30 agosto 2013

Pedra no Sapato

A vantagem de se estar longe de Fafe é ter a independência suficiente para escrever sobre as eleições autárquicas sem hipotecar um lugar na câmara, num colégio ou num escritório de advogados. Muitos não podem dizer o mesmo e por isso é que andam a abanar a bandeira a favor deste ou daquele por promessas futuras ou imposições do presente profissional. Porque, infelizmente, em Fafe, o mérito ainda não está à frente da "cunha" e as ideias políticas facilmente se confundem com questões pessoais. Mas talvez deixe este assunto para outra altura…
Voltando ao título do texto... pedras no sapato… quem as não tem?!
Raul Cunha herdou a “pedra” Antero Barbosa, depois de um conflito interno dentro do PS. Não sei quem teve razão ou deixou de ter. O que me parece óbvio é que Raul Cunha é uma terceira escolha. Nem sequer me interessa se ele é do Toural ou da Granja. Dizem que é um bom profissional e foi um bom vereador na área social. Será assim tão bom na gestão do urbanismo ou no investimento público? Com Antero, o PS venceria com maior ou menor facilidade. Assim, arrisca-se a perder a maioria absoluta.
Eugénio Marinho tem a “pedra” chamada Vítor Silva. O delfim e número dois do candidato do PSD mudou-se para a lista de Parcídio. O PSD perde um homem conhecedor da realidade interna do partido e dá trunfos importantes ao rival. Apesar dos contributos de Marques Mendes e de uma lista renovada, parece-me que será difícil o PSD ficar acima do 3º lugar nas opções de votos dos fafenses. Passos Coelho também não ajuda nada…
Parcídio Summavielle perde Cláudia Carvalho que sempre o apoiou e deixa Leonel Castro, habitual delfim, num lugar não elegível para a vereação mas coloca a máquina de Fornelos a olear para si - Vitor Silva e, principalmente, Rosa Pinheiro. 
A dama de ferro de Fornelos, como já li por aí algures, é uma líder e não é mulher habituada a receber ordens. Apesar da mesma não ser, formalmente, já a diretora do colégio, toda a gente sabe que é ela quem manda! E dentro do executivo certamente que vai ser por causa dela que Parcídio começará a ter problemas. Já agora, será ela a vereadora da educação se Parcídio vencer? Irá gerir as escolas públicas concelhias quando é ela que manda na escola particular de Fornelos? Que interesses estão por detrás disto? Rosa Pinheiro é útil a Parcídio para as eleições mas para o executivo vai ser um problema, se ganhar, o que não acredito. Outra “pedra no sapato”.
Perdoem-me Leonor Castro e Deolinda Nogueira. Não as conheço suficientemente bem para opinar sobre as mesmas, nem sobre a sua equipa. Têm a minha simpatia por irem a votos num combate tão desigual e num concelho que lhes é politicamente desfavorável.
Obviamente que estas opiniões são mais fáceis de ter quando se está fora, sem necessitar de um lugar em Fafe aqui ou acolá para “ganhar a vida”. Se necessitasse de um “tacho”, estava era caladinho, como muitos que eu cá sei…

