17 fevereiro 2013

Carlos Afonso e as Jornadas Literárias


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Sou leitor esporádico do seu blogue e atento às suas iniciativas ao nível do Concelho e da escola onde lecciona, mas não conheço Carlos Afonso. Conheço-o, pois, virtualmente. Somos inclusive conterrâneos no país Face (país estranho este cheio de maravilhas e de likes). Por isso, sei aquilo que Carlos Afonso quer que se saiba: é professor de Literatura Portuguesa (disciplina estranhamente opcional) na Escola Secundária (uma das últimas dos rakings da FIFA) e um dos, senão o grande impulsionador das Jornadas Literárias de Fafe. Gosto particularmente deste professor pelas razões que a seguir apresento (não gostos dos likes fáceis nem de bajulações).

Hannah Arendt escreveu um texto muito curioso sobre educação. Na obra Entre Passado e Presente - oito exercícios sobre o pensamento político (Relógio D'Água), Arendt desenvolve a ideia, ao perscrutar a crise na educação nos EUA, de que a educação deixou de ter a sua função primordial - ensinar. Em virtude das ideias transmitidas pelas ciências da educação, o professor deixou de ser o que transmite saber para se tornar apreciador do desenvolvimento autónomo da criança. A criança está, deste modo, entregue a si própria. Sem autoridade e sem competência, o professor torna-se um mero assistente. Inevitavelmente, escreve, assistir-se-á à destruição do mundo pela criança caso o modelo se mantenha. A criança abandonada a si mesma não sabe como é o mundo e, por isso, não o pode reformar, mas sim destruir. É uma criança velha.

Qual é, então, o papel do professor? É fazer com que a criança seja nova. É ser competente (dominar o saber) e responsável (ser capaz de dizer à criança: eis o mundo!). Em Fafe, através das jornadas, isto acontece, penso eu. Carlos Afonso recupera a ideia de responsabilidade docente (domínio dos saberes) e a ideia de autoridade docente como responsável pelo mundo. Se retirarmos esse papel ao professor, o mundo destruir-se-á, isto é, as crianças tornam-se velhas. Fafe, se quiser desenvolver-se, terá que levar isto em consideração. «Eis o Nosso Mundo» faria um bom slogan para as jornadas.

António Daniel

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