Mais do que todas as mudanças na sociedade actual, preocupa-me hoje em dia, haver mais de 50% de jovens até aos 24 anos que são “vítimas” dos recibos verdes, de contratos temporários, salários baixos e vínculos laborais precários. Mais do que tudo, preocupa-me que as novas gerações, que são o futuro do nosso país, vivam a angústia de não saber se amanhã terão emprego, alternando constantemente entre o trabalho precário e o desemprego, numa situação de permanente instabilidade que não permite organizar com segurança a vida profissional, nem a vida pessoal e familiar.
O desencanto e a injustiça que sentem é pouco ou nada combatido pelas políticas nacionais e locais que, de uma maneira geral, vão pouco de encontro às expectativas dos mesmos.
Na cidade de Fafe não existem, por exemplo, espaços desportivos gratuitos ao ar livre. Já nos meus tempos de liceu, nos queixávamos disso. Ao fim de semana, variadas vezes, trepávamos as redes da secundária ou do ciclo e aí fazíamos as nossas partidas. Passou-se mais de uma década e o cenário mantém-se.
O cinema desapareceu! Espaços radicais não existem!
Os jovens não têm um espaço onde possam criar, divulgar, interagir e actuar livremente sem terem que andar a pedir autorizações a terceiros.
Existe um edifício com dezenas de associações e não existe uma Casa para a Juventude.
Há mais cultura actualmente e a reabertura do cine teatro permitiu haver concertos de bom nível em Fafe, o que raramente acontecia à pouco tempo atrás.
Inúmeros exemplos poderiam ser dados que justificam o porquê deste distanciamento entre Fafe e a sua juventude.
Os jovens, no fundo, estão desencantados com as opções políticas que, desde sempre, nortearam os destinos de Fafe. Ao não ser proporcionada à juventude meios de criação artística e cultural independente, espaços desportivos e de lazer devidamente enquadrados na cidade, formação ou apoios mais consistentes a diversos níveis, vamos ter cidadãos, no futuro, pouco participativos, pouco dinâmicos e pouco empenhados na transformação da sociedade.
Temos uma sociedade fafense conservadora co-responsável, também, pelo marasmo que se vive ao nível das ideias. O que não se pode admitir é que este conservadorismo alastre desde a base até ao topo da pirâmide.
Falamos cada vez mais em iniciativa privada. A iniciativa privada é essencial para o país e para Fafe. É essencial haver gente que acredite no dinamismo e na criatividade da juventude.
Hoje em dia, é possível ouvir música ao vivo e outras abordagens artísticas em alguns bares fafenses. É essencial não criar entraves para que a iniciativa privada se possa desenvolver cada vez mais. Há que apoiar e incentivar novas formas de expressão cultural.
Há que inverter as opções e apostar numa política sustentada e duradoura que interligue a educação, a juventude e a cultura. Não quero continuar a ver Fafe como uma região cada vez mais pobre, deprimente, de desempregados e com baixo nível cultural.
Neste aspecto, as juventudes partidárias têm que se fazer ouvir. Não basta enunciar um conjunto de medidas que são, meramente, um manifesto de intenções. Há que actuar, denunciar e ter coragem para propor acções ousadas que a juventude fafense já reclama há muito tempo.
Como se não bastasse terem que encarar o futuro com tantas incertezas e instabilidades no mercado laboral, é profundamente injusto quando uma cidade não propicia à sua juventude as mesmas oportunidades que outros concelhos.
Pedro Fernandes