Rui Silva

28 agosto 2013

Os Independentes

A Constituição de 1976 permitia candidaturas de independentes só para as Assembleias de Freguesia. Posteriormente, a Lei Eleitoral Autárquica possibilitou candidaturas não partidárias para as Câmaras e Assembleias Municipais. Creio, sem certeza, que a primeira vitória camarária de independentes foi em Alcanena.
Nos concelhos de maior dimensão, conhecemos os casos de Fátima Felgueiras, Isaltino de Morais e Valentim Loureiro, "forçados" partidariamente a concorrer sem sigla partidária e com sucesso.
Mas nada se compara a estas eleições de 2013. Para além de candidatos que no fundo aspiram a ser vereadores e há vários, de Faro a Braga, passando por Cascais, Santarém e Coimbra, há candidaturas que despertam verdadeiramente a presidência de Câmaras em concelhos com muita população. É o caso das três maiores Câmaras a seguir a Lisboa (que terá uma nota final) - Sintra, Vila Nova de Gaia e Porto, bem como de Matosinhos, Oeiras, Gondomar e Guarda entre outras.
Creio que das 308 há cerca de 80 candidaturas não apresentadas por partidos, o que representa cerca de 25% dos concelhos e perto de 33% dos eleitores. Estamos, presumo, perante um novo paradigma, que surpreendeu as direções do PPD/PSD e do PS.
As escolhas dos candidatos foram entregues às concelhias, com alguma intervenção das distritais e pouca das nacionais, o que irá levar a repartição de responsabilidades no rescaldo eleitoral.
A noite eleitoral vai ser um pouco diferente do habitual. Pode ocorrer que perto de um milhão de cidadãos passem a ter como presidente de Câmara um independente, o que presumo será único na Europa ocidental.
Não se trata de um movimento Pepe 5 Estrelas, pois não há articulação política entre os concorrentes, que convém referir não serão 80 mas milhares, se somarmos as listas para as Câmaras, as Assembleias Municipais e as Freguesias.
Entendo que é um aviso sério ao nosso sistema partidário, que provavelmente se entrincheira na manutenção da atual Lei Eleitoral para a Assembleia da República, não admitindo a hipótese de círculos uninominais.
Em Lisboa não há candidaturas independentes. Relembro que, nas penúltimas eleições, Carmona Rodrigues e Helena Roseta obtiveram 28%, e o BE foi a jogo com Sá Fernandes, o que totalizou cerca de 34%.
Mas António Costa antecipou-se e acordou com Helena Roseta e Sá Fernandes, que concorrem mas na sigla PS.
Estamos perante as eleições autárquicas mais atípicas da nossa curta história eleitoral.

In http://expresso.sapo.pt/os-independentes=f827729#ixzz2dGPVOmx4
Rui Oliveira Costa

27 agosto 2013

Medidas Fundamentais Para o Próximo Mandato


 Respondendo ao desafio lançado pelo Eng. Ricardo Gonçalves num comentário a um texto que escrevi sobre a exploração da Sra. de Antime para fins políticos, indico algumas das medidas que julgo serem fundamentais implementar por quem ganhar as próximas eleições autárquicas:

1. Fazer cumprir a PPP com as Águas do Noroeste, ampliando a rede de saneamento do Concelho. Se possível (há uma limitação decorrente da PPP e da candidatura a fundos estruturais), aumentar o nível de investimento, ainda que tal signifique endividamento municipal.

2. Procurar investimento para o Concelho, estabelecendo uma rede de contactos com a AICEP, CIP, AEP, Consulados, Ministério da Economia, entre outros, manifestando o interesse em analisar perspectivas de investimento e indicando a disponibilidade para parcerias em projectos. Preparar um projecto de ampliação da ZI do Socorro com execução faseada e em função da procura. Publicitar na rádio, tv e em painéis colocados nas vias de comunicação que nos circundam, as vantagens de investir em Fafe. Fazer uma campanha junto dos emigrantes fafenses que possuem industrias espalhadas por esse mundo, convocando-os a investir no concelho, seja por deslocalização das suas empresas ou por criação de novas unidades de produção.

3. Concluir a revisão do PDM. É o principal instrumento de planeamento do Concelho e já deveria estar revisto há mais de 10 anos!!! Promover uma discussão pública sobre que tipo de desenvolvimento territorial é que a população pretende, nomeadamente no que diz respeito à determinação da aptidão construtiva dos solos.

4. Reestruturar os serviços Municipais, avaliando, sector a sector, as existências e as reais necessidades de meios e pessoal. Elaborar um plano a 4 anos para implementação da acção. Procurar a certificação dos serviços administrativo e de obras particulares, por serem os que mais contacto têm com o público. Criar matrizes de substituição para todas as funções desempenhadas na autarquia, assegurando o pleno funcionamento dos serviços.

5. Abrir os processos administrativos à consulta informática (ou presencial) pública. Transparência na decisão!

6. Abandonar a Naturfafe, colocando os meios humanos e materiais directamente sob a alçada do Município. Estabelecer parcerias com os Concelhos vizinhos e as regiões de turismo, dividindo custos para procurar aumentar a oferta cultural do Concelho. Estabelecer um plano de divulgação do nosso potencial turístico, ajudando os empresários locais na divulgação dos seus produtos e serviços. Melhorar o aproveitamento que fazemos de alguns eventos (Rali, Ciclismo, etc), criando atractivos que convidem a ficar em Fafe, o que se traduz em retorno para a economia local.

