24 abril 2014

Câmara e Religião


Esta confrangedora imagem pode não repetir-se. De acordo com a manchete do Notícias de Fafe, a Câmara parece estar decidida a separar o sagrado do profano. Esta notícia é, na minha opinião, francamente boa, surpreendente e é a melhor homenagem à data que hoje se comemora. Já várias vezes aqui sublinhei a situação caricata da Srª de Antime fazer a vénia ao poder político. Ainda mais me parecia contraditório por estarmos perante uma Câmara PS, partido que, como se sabe, sempre advogou a separação entre a Igreja e o Estado. Se a notícia for verdadeira significa um salto civilizacional sem precedentes em Fafe. Obviamente que se encontrará quem não siga a minha opinião e se sinta revoltado por tal desiderato, quer porque deposita uma grande importância na tradição, quer porque considera desprestigiante para a fé. 

As tradições devem existir. São vinculadoras, promovem laços afectivos e reforçam a pertença. Deixam de fazer sentido quando se tornam anacrónicas. A política não necessita das manifestações de fé religiosa e esta não necessita de se afirmar na política. Quando as duas manifestações se separam reforçam a sua presença. A vénia da Srª de Antime era confrangedora. A fé nunca agradece, caso contrário perde a sua transcendência. Simultaneamente, o poder político é legitimado pela racionalidade e discussão acesa e, por isso, não deve perder a sua imanência. 

Se a decisão partiu do Presidente da Câmara, então subiu significativamente na minha consideração.

António Daniel

8 comentários:

Ricardo Gonçalves disse...

Totalmente de acordo.
Com a decisão e com as tuas palavras.

Hernâni Von Doellinger disse...

Se me dá licença, faço minhas as suas palavras.

Pedro Sousa disse...

António Daniel, gostei de saber isto! Há pouco tempo escrevi um post (http://pedromiguelsousa.blogspot.pt/2014/04/presidente-da-camara-quer-imprimir-um.html) sobre uma situação que desconhecia e foi o próprio presidente que me disse, as cruzes juntavam-se em frente à Câmara, 'iam ao beija-mão' ao Presidente. Nesse artigo falo desta imagem ridícula, a Senhora de Antime a fazer vénia aos 'reis de Fafe'... Não vi o notícias, mas viste tu e basta-me para ficar agradado com essa mesma informação. Até que enfim que há um Presidente a pensar diferente em Fafe!

Anónimo disse...

Na sua consideração e na minha

Anónimo disse...

Já não era sem tempo de acabar com essa pouca vergonha que alguns teimavam e continuar. Era confrangedor ver, para além de outros, a imagem de Nossa Senhora a fazer a vénia ao Carlos Mota e afins...deprimente. Não sei de quem foi a ideia, mas se foi do Presidente da Câmara só tenho de lhe "tirar o chapéu" e só demonstra que o ar bafiento que se respirava na Câmara começa a dissipar-se.

Anónimo disse...

pretty nice blog, following :)

Alberto Baptista disse...

Concordo por inteiro com o António Daniel. No entanto, quanto ao mérito das decisões, terá que também ser atribuído, na sua quota-parte, ao Pároco Padre Abel Maia pela correcta percepção ao demonstrar concordância com a posição do Presidente Raul Cunha.
Penso que o Pároco terá que fazer alguma pedagogia junto dos fiéis, pois, nem todos entenderão o que está em causa ao suspender tais tradições.
Quanto ao Dr. Raul Cunha, segundo a notícia, ter afirmado perante os restantes elementos do executivo camarário, não querer tirar dividendos políticos da relação com a religião, portanto mantendo as tradições, já não posso concordar. Na relação, deve e haver, da decisão de as suspender, o saldo do lado do crédito ao que parece irá dilatar… não é assim amigo António Daniel?
Abraço!

Anónimo disse...

Raul Cunha nos pequenos gestos tem sido uma boa surpresa para Fafe. Eu que nem sequer votei PS, tenho vindo a concordar em todas as comunicações e decisões que tem tomado.