06 dezembro 2010

Povoado Castrejo Carece de Intervenção Urgente


As ruínas do Povoado Castrejo de Santo Ovídio, tantas vezes divulgadas em publicações de índole turística, estão novamente entregues ao abandono, sujeitas à acção negligente dos humanos e dos factores naturais de erosão.
A ponta do véu foi levantada nos anos 80 do século passado, altura em que as escavações arqueológicas trouxeram à luz do dia um conjunto de ruínas, que apenas correspondem a uma ínfima parte das reais potencialidades do Monte de Santo Ovídio, onde no decorrer do 1º milénio a.C. foi implantado um Povoado Castrejo.
Estamos perante um testemunho Proto-Histórico, posteriormente romanizado, que bem pode ser considerado o “Berço” da cidade de Fafe, um Monumento classificado a nível nacional, que já viu a sua área de protecção, várias vezes agredida, usurpada e ultimamente até interditada, por quem não tem qualquer direito legal, a não ser a obrigação de preservar aquele Património como cidadão. Este é o nosso dever consagrado na Lei.
O “Castro de Santo Ovídio” é mais um exemplo do abandono de tantos outros sítios arqueológicos que “agonizam” por esses pais afora, onde normalmente os interesses económicos e um progresso muito contestável apagam páginas importantes da nossa identidade Histórica.
O Povoado de Santo Ovídio não pode continuar a ser menosprezado. É um Imóvel de Interesse Publico que deve ser respeitado, conservado e valorizado.
Está na altura de fazer ali uma intervenção compatível com a importância deste testemunho maior da ocupação humana ancestral, de uma terra que pouco tem investido no seu/nosso Património Arqueológico.

Jesus Martinho

9 comentários:

António Daniel disse...

Está a ver como, com vontade, é possível fazer alguma coisa de útil? Não seria interessante construir no local, a par com a ruínas, uma espécie de réplica? Por que não até de forma digital? Depressa se pagaria o investimento com a possibilidade de visitas de estudo por parte dos «nossos» putos. Há terras onde a arqueologia tem pouca relevância em termos de achados mas desenvolvem um trabalho meritório em termos de divulgação. Já fui a algumas com os meus filhos em que se fazia simulações de armas, utensílios e em que os próprios construíam motivos em barro próprios da época castreja. Ainda num fim-de-semana fui ao museu de Odrinhas (http://www.museudeodrinhas.com/, perto de Sintra, que, pese embora ser uma estrutura já com alguma dimensão, possui motivos e actividades interessantes que podiam ser aplicados noutros locais. Se os recursos humanos existem e bons, como é o caso de Jesus Martinho, então por que não aproveitar? Mas é sempre a mesma merda. Tem sempre que existir alguém que, de forma desinteressada, chame atenção sobre estas coisas. Já no caso do cine-teatro aconteceu o mesmo. Caso não existisse alguém que, os nossos dirigentes políticos, em todo o espectro, nunca foram capazes de ter uma ideia um pouco diferente, pelos menos uma simples.

António Daniel disse...

Onde diz «Caso não existisse alguém que, os nossos dirigentes políticos, em todo o espectro, nunca foram capazes de ter uma ideia um pouco diferente, pelos menos uma simples.» deve ler-se «Caso não existisse alguém que lute por estas causas, ao povo de Fafe ser-lhe-ia coartado o direito de cultura. Os nossos dirigentes políticos, em todo o espectro, nunca foram capazes de ter uma ideia um pouco diferente, pelos menos uma simples.»

Pedro Sousa disse...

Não vou fazer mais nenhum comentário, vou apenas convidar a visitar as ruínas encontradas em 'Sendim-Felgueiras'... vale a pena visitar. Em Fafe dá a sensação que os tipos inteligentes e cultos são sempre os mesmos, mas, depois, a realidade não passa de excursões... e festas que permitam dar nas vistas. Afinal, o que é a arte? (Essa treta interessa a alguém?) É lamentável que se continue a pensar com o estômago e não com a alma...

Alexandre disse...

