Salas de espetáculo não trabalham em rede, apesar das experiências positivas. Equipamentos culturais atraem públicos dentro e fora do distrito.
As salas de espetáculo do Minho competem numa proximidade vigilante. A meio caminho entre o Porto e a Galiza, ensaiam programações concorrentes e conquistam espetadores, dentro e fora da região.
Programação diferenciada, bilhetes a preços competitivos e uma rede viária eficaz justificam a coexistência, num espaço geográfico tão pequeno, de estruturas como o Theatro Circo, de Braga, o Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, a Casa das Artes de Famalicão, a Casa das Artes de Arcos de Valdevez e o Teatro - Cinema de Fafe. "Neste segmento, somos os mais competitivos do país", garante Álvaro Santos, diretor da Casa das Artes de Famalicão.
"O espaço é pequeno, mas há grande mobilidade e existe muito público potencial", contextualiza Carlos Gomes, professor do Departamento de Ciências Sociais da Educação da Universidade do Minho. "Há uma dinâmica muito forte", explica.
Artur Coimbra, diretor do Teatro-Cinema de Fafe, garante que a sala, com capacidade para 300 pessoas, se fosse maior lotaria quando há espetáculos com nomes conhecidos da música portuguesa. Os ingressos a 10 euros e os "artistas que os fafenses só conhecem da televisão" garantem casas cheias.
Se as boas estradas levam quem gosta e pode a consumir espetáculos a outras paragens, também trazem outros, maioritariamente da Galiza e da Área Metropolitana do Porto, mas não só. No Centro Cultural Vila Flor (CCVF) "58% dos visitantes são de fora de Guimarães, sendo que 40% são da Área Metropolitana do Porto", contou José Bastos, diretor da casa. "O público movimenta-se numa plataforma muito além do Quadrilátero, recebemos muita gente que vem do Porto, de Espinho", sublinha, também, Álvaro Santos, de Famalicão.
"Mostramos que há público e que mesmo com um orçamento pequeno também se faz boa programação", diz Nuno Soares, programador da Casa das Artes de Arcos de Valdevez. Os "Sons de Vez!", Mostra de Música Moderna Portuguesa, na 11.ª edição e a decorrer até 23 de Março, chama gente de Aveiro, Braga, Guimarães, Porto e Galiza, exemplifica.
"A proximidade só não é boa se não houver uma linha de programação claramente definida", explicou, José Bastos ao JN. "Os públicos circulam... E se a linha for bem marcada, a fidelização acontecerá", assegura, tendo em mira os 2,5 milhões de potenciais consumidores das regiões vizinhas
À margem deste poder de atração ficam os alunos da Universidade do Minho, que passam os anos de curso praticamente confinados ao campus. "Vão pouco à cidade, apesar de terem mais disponibilidade de tempo, nalguns casos financeira, e capital escolar", sinaliza Carlos Gomes.
Ainda assim, e depois de "apertados entre duas capitais europeias", da Cultura, Guimarães, e Juventude, Braga, os diversos espaços conseguiram audiência que não merece queixas. "Prevíamos que fosse uma dificuldade natural, porque a oferta cultural disparou e a maior parte dos espetáculos foram a preços reduzidos ou gratuitos", explica Rui Madeira, administrador executivo do Theatro Circo de Braga. "Mas os números foram magníficos, tendo em conta não só as capitais europeias como o facto de Braga ser uma das regiões onde o desemprego disparou", contou.
Existem equipamentos, saberes, recursos e projetos artísticos complementares, mas a lógica no Minho é concorrencial. "Deviam trabalhar em rede porque existem condições objetivas, mas é cada um por si", constata Carlos Gomes, que coordenou uma investigação sobre as dinâmicas culturais de Braga. Fatores culturais, que favorecem o individualismo, a pressão para a apresentação de resultados e a lógica competitiva em relação aos vizinhos explicam, na opinião do docente universitário, a falta de coproduções e a ausência de trabalho em rede.
Álvaro Santos, da Casa das Artes de Famalicão, é entusiasta do trabalho em rede e dos projetos desenvolvidos em parceria. "Houve experiências que correram muito bem, mas todos temos de querer", disse ao JN, lembrando os projetos desenvolvidos em 2009 e 2010.
In www.jn.pt
Maria Cláudia Monteiro
3 comentários:
Guimarães e Braga não se entendem. Andam em competição desde sempre.
Fafe ainda é olhado como um meio rural, atrasado.
O quadrilátero urbano é só fachada.
O Minho é isto. Pequenos feudos.
Guimarães teve a capital europeia da cultura. O que ganhou Fafe? Nada!
Ou seja, se assim se continua a trabalhar pelo nosso Minho, mais vale Fafe também seguir o seu caminho já que a região pouco se parece importar com o nosso concelho.
Tem toda a razão, anónimo. É o minifúndio, sabe. A conjugação de esforços levar-nos-ia mutio longe porque se aproveitava as sinergias de uma UM e de outros centros de investigação, já para não falar da cultura. Quanto a Fafe, disse tudo. Infelizmente muitos ainda olham para nós como um Concelho rural, no sentido pejorativo do termo.
Não seria benéfico em vez de termos não sei quantas juntas e câmaras numa região que funcionam mal, haver uma reorganização autárquica a sério que pudesse conjugar as políticas públicas destas cidades?!
Para que serve a Adrave, as associações comerciais, a Sol do Ave e afins?!
Chamem-lhe regionalização, chamem-lhe reforma administrativa, chamem-lhe o que quiserem...
Mas continuar a trabalhar isolados, sem trabalho em rede, é andar atrás daquilo que se faz na europa muitos anos luz.
Enviar um comentário