03 janeiro 2011

"Municipal"

Movido por mero preconceito ou simplesmente mania, não patológica, sempre desconsiderei a atribuição do nome Municipal para designar instalações, edifícios ou outras estruturas similares. Não quero que com isto se entenda qualquer forma de despeito face à importância das autarquias. Simplesmente dá-me urticária por vincular a uma provinciana ideia. É por todos conhecidas as designações de Tivoli, Casa da Música, Centro Cultural de Belém, Centro Cultural de Vila Flor, Coliseu, Teatro Circo de Braga, Politeama, Rivoli, Casa Fernando Pessoa, enfim, um número considerável de casas que, apesar de circunscritas a um espaço possuem uma referência universal. Nas terras de menor dimensão, isso não acontece. Fafe não foge à regra. É a Casa Municipal de Cultura, é a Biblioteca Municipal, o auditório Municipal, os mictórios municipais, a Câmara Municipal (esta dou de barato), o Largo Municipal, o Estádio Municipal, o Museu Municipal… Convenhamos que causa otites e afasia visual tanta municipalidade. Quando orgulhosamente vemos nos meios de comunicação quaisquer referências a um espectáculo em Fafe, rapidamente perdemos o simbolismo da coisa, pois o «municipal» vem sempre atrás.
Creio que os responsáveis pela cultura em Fafe, quando não acabrunhados pelo municipal, têm qualidade, pelos menos pelo que me é dado a verificar. Por este motivo, sabem que uma casa de espectáculos ganha se o seu valor místico perdurar e amadurecer. Esse valor místico é directamente proporcional ao domínio universal do nome que um espaço possui. Assim, o Cine-Teatro possui todas as condições para ser apelidado de outra forma, pelo menos para se individualizar e enriquecer. Quantos cine-teatros existem por aí fora? Centro Cultural Vila Flor existe só um. Será que o Blogue Montelongo não gostaria de fazer uma prospecção pública de designações para o Cine-teatro, para o estádio, para a Casa da Cultura… Quando falamos com alguém dizemos «fui ao Vila Flor, fui ver Tivoli…» para referenciar uma casa que está para além da sua situação geográfica, ocupando um lugar no éter simbólico.

António Daniel

17 comentários:

Anónimo disse...

Dêem-lhe nomes de fafenses ilustres!

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Nabais disse...

Um bom texto e uma ideia interessante para ser tida em conta.
Relativamente ao comentário anónimo anterior, o Manuel refere-se a Camilo Castelo Branco.
Alguns exemplos: Que tal a Biblioteca Camilo Castelo Branco, o estádio Aurélio Márcio, etc, etc.

Montelongo disse...

Pedimos desculpa ao comentador Manuel porque ,por lapso, apagamos a sua mensagem. Transcrevemo-la, na íntegra, em baixo:

"Um dos maiores vultos da literatura portuguesa de sempre, passou pelo nosso concelho, mais propriamente pela freguesia de Paços e nem uma simples rua a fazer menção a tal facto existe nessa localidade.
Creio que está na hora de fazer jus às inúmeras personalidades que nasceram, que viveram e/ou que levaram o nome do nosso concelho por esse mundo fora."

ARTUR COIMBRA disse...

Boa noite.
Gostaria de deixar ditas duas coisas:
1. Só por brincadeira se poderia aceitar o que era sugerido no comentário que acabou por ser removido.
2. Quanto a Camilo Castelo Branco, devo lembrar que existe em Fafe uma rua com o seu nome há perto de 30 anos, na zona da Cisterna (a rua do Restaurante Girassol, passe a publicidade). No princípio dos anos 80, a então Câmara deliberou dar o nome de diversos escritores portugueses a artérias da ainda vila, entre os quais Almeida Garrett, Gil Vicente, Antero de Quental, Florbela Espanca ...e Camilo Castelo Branco.
Em Paços, não sei se há alguma artéria com o seu nome. Existe, sim, a Rua José Cardoso Vieira de Castro, fronteira à Casa do Ermo e onde se refugiou Camilo quando andava perseguido pela justiça.
Quanto a nomes fortes da cultura fafense e nacional, pode falar-se de Soledade Summavielle ou Prof. Laurentino Monteiro (Ruy Monte), dois grandes poetas contemporâneos falecidos há alguns anos.

Alex disse...

Uma coisa é querer honrar uma figura pública e atribuir o seu nome a uma rua ou a um edifício. Outra coisa é querer tirar o nome "municipal" e por isso arranjar um nome para substituir essa "maldita" palavra.

Deve ser "urbana" a ideia de baptizar um edifício com o nome de alguém para que o edifício deixe de ser nomeado como "municipal". Não parece nada provinciana essa brilhante ideia...

António Daniel disse...

O que me interessa é simplesmente o simbolismo. Os espaços culturais são espaços simbólicos para quem frequenta e para quem actua. Quanto afirmei não apreciar a designação municipal não foi com o intuito de rejeitar o seu devido interesse. Simplesmente considero que o termo municipal possui uma conotação, certa ou errada, de intervenção municipal, quando, para mim, seria mais importante realçar aspectos da sociedade civil e por quem ela luta. aqui cabem nomes mas também outras designações. Por que não fazermos esse exercício? Refiro mais uma vez, o simbolismo do espaço é importante e a sua designação ajuda a perpetuar esse mesmo simbolismo. O «municipal» é inócuo. Por exemplo, as próprias ruas. Vivi grande parte da minha vida numa rua designada de Maia. Actualmente é António Sérgio. Sem querer desmerecer o vulto das letras portuguesas, as pessoas ainda falam na rua do Maia. Isto é simbolismo, é identidade, é pertença. Isto é que é importante nos locais de interesse municipal.