Sejamos realistas. Se este executivo nada fez nestes anos todos, não é agora que vai mudar a sua mentalidade e forma de actuação em relação ao nosso passado histórico.
Por outro lado, a oposição camarária também nada diz relativamente a isto.
De facto, este Blog tem lançado questões muito pertinentes para a discussão, o que prova que na sociedade civil existem muita e boa gente com ideias bastante razoáveis e baratas que poderiam ser postas em prática. Mas, em todas as ideias levantadas e discutidas, nenhuma (que me lembre) foi avante. Por isso, este povoado castrejo vai ficar exactamente igual a não ser que hajam pessoas como o Jesus Martinho que se preocupam com estas questões.

António Daniel disse...

Alexandre, permita-me discordar de si. este executivo tem feito obra na vertente histórica. É correcto pensarmos nas iniciativas positivas como é o caso dos museus, mais particularmente no museu da emigração. e na requalificação de certos espaços que nos dizem muito. Agora, isso não impede que façamos correcções. O caso do povoado castrejo não é algo que dê visibilidade (que os políticos e as populações tanto gostam). Por esse motivo, nada se tem feito. Mas, para quem não faz distinções qualitativas mas simplesmente olha para a importância do património, evidentemente que urge fazer algo. E como todos sabemos, não será nada de transcendente em termos de custos. Basta imaginação.

António Daniel disse...

Já agora, Alexandre, ainda bem que escreveu sobre a oposição que, sobre estes assuntos, pouco ou nada dizem. A perspicácia de antecipar problemas e de apresentar soluções é que preparam o caminho do poder. O «olho de lince» é muito importante. Feliz ou infelizmente, conforme as conveniências, nunca aconteceu em Fafe.

Alexandre disse...

Quando disse passado histórico, referia-me ao passado arqueológico. Obviamente que a autarquia fez coisas interessantes, como o Museu da Emigração, por exemplo, embora seja um projecto ainda embrionário. Há técnicos superiores competentes no município mas muitos deles andam a fazer certas funções fora do seu âmbito. Penso que deve ser o caso do Jesus Martinho que deveria ocupar-se, apenas, na dinamização da arqueologia em Fafe.

Jesus Martinho disse...

Caro Alexandre: agradeço muito a sua "promoção"... mas na realidade sou um "simples" assistente operacional ao serviço do Múnicípio. Numa palavra não sou técnico superior.
Apenas tento alertar para questões preocupantes que, sendo menosprezadas, podem empobrecer o futuro. Não estou contra ninguém, apenas defendo aquilo que é legitimo e que a própria Lei delega ao cidadão. A minha larga e provada experiência de 30 anos a trabalhar em Património Arqueológico incutiram-me uma paixão irredutivel pelo nosso Património Cultural, cada vez mais menosprezado.
Claro que é o poder político o grande responsável por esta situação... mas e nós? cidadãos,cada vez mais contribuintes... não teremos o direito de reinvindicar por uma Cultura preservadora da nossa identidade Histórica ou Arqueológica?
Agradeço profundamente o grande incentivo dos generosos comentários deste post. Sei que a batalha é dura e por ventura inconsequente...até perigosa... contudo posso garantir que jamais calarei a minha voz de revolta contra a apatia dos que deveriam estar na linha da frente pela salvaguarda do nosso Património Cultural. São eles que fazem as Leis... e as Leis,não são para cumprir?...

Miguel Summavielle disse...

Caros Alexandre e António Daniel,
Permitam-me reproduzir as medidas 8 e 9 da secção "Cultura" do nosso programa eleitoral (Independentes Por Fafe):
8. Investir na recuperação do núcleo arqueológico do “Castro de Santo Ovídio”, dotando-o de um centro interpretativo.
9. Criar um protocolo com a Universidade do Minho no sentido de assegurar o estudo e tratamento de todo o património arqueológico do Concelho, definindo um plano de investimento a uma década.
Em 2008, como o Jesus Martinho poderá confirmar, a Associação Cívica "Fafe Presente", organizou uma conferência precisamente sobre o tema da preservação do nosso património, onde a temática foi abordada e apresentadas algumas ideias muito interessantes.
Curiosamente, o Município não se fez representar. Talvez seja por isso que as coisas estão como estão...