09 fevereiro 2008

Apontamentos acerca do Povoado Arqueológico de Santo Ovídio


Uma das razões para a presença de vestígios arqueológicos no lugar de Santo Ovídio, no nosso concelho, prende-se com a localização próxima da larga e fértil bacia do rio Vizela, com solos de excelente aptidão agrícola, favorável a culturas arvenses, quer de sequeiro, quer de regadio. Entre 1980 e 1984 foram realizadas amplas escavações neste povoado, sobretudo na base da vertente leste do monte. Estes trabalhos, da responsabilidade de Manuela Martins da unidade de arqueologia da Universidade do Minho foram integralmente subsidiados pelo município de Fafe. Embora conhecido desde os finais do séc. XIX, devido à descoberta de uma estátua de um guerreiro galaico em 1876, hoje exposto no Museu Martins Sarmento em Guimarães, este povoado só viria a ser escavado na década de 80 do século XX na sequência da abertura de um estradão na plataforma da base do monte, onde viriam a ser descobertos importantes vestígios arquitectónicos datáveis da última fase de ocupação do povoado. Com excepção da plataforma do topo, hoje muito destruída pela implantação de um santuário e das plataformas de base do monte, não se reconhecem outras plataformas bem desenvolvidas, limitadas por muralhas, como acontece noutros castros do Norte de Portugal. Aparentemente, numa fase antiga, o povoado teria o seu núcleo de ocupação principal na coroa do monte e nas pequenas plataformas limítrofes, certamente circundadas por simples muretes. Os vestígios actualmente conservados não permitem afirmar a existência de uma linha defensiva envolvendo todo o monte, observando-se, apenas, evidências de uma única muralha nos lados oeste, norte e noroeste do monte. As estruturas defensivas não parecem, assim, ter assumido grande importância na vida deste povoado. Este revela, contudo, a particularidade de possuir um fosso defensivo, identificado pelas escavações na base da vertente leste, que poderia rodear total, ou parcialmente, a base do monte. Atendendo à forte inclinação das vertentes, e às reduzidas possibilidades que estas ofereciam para a implantação de casas, podemos considerar que o povoado possuiria, anteriormente ao séc. I a.C.,uma população reduzida.
O conjunto dos vestígios exumados nas escavações realizadas na plataforma de base da vertente Este permitiram evidenciar dois momentos da sua ocupação. Os vestígios mais antigos, anteriores ao séc. I a.C. resumem-se a um fosso defensivo que corria ao longo da plataforma, no sentido N/S e a um caminho de acesso ao povoado, que cruzava o fosso. Os vestígios mais monumentais correspondem a uma segunda fase de ocupação da plataforma, em que se regista o entulhamento e inutilização do fosso, bem como um extenso nivelamento do terreno para assentamento de várias casas, solos empedrados e canalizações. A cronologia desta fase de ocupação, sem dúvida a de maior pujança da vida do povoado situa-se entre os finais do séc. I a.C. e finais do séc. I da nossa era. De facto, a urbanização da plataforma da vertente leste do monte de Santo Ovídio, que se sucede a uma fase em que esta zona era periférica do núcleo de ocupação principal, possuindo apenas interesse defensivo, corresponderia a um momento de expansão e prosperidade do povoado situado na transição da era.

À luz dos resultados das escavações não são perceptíveis vestígios de romanização do povoado.

Salienta-se, em contrapartida, a presença de várias objectos de inspiração e fabrico romano, como fíbulas e alfinetes de cabelo, que testemunham intensos contactos comerciais no período de Augusto.

1 comentário:

Anónimo disse...

Bonito texto sobre o povoado de Santo Ovídio. Não sei como está actualmente a situação deste povoado, mas desde finais dos anos oitenta nada foi feito, levando ao seu esquecimento. O problema não é específico deste povoado. Vejam as pontes romanas espalhadas pelo Concelho, nomeadamente na Ponte do Ranha. Apesar de não ser um monumento grandioso, merece toda a consideração. Aliás, não ficaria mal uma requalificação daquela zona que, julgo eu, ainda possuir empedrado romano.
António Daniel