem serem muito criativas. E um acontecimento verdadeiramente inovador e contemporaneo capaz de atrair gente de braga, guimaraes, terras de basto, não se vê.
se nos questionamos dos nossos fracos habitos culturais, ha que cativar gente de fora.
O que atrai o turismo hoje em dia? O que faz as pessoas gastarem dinheiro num hotel, comer nos nossos restaurantes, irem comprar umas coisas no nosso centro urbano?
sera que ninguem para para pensar nisto?
sera que é um problema de dinheiro´ou uma questão de prioridades?

Alex disse...

Agora já percebi melhor o que queria dizer... Os "decisores" são bons se "puxam" pela "sociedade" e maus se "travam" a "sociedade".

E os nossos não puxam...nem ninguém os empurra :)

Anónimo disse...

A confiança resulta da emoção e da razâo.Dqui a 20 anos ainda continuamos a ser vizinhos de Guimarães. Grande análise S.r Rodrigues, muito bem.E as politicas para a juventude. E a seguir aos pontos não se escreve com letra grande?