Permitam-me que comece por explicar que, independentemente do número de textos que aqui forem publicados em meu nome, farei questão de
enaltecer as qualidades desta bela cidade que considero como o meu lar. Mais do
que o local onde habito, mais do que o local onde nasci, é verdadeiramente o
meu lar. Para questões políticas ou de problemas que eventualmente surjam na
cidade, entendo que existem pessoas bem mais informadas do que eu, e deixo
então essas crónicas aos competentes da matéria.
Agosto, se para muitos é apenas sinónimo de férias, para
todos os fafenses também representa emigrantes.
Para muitos implica uma maior confusão nas estradas, nos supermercados,
nas ruas e o caos total nas feiras semanais.
Principalmente, a língua francesa faz competição com a língua de Camões
nos passeios, a cidade ganha movimento como só este mês conhece, os cafés ficam
lotados, a vida noturna agitada e em todo este cenário os comerciantes e
empresários ficam agradecidos.
Há no entanto o outro lado, a genuína faceta de quem parte
para terras longínquas e regressa durante umas semanas ao local que chamam “a
terra”. Sim, porque passam anos a viver em países distantes, criam famílias e
grupos de amigos, mas para todos, esta é a terra onde o coração diz que
pertencem.
Atravessamos um período a que chamam de “novos emigrantes”,
jovens bem formados que procuram uma qualidade de vida e reconhecimento que
infelizmente o nosso país não proporciona, mas não é destes que falo. Falo sim,
da geração que partiu em décadas passadas e que se concentra essencialmente em
França e Suíça, onde lá mesmo criaram comunidades portuguesas para enganar as
saudades. Estes emigrantes, que enchem a mala do carro de sacos e bagagens, que
atravessam países atolados num carro, que passam dias, semanas ou meses a
contar os dias para regressarem a Fafe . Regressar a Fafe... regressar à casa
que conta muitas vezes toda a história de uma infância longínqua, abraçar saudosamente a família que por cá
fica, sentar pela primeira vez na mesa para ser servido um jantar especialmente
feito para quem chega de uma longa viagem, ir à igreja da aldeia e ouvir uma
missa na língua materna, entrar no café e rever as caras conhecidas e pedir o
primeiro café. Isto é a maior compensação que um emigrante pode ter, isto é o
verdadeiro regresso.
O tempo passa a voar para quem tem os dias contados e
depressa começa a aproximar-se o dia da partida. O transito na cidade começa a
regressar ao fluxo normal, o número de pessoas das ruas diminui e a cidade
começa a perder a energia que a acompanhou nas últimas semanas. Despedem-se com
um “até para o ano” e a cidade responde “assim será, cá ficarei à espera”.
Hoje, ao fazer a autoestrada de Fafe para o interior do
país, foi notória a quantidade de automóveis com matrículas francesas pelas
quais passei, e não consegui deixar de imaginar a tristeza com que muitas
dessas pessoas regressam ao país onde trabalham. Perdão, elas não regressam a
esses países, elas vão para esses países, porque o verdadeiro regressar, regressam
ao nosso, e regressam a Fafe, à terra...
A todos que irão embarcar em milhares de quilómetros pelo
asfalto, só posso desejar o seguinte: Façam boa viagem.
Clara Magalhães
PS: Apesar de viver em Fafe, por vários motivos ausento-me
da cidade por períodos de tempo significativos, embora nada comparável a estes
emigrantes. Ainda assim, não consigo deixar de esboçar um sincero sorriso quando chego à minha terra, seja quando venho na
estrada que liga a Guimarães e avisto o monte de Santo Ovídio tão familiar ao
meu ser, seja quando regresso pela autoestrada e vejo a sinalização a indicar
“Fafe”. Se me comovem estes pequenos regressos, a um emigrante deve ser uma
sensação colossal. Dito isto, fica aqui o meu sincero agradecimento por
voltarem todos os anos, mas acima de tudo, pela coragem de quando partem.