Fafe é daquelas terras que, embora debruçada no provincianismo da alma portuguesa, ainda é capaz de nos surpreender. A dialéctica que se imprime no dia-a-dia caracteriza-se por uma óbvia dicotomia: por um lado o «foda-se» e o «caralho» são marcas indeléveis do quotidiano, por outro lado, no sempre presente diminutivo encontramos a outra face da moeda. Expressões como «queridinho», «pequeninho», «nelinho», «nelinha», «manelinho», «vinhinho», «comidinha», enquadram-se numa vertente maternal que nos enternece. É também uma marca fecunda o momento público que oferecemos aos nossos mortos. Em pontos centrais da nossa cidade encontram-se as devidas homenagens aos nossos entes queridos que partem. Contudo… nunca se esquece de colocar o devido epíteto público, vulgo alcunha: morreu X (esposo da piolhosa donzela da rua…). Curiosamente, é este rótulo eterno que se atribui às pessoas que mais nos cativa e mais nos identifica. Mas as ambiguidades não se ficam por aqui. Somos capazes de dizer «aquele filho da puta é um gajo porreiro», ou «aquele caralho é inteligente». É no acto de fala que dizemos tudo aquilo que somos e sentimos em relação a Fafe: um misto de ternura e repulsa. Vence a ternura.
António Daniel