7. Fazer um plano de investimento a 4 anos para o sítio arqueológico de Sto. Ovídio, dando-lhe a importância que merece. Procurar criar uma rede museológica industrial no concelho, aproveitando a Fábrica do Ferro, do Bugio, a central hidroeléctrica de Golães, o bairro da fábrica do ferro, etc.

8. Criar, com o auxílio das organizações de agricultores de Fafe, uma feira quinzenal para produtores e produtos do Concelho, isenta de taxas.

9. Elaborar e publicitar um documento estabelecendo as regras para candidatura e atribuição de subsídios (e sua fiscalização) a colectividades, dando preponderância ao interesse público da realização e ao mérito no desempenho de funções da agremiação.

10. Lutar pela manutenção do Hospital de Fafe e assegurar que este se mantém dentro do Serviço Nacional de Saúde. Lutar pela manutenção das competências do nosso Tribunal.

Não coloco, propositadamente, qualquer obra pública municipal como medida prioritária. Deixo isso para outro texto, se entretanto achar que se justifica.
Não sendo de responsabilidade local, enquadrando-se na ressalva assumida, deixo como nota que se deverá lutar:
a) Pelo reperfilamento da EN 207 – Felgueiras/Fafe/Póvoa do Lanhoso;
b) Pelo financiamento para a construção do novo quartel da GNR;
c) Pela construção da nova Escola EB 2,3.

Miguel Summavielle

24 agosto 2013

Criatividade em Travassós




A freguesia de Travassós no concelho de Fafe acolheu ontem (23 de Agosto) o Primeiro Desfile/Concurso do Traje de Palha durante às Festividades de Nossa Senhora das Graças, onde cerca de 20 modelos desfilaram os seus Trajes.
O Concurso era aberto a quem quisesse participar e tinha como objectivo apresentar um traje confeccionado através do artesanato da palha que é obtido através da Ferrã e depois de corada e cortada dá lugar às palheiras que depois com a astúcia dos dedos de homens e mulheres dá lugar ao entrançado (trança), que depois vai a coser em máquina para dar lugar aos mais variados objectos. Os acessórios apresentados foram saias, vestidos, malas, carteiras, cruzada, copo de vela, fios, bouquet, chapéus, guarda-sol, orelhas, coletes, xaile, boné, avental, fitas, suspensórios, calçado, papillon, cintos.
Sílvia Fernandes da NaturFafe; Carlos Afonso, arauto da cultura e impulsionador das jornadas literárias; Estela Fernandes, costureira; Natália Silva, membro da comissão de festas e Cecília Fernandes, artesã, foram o júri do concurso. Os Prémios foram atribuídos da seguinte forma: Terceiro Prémio foi atribuído ao Traje “Fashion”; Segundo prémio foi atribuído aos trajes “Dama” e “Noiva” e o Primeiro Prémio foi atribuído ao Traje “Sénior”, tendo os outros recebido uma lembrança pela sua participação.
Este terá sido um dia importante para esta localidade, tornando-se o primeiro local onde se realiza um desfile com este material. Com arte, engenho e união de esforços (design, molde, corte, costura,…) se conseguiram os trabalhos de grande criatividade, versatilidade que foi possível observar. Contudo a utilização deste material para a finalidade de trajes foi utilizada pela primeira vez há cerca de 25 anos para o cortejo carnavalesco da Escola Primaria, depois seguiram-se outras vezes que foi utilizado mas nunca com a aplicação de tanta arte e engenho e a culminar num Desfile de Traje de Palha.

Diogo Antunes

22 agosto 2013

Autárquicas



Excelente iniciativa.  O debate é, além de exigível em democracia, essencial para esclarecimentos e clarificações de posicionamentos relativamente aos problemas e respectivas soluções para o futuro de Fafe.

Não compreendo é a iniciativa partir do interior dos próprios partidos. Espero que estes debates tenham seguimento através dos órgãos de comunicação ou de outras entidades da sociedade civil. Estou a lembrar-me do Clube Fafense. Seria uma óptima oportunidade de reforçar a sua posição de cidadania.

António Daniel

Incêndios em Travassós

Ao início da noite de quarta-feira, 21 de Agosto, por volta 21h00, deflagraram dois incêndios na freguesia de Travassós em locais totalmente opostos, no lugar da Atalaia junto à freguesia de Paços e o outro no lugar de Sanfins.
Estiveram no combate às chamas os bombeiros de Fafe e de Vizela, sendo que o foco na Atalaia está já controlado e apenas está sob vigilância. Quanto ao foco em Sanfins ainda não está controlado e poderá demorar algum tempo por ser um local isolado e numa zona de muito mato e de difícil acesso.
Ambos os locais têm habitações nas imediações, mas nenhuma delas ficou em risco. No espaço de uma semana a freguesia de Travassós foi assolada para além destes dois focos, por outros dois, na Rua da Restauração e na zona de Requeixo junto da EN 207 que liga Fafe à Póvoa de Lanhoso, que já estão circunscritos.

