
O concelho de Fafe é detentor de um conjunto de vestígios arqueológicos dignos de registo. Da Pré-história à Idade Média, são muitos os remanescentes materiais da passagem e fixação humana dispersos pelas 36 freguesias que constituem este Município.
Nos perímetros urbanos, mais sujeitos à intervenção do homem, a procura do desenvolvimento nem sempre respeita o Património, sobretudo o Arqueológico, mais sensível e tantas vezes depreciado.
O desconhecimento é, talvez, o maior inimigo deste legado ancestral que todos temos o dever de salvaguardar, mas que, infelizmente poucos valorizamos.
Em Portugal, falta ainda democratizar a Arqueologia.
A cidade de Fafe tem-se expandido e os arrabaldes rurais deram lugar a novas urbanizações. Também aqui o Património Arqueológico pagou caro o preço do desenvolvimento com a destruição de alguns vestígios.
Apesar desta exacerbada ocupação espacial, o perímetro urbano de Fafe, conserva ainda algum oásis arqueológico de grande valor científico e patrimonial. O Povoado Castrejo de Santo Ovídio, às portas da cidade, é sem duvida o seu maior bem arqueológico. Mas, anteriormente, aqui se fixaram comunidades agro-pastoris, construtores de complexas estruturas funerárias megaliticas do final da nossa Pré-história, entre o III e o II milénio a.C.
Folheando velhos jornais fafenses encontrei uma notícia do século XIX que relata a existência de um tumulo megalítico na zona da Cumieira, entretanto destruído (Jornal “O Desforço” de 23 de Maio de 1883).
Já no séc. XX o Cónego Joaquim Leite de Araújo, grande apaixonado pala arqueologia, por várias vezes referiu a importância histórica dos altos de Freiras e S. Jorge. Foi precisamente neste local que em Março de 2003, arqueólogos da Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho e eu próprio identificámos uma necrópole megalítica com cinco monumentos (mamoas). Dois destes monumentos estão localizados junto da Av. do Sol Poente, em plena malha urbana, uma delas mesmo na confluência do referido arruamento.
Na altura ficámos perplexos com o facto daquelas frágeis estruturas terem chegado aos nossos dias, numa área de forte pressão urbanística. Felizmente estas mamoas resistiram à passagem de vários milénios e lá estão à espera de ser tratadas com a dignidade que merecem.
São estes monumentos funerários enquadráveis na nossa Idade do Bronze (III e II milénio a.C.) e muito provavelmente o último testemunho da ocupação Pré-histórica na actual cidade de Fafe.
Jesus Martinho