07 fevereiro 2013

Invictus


Vou colocar esta postagem e fazer uma espécie de licença sabática relativamente à política. Quando lhe «toco», o caldo entorna. Nos vários textos publicados neste blogue, os que dizem respeito à política têm uma audiência considerável. Porquê? Pessoalmente parece-me que as razões não residem no gosto pela coisa pública mas pelo espírito maniqueísta com que é abordada esta questão. Poucos são aqueles que conseguem ter um distanciamento crítico sobre o acto político. Porquê? Porque os actores são muito iguais e pensam quase sempre da mesma forma. Numa relação de horizontalidade, o conflito é inevitável. Significa isto que nos últimos anos Fafe careceu de lideranças.

Revi há pouco um filme que, apesar de não ser uma obra prima, ensina-nos muito do que deve ser a liderança política: Invictus, onde é retratada, mediada pelo rugby, a ascensão ao poder de Nelson Mandela. A primeira lição é que a vitória eleitoral não é completa por si só. Conquistar também os derrotados é a vitória maior. Um líder deve ambicionar ir além dos seus apoiantes. Além das características normais que se atribui ao líder que passa pela inteligência, criatividade, fluência verbal, intuição, iniciativa e persistência, capacidade de persuasão respeitando quem é persuadido e assumir responsabilidades, deve procurar colocar em risco a sua autoridade e prestigio para lutar por uma coisa em que acredita. Em poucas palavras: Liderar pelo exemplo. O líder  é o cuidador que cria laços de afecto.

Acima de tudo, aos futuros e actuais actores da política de Fafe, nunca se esqueçam que gostamos de carinho e do sentido estético das nossas raízes. Por esse motivo, as pessoas de Fafe necessitam de quem as guie. Não foi por acaso que reagiram da forma como reagiram à questão do padre e, comparativamente, pouco se manifestaram quando lhe retiraram outras coisas. E estamos a ficar com pouco.

“Out of the night that covers me,
Black as the Pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds, and shall find, me unafraid.It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll,
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul”.
William Ernest Henley (1849-1903)

António Daniel

3 comentários:

Anónimo disse...

Caro Daniel, efetivamente Fafe está orfã de lideres politicos, mas brevemente esta questão ficará ultrapassada com a realização de novas eleições.

Miguel Summavielle disse...

Caro António Daniel,
Compreendo as suas palavras. Creio que nunca como hoje o tema da falta de capacidade de liderança é atual.
Na Europa, em Portugal e em Fafe.
Os nossos destinos são geridos por políticos que cresceram entendendo o exercício desta tão nobre atividade como uma profissão e não como uma expressão idealista e altruísta.
Os partidos políticos dominam, controlam e subjugam o exercício do poder democrático, corrompendo-o com a sua lógica clientelista e corporativa.
Hoje em dia não é líder o mais apto. É líder o que tiver a máquina partidária na sua mão (local, nacional ou europeia).
Para se criar “afetos” (interpreto o termo como uma expressão alternativa ao “governar para os eleitores”) é preciso ser-se livre para o fazer.
Poucos são os que demonstraram ser, de facto, homens LIVRES!

António Daniel disse...

concordo, Miguel.
Anónimo, acha que ficará ultrapassada ou é pura ironia?
Obrigado pelos comentários.