Pedro Fernandes disse...

Concordo com o António Daniel quando refere que a questão do simbolismo interfere muito nos espaços e lugares. Porque o simbolismo de determinado local, no fundo, fica gravado no tempo.
O termo municipal, sem ser depreciativo, tira alguma carga simbólica ao espaço.
Além disso, a outra vantagem da atribuição do nome a um local é o facto de, com isso, podermos homenagear determinadas figuras que contribuiram para o engrandecimento da nossa terra. E, nesse aspecto, podemos encontrar inúmeras opções válidas quando desfolhamos o excelente livro do Artur Coimbra, o dicionário dos fafenses.

Anónimo disse...

Ó Manuel, diga-me o nome dessas "inúmeras" personalidades???

Rui Freitas disse...

Quer-me parecer que o termo “municipal” serve apenas os interesses caciques instalados… não é mais que somente uma forma regional do culto ao chefe instituído pelos regimes totalitários e seus caciques, aqui substituído pelo termo “municipal, que facilmente nos leva a Câmara municipal… ao partido vigente… e finalmente aos seus comparsas. Enfim uma forma bastante subjectiva de mostrar obra feita.

Manuel disse...

Boa Tarde Dr Artur Coimbra.

De facto não existe nenhuma rua com o nome do escritor português na freguesia de Paços. Se existe na localidade de Fafe isso já não sei, mas provavelmente existirá e ainda bem. Agora, creio que não seria demais uma simples rua com o seu nome em Paços uma vez que foi aí que ele viveu durante algum tempo e se auxiliou do seu amigo José Cardoso Vieira de Castro.
Relativamente a sua afirmação e passo a citar: "Só por brincadeira se poderia aceitar o que era sugerido no comentário que acabou por ser removido" não consigo perceber porque a única coisa que eu sugeri foi dar voz ao grandes fafenses, muitos deles desconhecidos do público geral outros nem assim tanto. Talvez não me tenha feito entender correctamente no comentário anterior.
Por fim quero felicitar-lhe pelo bom trabalho que tem realizado juntamente com a sua equipa na programação do cine - teatro (creio que se chama assim dado não ter nome).Finalmente temos oferta de programação cultural de qualidade e diversificada.

António Daniel disse...

Rui, possivelmente, no subconsciente, haja esse impulso. Contudo parece-me que também encontramos razões na forma paternalista como o poder autárquico gosta de se impor. A tradição municipal desde a instauração da República serviu para a autarquia se afirmar como principal praticamente dinamizadora exclusiva das comunidades. Se por um lado a municipalidade serviu e serve como alavanca regional, também funciona como castradora, em virtude da partidocracia.

ARTUR COIMBRA disse...

Respondendo ao comentador Manuel:
1. Há de facto, como já informei, uma rua em Fafe com o nome de Camilo Castelo Branco, desde os anos 80. Em Paços, pelos vistos, não existe. A palavra para a consagração do autor de "Memórias do Cárcere" e de "Amor de Perdição" na toponímia dessa freguesia é da respectiva Junta.
2. A afirmação "só por brincadeira se poderia aceitar o que era sugerido no comentário que acabou por ser removido", não tem nada a ver com este assunto, nem com o que o Manuel disse. Tem a ver com um comentário que foi feito por alguém neste blogue, e que seria retirado pelo administrador.
3. Agradeço as palavras amigas sobre a programação do Teatro-Cinema de Fafe (é este o nome correcto, que consta mesmo da frontaria do edifício desde 1923...). Apesar dos constrangimentos orçamentais, arrancaremos em Fevereiro com uma programação de qualidade, que trará a Fafe nomes importantes sobretudo da música portuguesa, além de dar protagonismo aos valores das artes locais, como é sua obrigação...

Miguel Summavielle disse...

Creio que a tendência para a "Municipalidade" advém da dificuldade inerente à atribuição de um nome.
A dificuldade de agradar a Gregos e Troianos provoca destes contrangimentos.
Parece-me, no entanto, uma boa ideia e valorizaria a nossa identidade.
Refiro, aliás, que foi proposta pelo deputado do CDS-PP - Dr. Ribeiro Cardoso, a criação de uma comissão (no âmbito da Assembleia Municipal) para indicação de nomes para algumas das artérias da nossa cidade, proposta essa chumbada pela maioria Socialista.

Anónimo disse...

Sugestão para uma: Avenida Municipal Dr.Artur Coimbra. Tem classe e tem tudo a ver....

Clara disse...

Normalmente a atribuição de um nome marcante e simbólico (seja ele qual for) advém de uma estratégia de marketing que define o branding do espaço, contemplando o nome, o logótipo e o seu posicionamento. Cada vez mais o marketing saiu da esfera dos mercados económicos, para os mercados culturais, para as cidades. E é isso que falta...Uma estratégia de marketing para Fafe. No seu todo! Não só para os espaços em si, mas para Fafe em geral.

fMENDES disse...

Toda esta temática é controversa, pois a unanimidade que se deseja na identificação de uma artéria, nunca fica isenta de polémica.Assim,relembra-se o exemplo de Espinho,onde as ruas são numeradas e agrupadas entre pares e ímpares.Para os nossos mais notáveis, ficavam os edifícios que necessitam de ser identificados.Dos notáveis que levaram o nome de Fafe mais além,destacam-se desportistas,músicos,homens das artes,anónimos,etc.De todos eles e sem querer ferir susceptibilidades, gostaria de recordar dois exemplos,que embora antagónicos,não deixam de ser admirados pelo seu amor ao próximo; Falo do Dr.Maximino Matos e António Saldanha,aliás já reconhecidos pela sociedade Fafense.