21 outubro 2013

Esmiuçando as Pândegas Eleições de Fafe

Fafe deve estar uma terra muita perigosa. Percebe-se o medo que as pessoas têm de porem o nome nas pedras que atiram. E atiram muito e à seja ceguinho. O Café Avenida já não é o que era, do Peludo do pé rapado resta o sítio, parece que já não há cavaqueiras, tertúlias, conspirações da velha escola, coragem e honradez. Em Cima da Arcada dar-se-ão com certeza uns peidos valentes, mas pela boca ninguém diz o que pensa. Diz-se mal na Internet, é a modernidade, mas sob anonimato. A opinião política fafense é maneta. Já nem é caso de se atirar a pedra e esconder a mão. Não há mão: os insultos sem assinatura são geralmente tão palermas que só podem ter sido arremessados pelas orelhas. E os "anónimos" escrevem e dizem "eu". Eu, quem? Afinal não é medo, é cobardia.
Mas há uma parte nisto que eu compreendo: em localidades assim pequenas jogam-se muitos empregos quando há eleições. Há quem meta a viola no saco com receio de perder a mama e, nas hostes em frente, outros ficam caladinhos como ratos a ver se desta vez é que lhes calha a abébia. Nunca se sabe para que lado é que a coisa vai cair, não é? Isto passa-se em Fafe, que eu bem vejo, até os donos de blogues habitualmente tão politicamente interventivos fecharam para obras, porque deus e o diabo existe quem creia que sejam a mesma coisa. Ficou o silêncio. O tabu. E deus e o diabo não são a mesma coisa, é preciso que se note.
Portanto vou eu falar do assunto. Chamo-me Hernâni Von Doellinger, sou Bomba, número de identificação civil 03629731 e número de contribuinte 101363109. Estou à vontade. Sou fafense mas não moro em Fafe e tenho seis empregos, cada um deles a render-me acima dos dois mil euros e todos sem possibilidade legal de cortes, o que me garante uma independência e um desafogo financeiro que tomaram muitos. Mesmo os que foram apenas depositantes do BPN.
E vamos falar primeiro dos candidatos à presidência da Câmara, que, se não me engano, eram apenas três: o médico da minha mãe, o filho do Dr. Parcídio e o filho da Nicinha. Os três juntos estão tão preparados para o cargo como eu estou pronto para ser solista de trombone de varas na Filarmónica de Berlim. Entenda-se: isto dos presidentes de câmara e dos solistas de trombone de varas é como os melões - depois de aberto, um dos outros três até pode vir a dar alguma coisa, eu é que não. Eu só sei tocar campainhas de porta.
Dia 29 de Setembro: a eleição resultou praticamente num empate. E deu merda. Deu merda principalmente por causa dos marretas que as forças políticas concorrentes mandaram para as mesas de voto com ordens expressas para tratarem da respectiva trafulhice, cada qual para tratar da trafulhice dos seus, e com o dia pago. Trafulhice? Bagatelas, pequenos truques de ilusionismo, alguns até bastante ingénuos, e que geralmente acabam por anular-se entre si e não dão caso. Deram desta vez. Ignoro se houve má-fé, sei que houve incompetência. São todos culpados, e, antes de todos, os capos atrás dos candidatos de carregar pela boca. Quem não tem culpa é o povo, que está à espera de um presidente de câmara que não há meio de se apresentar ao serviço.
A eleição caiu para o PS. Os Independentes recorreram e estão no seu direito. A margem de vitória é tão mínima, as trapalhadas em eleições, sobretudo nas autárquicas, são tantas, que se impõe uma aclaração. As recontagens de votos, as repetições de eleições estão previstas, fazem parte do jogo político. Não é secretaria, é democracia. Imaginem o que não se estaria a passar em Fafe se o PS tivesse perdido por 17 votos...
Acompanho Fafe sobretudo daqui, deste teclado. Admito que não seja o melhor ponto de observação, mas creio que sei da vida e da política o suficiente para perceber razoavelmente o que se passa na minha terra. Se me provarem que não, amocho, que remédio. Hoje fico-me por aqui. Mas espero voltar proximamente ao assunto, uma, duas ou três vezes, se calhar mais, ainda não sei. Se lhes interessa, conto falar, com algum pormenor, sobre os três estarolas desta eleição - repito, o médico da minha mãe, o filho do Dr. Parcídio e o filho da Nicinha - e até vou indicar o meu candidato para as autárquicas de daqui a quatro anos. Se então ainda houver Portugal.

Texto e foto: Hernâni Von Doellinger
www.tarranego.blogspot.com

3 comentários:

Anónimo disse...

parabéns pelo seu comentário
força assim vale a pena.

Anónimo disse...

Realmente, se ordinarice e burrice pagasse importo...

lamentável...Uma vergonha!

Anónimo disse...

Ó meu senhor, por apresentar esses números todos pensa que tem o rei na barriga que atitude mais mesquinha, grosseira, mal criada mesmo! não deviam permitir este tipo de textos!