28 junho 2011

Deolinda

"Os Deolinda são um daqueles raros casos, na música nacional, de embalagem completa: quando surgiram com Canção ao Lado , há dois anos, não foi complicado a qualquer ouvido com o mínimo de simpatia por pop acústica, fado e/ou música popular portuguesa apaixonar-se por canções cheias de graça como "Fado Toninho", "Fon-Fon-Fon" ou o hino em que se tornou "Movimento Perpétuo Associativo". O laçarote na tal embalagem foi a imagem do grupo, entre o lisboeta castiço e o cartoonesco urbano, traduzido nas inspiradas ilustrações de João Fazenda. Canção ao Lado foi o sucesso que se sabe mas Dois Selos e um Carimbo , garantem o casal Ana Bacalhau (voz) e José Pedro Leitão (contrabaixo) e os seus primos Luís José Martins e Pedro da Silva Martins (os guitarristas irmãos), não teve parto complicado. O truque foi seguir a pista deixada, em Canção ao Lado , pelas mais bucólicas e instrospectivas "Clandestino" ou "Não Sei Falar de Amor", conservando o humor mas evitando aprofundar a veia caricatural. Algures entre o fado e a marcha de santos populares, "A Problemática Colocação de um Mastro", por exemplo, é uma crítica à insegura megalomania portuguesa, mas nunca cai na anedota fácil.
Cada vez mais ampla e segura, a voz de Ana Bacalhau é grande protagonista, mas não a vedeta, de Dois Selos e um Carimbo , quer nos habituais e aperfeiçoados agudos de "Se Uma Onda Invertesse a Marcha" e "Um Contra o Outro", quer nos graves da viciante "Não Tenho Mais Razões". A figura tutelar de Teresa Salgueiro é evocada com rigor e frequência, mas há mais do que os Madredeus de maior placidez em Dois Selos e um Carimbo : "Ignaras Vedetas" e "Fado Notário" remetem para a doçura de certa música mediterrânica; o fado está mais perto do que nunca em "Canção da Tal Guitarra", e o belo trabalho das guitarras tanto lembra pormenores do folclore português como uma noção mais globalizada de world music, onde cabem a América Latina ou o Mali.
Menos jovial e mais reflectido do que Canção Ao Lado , Dois Selos e Um Carimbo revela-se um disco sério, mas não sisudo, abençoado pela sensibilidade de quatro músicos que continuam a respeitar a sua própria natureza, simples e detalhada, escolhendo não atafulhá-la de instrumentos ou acessórios supérfluos. Temos banda!"

Texto de Lia Pereira no Jornal Blitz

P.S.- A não perder o concerto gratuito em Fafe no dia 9 de Julho integrado nas festividades concelhias em honra da Nossa Senhora de Antime.

8 comentários:

Pedro Sousa disse...

Boa aposta!

Que parva que eu sou disse...

Gratuito? Eles não recebem é?

Anónimo disse...

que parvo que és... gratuito para a população fafense!!

Que parva que eu sou no que disse...

Gratuito para a população fafense ?? Então quem paga?

Fafense disse...

Não me parece mal investido este dinheiro!! Se fosse o Iran Costa, o Quim Barreiros ou o Roberto Leal já não diria o mesmo. Apesar da redução de 30% do orçamento das festividades deste ano, parece-me que se consegue manter (ou até elevar) a qualidade das festas da Sra de Antime.

Anónimo disse...

É um exemplo que com pouco dinheiro pode-se fazer coisas melhores...gostei da escolha e da mudança do dia do espectáculo principal...

Anónimo disse...

costumava ser um crítico com tudo que era programação musical em Fafe, refiro me a programação das festas, programação do teatro cinema entre outros.

Mas desta vez tenho que dizer o seguinte esta é sem duvida uma das melhores bandas da actualidade, que melhor representa Portugal.

Desta vez a organização esta de Parabens .....

António Daniel disse...

O anónimo das 11.10 diz que «costumava ser um crítico com tudo que era programação musical em Fafe». Peço desculpa, o seu desabafo está desacreditado à partido:
1. Dizer que criticava «tudo» mostra que critica por diversão;
2. Pela diversidade de espectáculos que passou pela sala de cinema, o seus gostos são extremamente limitados;
3. Pelo simples facto de um, e só um espectáculo, ser do seu agrado não se segue que a organização possa ser merecedora de «parabéns». Não comungo da sua perspectiva. Em Fafe é assim, apetece-me criticar de tudo, logo critico tudo.