Diogo Antunes

21 agosto 2013

Pobreza

Há tempos alguém me tentava convencer que a minha ausência pelo quotidiano de Fafe tornava pouco eficaz o meu argumentário, principalmente quando é dirigido para questões da mundividência política. Por aquilo que me vão transmitindo (sim, tenho espiões...) e por aquilo que regularmente vejo nas redes sociais (ao nível dos mass media pouco ou nada se lê e vê), de pouco me serviria viver em Fafe. Mais, se aí vivesse, pouca diferença se notaria! Porquê? Porque o discurso político é pobre como pobre é uma grande percentagem dos seus agentes. De espírito, claro!
Também sou pobre, é certo. Aquilo que escrevo pouco representa. Não é mais do que espírito panfletário. Contudo, tinha o propósito de escrever de um modo diferente daquele que habitualmente se executa na imprensa regional, recuperando o polemismo do início do séc. XX. Evidentemente que não sou Raul Brandão nem Proença, muito menos Sérgio. Sou fafense, com as suas limitações e, talvez, virtudes. Mas uma coisa não me podem acusar: sempre procurei respeitar esse povo, minhoto de afeições, resistente de carácter. Desse eu gosto. Esse povo merecia mais de quem escreve, de quem opina e de quem tem o protagonismo.

António Daniel

14 agosto 2013

Igreja Matriz


Pela imposição da própria vida, que possui os seus recônditos ditames, pouco tempo estive em Fafe neste mês de Agosto. Por ser pouco, tentei aproveitá-lo da melhor forma. Pela proximidade à minha residência e pelo medo do anátema, tenho por hábito visitar a Igreja Matriz. Este ano tinha um acréscimo de curiosidade pela recuperação do monumento. Os desígnios divinos, além de transcendentes, são também imanentes pelas implicações nas nossa vidas. Desta feita, o desígnio revelou-se providencial. Não só rejuvenesceram a igreja como a tornaram mais perto do céu, não fosse o incómodo permanente dos bólides no paralelepípedo da estrada que nos colocam arreliadoramente na realidade profana.

Desde há uns anos que defendo uma área pedonal para a zona envolvente da Igreja Matriz. Uma Igreja deve-o ser mas também o deve parecer. Aquele espaço frontal, que raramente mereceu a atenção camarária, exige um pouco mais de dignidade, não vá o diabo tecê-las! Até me surpreendo como, com aquela quantidade de trânsito, ainda não aconteceu algo de gravoso. Só pode haver mão divina.

Abstraindo-me dos vitrais modernaços da entrada, aqui ficam os merecidos parabéns aos responsáveis pela obra. A Igreja está linda por dentro e por fora, apesar do enquadramento da zona envolvente continuar um pouco deprimente.

PS: E NÃO ESTAVA A PLACA... AINDA BEM, NEM TUDO ESTÁ PERDIDO!

