A ministra da Educação foi a Fafe participar numa cerimónia de entrega de diplomas do programa Novas Oportunidades. Estas cerimónias são, tal como as cerimónias de entrega do Magalhães, meras acções de propaganda do Governo. Só que por vezes a propaganda corre mal. Basta que um sindicato ou um partido político organize uma manifestação hostil para o efeito propagandístico funcionar ao contrário. Desta vez, em Fafe, a ministra da Educação deparou-se com uma manifestação hostil de estudantes. O carro ministerial apanhou com uma chuva de ovos. Fafe renovou a sua tradição de justiça popular.
Nas aulas de educação cívica, os alunos portugueses aprendem a condenar o racismo, a proteger o ambiente e a reciclar. Estou certo de que também lhes explicam a importância da alimentação saudável e de uma vida sexual descomplexada. Não sei se existe uma aula específica que condene o arremesso de ovos às outras pessoas, mas suponho que a ideia geral de que devemos respeitar os outros esteja implícita em muitas das matérias leccionadas. Com tanta educação, o que terá levado os alunos de Fafe a uma prática que contraria a teoria ensinada nas aulas de educação cívica? Bem, a educação pelo exemplo é muito mais eficaz do que a educação teórica. As manifestações de ódio, por vezes infantil, dos professores contra a "sinistra ministra" influenciaram muito mais os alunos do que as aulas de educação cívica.
A participação de menores nas lutas políticas dos adultos nada tem de inocente. Os menores são influenciáveis e voluntariosos, logo são manipuláveis. Os menores podem fazer aquilo que os adultos, por razões tácticas, não podem fazer. Por exemplo, atirar ovos ou fechar escolas a cadeado. Os mecanismos pelos quais a manipulação ocorre também são conhecidos. Os protestos dos alunos, que emergiram um pouco por todo o País esta semana, resultam da imitação do comportamento dos adultos, do incitamento implícito dado pelos professores e da manipulação intencional exercida pelas juventudes partidárias que infiltram as associações de estudantes.
In “Diário de Notícias” 15/11/2008
João Miranda, Investigador em Biotecnologia
15 novembro 2008
Os Ovos de Fafe
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2 comentários:
Deixe-me dizer-lhe que o texto escolhido é, no mínimo, infeliz. Uma opinião de um invetigador em biotecnologia que não faz a mínima ideia do que fala. O comportamento moral nunca é ensinado como se ensina o 2+2=4. O exemplo é de facto importante. Mas mais importante é o exemplo dado em casa, por todos aqueles que mais influenciam os filhos. Será que o dito investigador não se lembra do epíteto «geração rasca» lançado por Vicente Jorge Silva nas páginas do «Expresso» quando mostraram os «traseiros» a Manuela Ferreira Leite em plena Universidade Nova? Aí não exstia qualquer reivindicação dos professores, não existia qualquer problema ao nível do sistema educativo. A luta tiha um objecto: as propinas. Portanto, pronunciar qualquer tipo de intenção, implícito ou explícito, mostra que, por vezes, o politicamente correcto está longe de ser «correcto», moralmente falando. Agora, se o investigador de células não entende nada de pessoas, ninguém tem culpa.
Obviamente que qualquer tipo de violência é condenável, mas daí encontrarmos razões de forma leviana e pouco escorreita, a distância vai muita. O blog é, obviamente, seu. É livre de colocar o que bem entender, mas também me sinto na liberdade de colocar em causa ideias que consideram ilegítimas e forçosamente levianas.
António Daniel, obrigado pelo seu comentário e pelas críticas efectuadas. Serão sempre benvindas e tidas em conta.
Este foi um texto retirado da comunicação social falando especificamente no assunto dos ovos de Fafe.
Não queremos tecer qualquer consideração pessoal sobre este assunto no blog e este texto não reflecte a opinião consensual das pessoas que fazem o blog. Apenas se pretende reunir um conjunto de textos com diversas opiniões sobre o tema que têm saído na comunicação social.
Se, por acaso, conhecer uma crónica abordando o caso de Fafe pode enviá-la para o nosso email que depois será publicada.
Cumprimentos
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