28 fevereiro 2013

Cultura e Empresas

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Reflexo ou não das apostas que ultimamente se têm feito em Fafe, o pensamento, projectos e iniciativas no que à cultura diz respeito ultrapassam em muito qualquer dinâmica empresarial. Tal facto (creio que é um facto) deve motivar uma reflexão.

Em primeiro lugar, apesar de haver desde há muito uma Associação Comercial e Industrial de Fafe, o certo é que, nomeadamente ao nível da indústria, as pessoas em geral e os empresários em particular têm uma visão individualista da matéria. Sem querer negar a presença de sinergias entre as empresas ao nível de encomendas e outros processos afins, sempre imperou do lado do empresário o querer ser mais rico do que o vizinho. Ora, quando a ambição é medida pelo vizinho do lado, nunca conseguimos ser muito melhores. A relação torna-se darwinista. Já quando a ambição se foca em nós mesmos, quando procuramos alcançar patamares superiores aos que até agora obtemos, é possível afirmarmo-nos sem aniquilar o outro.
 
Em segundo lugar, o poder político nunca contribuiu grandemente para a evolução económica do município. Contam-se pelos dedos as iniciativas que foram ao encontro desse desiderato, e não vale a pena nomear a forma desequilibrada como a Zona Industrial foi projectada e fomentada nem iniciativas pontuais de feiras que, caso não tenham um número considerável de visitantes, podem cair no marasmo.
 
Em terceiro lugar, sempre houve uma demarcação entre os agentes culturais e económicos. Ambos se olham com desdém. Os agentes culturais consideram os empresários «folhas de excel», os empresários consideram as pessoas ligadas à cultura «extraterrestres». Podem no máximo contribuir para entretenimento. Há poucos exemplos, mas o mecenato quando activado contribuiu para alguma coisa. Nunca nos devemos esquecer o apoio que Miguel Monteiro obteve de António Marques Mendes e como este moveu influências junto de empresários para a edição de autor do livro Fafe dos Brasileiros, com todas as vantagens que daí advieram.
 
Por último, a cultura é um fenómeno quase exclusivamente camarário. Se exceptuarmos os locais de diversão nocturna e uma ou outra organização (Atrium, Clube Fafense, alguns ateliês ...), praticamente que a promoção mais visível se deve (e penso que bem) às iniciativas do executivo. Em contrapartida, a Câmara pouco faz para promover iniciativas junto dos empresários, nomeadamente no que à indústria diz respeito. Os industriais valem por eles mesmos, para o bem, mas também para o mal.
 
António Daniel

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