António Daniel


12 agosto 2013

Limitação de Mandatos


O PS, contrariamente ao PSD e ao PCP, não recandidata Presidentes de Câmara que tenham atingido o limite legal de mandatos. Não recorre, portanto, ao argumento da não aplicabilidade da lei em caso de se concorrer em Concelhos vizinhos.
Não tenho a certeza se recandidata Presidentes de Junta nessas circunstâncias. Estou, no entanto, certo que aceita propor Presidentes de Junta que já atingiram o limite de mandatos, desde que o território da freguesia a que concorrem tenha sido alterado. Estão nessas circunstâncias, por exemplo, o candidato do PS à União de Freguesias de Moreira de Rei e Várzea Cova e à União de Freguesias de Aboim, Felgueiras, Gontim e Pedraído.
Sinceramente, não consigo perceber a lógica.
A questão da limitação de mandatos é polémica e não tem uma interpretação única. Se pensarmos na Madeira, creio que todos seremos a favor da limitação de mandatos (para os mais distraídos, direi, apenas, que o Sr. Presidente do Governo Regional conseguiu ver aprovado um Decreto-Regional que lhe permite acumular o salário com a reforma!!!), mas se pensarmos em alguns autarcas, se calhar, já temos algumas dúvidas.
Na minha opinião, a limitação de mandatos é necessária e deveria ser bem mais clara e abrangente. Não percebo muito bem porque se limitam os mandatos autárquicos e não se condicionam os mandatos parlamentares, ou como podemos ter um Presidente da República durante 10 anos que já foi Primeiro-Ministro 12. Não percebo muito bem porque se limitam os mandatos dos Presidentes de Câmara e não se limitam os mandatos de Vereador. E a “coisa” não melhora se pensarmos em todos os cargos para os quais não é sequer necessário ser eleito.
Julgo que se alguém pretende exercer um cargo público e executar o projecto que esteve na base da sua eleição, levando-o do princípio ao fim, não necessitará de mais de 12 anos. Por isso, na minha opinião, com esta obrigatoriedade, renova-se, actualiza-se, diminui-se a perspectiva do poder absoluto e contribui-se para o envolvimento da população na vida política.
Digo isto considerando que o meu Pai foi Presidente durante 20 anos (ainda que não seguidos). E tantas vezes esse argumento lhe foi atirado à cara!!!
Antes que aproveitem para me crucificar, relembro que o Dr. Laurentino Dias é Presidente da Assembleia Municipal há 31 anos e decidiu recandidatar-se. E o Dr. José Ribeiro está na Câmara há igual número de anos.

Quem tem telhados de vidro não deve atirar pedras ao vizinho e, por isso, não consigo aceitar as alusões que ambos fizeram, nos seus discursos da apresentação da candidatura para as autárquicas/2013, à suposta “monarquia Summavielle”.

Miguel Summavielle

03 agosto 2013

Os bolinhos da Albertininha da Lameira




Os melhores bolinhos de bacalhau do mundo eram os da Albertininha da Lameira, em Fafe. Contava a lenda que eram moldados no sovaco da prendada cozinheira, o que lhes emprestava aquele gosto tão peculiar. A vila antiga dava-se muito a estas lendas: dizia-se também, por exemplo, que os tremoços da Marrequinha da Recta eram a especialidade que eram porque a boa senhora lhes mijava.
A verdade é esta: ainda cheguei a ver a Albertininha, numa tarde de sábado, a fazer a massa dos famosos bolinhos, de alguidar entre as pernas, junto ao fogo da lareira, mas a história do sovaco enformador era uma treta - isso posso jurar, e tive pena.
Os bolinhos do Manel do Campo também eram de se lhes tirar o chapéu. E, de um modo geral, as pensões e os tascos de Fafe faziam gala de confeccionar e servir um produto, como agora se diz, fiel às origens e de altíssima qualidade. Esta tradição local mantém-se, em sítios como, veio-me agora a ideia à boca, o Fernando da Sede (Adega Popular). Os bolinhos de bacalhau com salada de feijão-fradinho e arroz do Fernando surpreendem e encantam os visitantes, e, para os da terra, são uma esplêndida entrada para a vitelinha que há-de vir. Mas isso, nos tempos que correm, é já refeição a pedir uma segunda hipoteca da casa.
É. Os bolinhos "de morrer por mais" são no Minho - bem o sabia mestre Aquilino. Em Fafe, é claro, mas também no Manuel Padeiro e no Gaio, em Ponte de Lima e em dias sim, ou no Conselheiro, em Paredes de Coura, sempre. Em sítios assim, que os há bons e tantos.
Parece-me tolice, portanto, criar uma task force de "especialistas" e simpatizantes, como fez o jornal Público, para provar bolinhos de bacalhau comprados em pastelarias e cafés de Lisboa e do Porto. Ainda por cima, os lisboetas chamam "pastéis de bacalhau" aos bolinhos de bacalhau. (É como os franceses chamarem "fromage" a uma coisa que toda a gente sabe que é queijo). Só podia dar merda e deu. Já se sabia. Já deviam saber. Qual era a ideia? E tomem nota os doutos paineleiros: o resultado seria o mesmo se mandassem vir arroz de grelos, pastelões de petinga, pataniscas ou caldo de nabos. Os cafés e as pastelarias do Porto e de Lisboa não são para esses preparos, estão a perceber? Vá lá, o caldo de nabos... talvez.

Hernâni Von Doellinger