06 fevereiro 2013

Ao Cuidado de Eugénio Marinho

Aqui escrevi sobre as razões que, a meu ver, o povo de Fafe prefere certas causas a outras. Na altura referi que o apego do povo a certas manifestações justificava-se pela mensagem subliminar do poder católico (e esse poder ainda se faz notar) principalmente porque o pai é tanto mais forte quanto menos disser. Não querendo ser filósofo de pacotilha como já me acusaram, sugiro aos políticos de Fafe um livro: Tristes Trópicos de Claude Lévi-Strauss. Lévi-Strauss, antropólogo francês, encetou uns estudos sobre umas tribos da América do Sul no sentido de compreender a estrutura da sociedade humana. Na sua descrição, apresenta uma situação caricata. Lévi-Strauss entra em conversação na sua língua, o francês, com o chefe da tribo. Este era a pessoa mais respeitada junto dos seus conterrâneos, mas, simultaneamente mais avaliada. Todos estavam à espera do erro, na medida em que, como sabemos, o poder é afrodisíaco e, portanto, desejado. O chefe, perante a desfaçatez de Lévi-Strauss, não queria dar a parte fraca, daí que  tenha  começado a dialogar numa língua que ninguém presente conhecia. Obviamente que não era uma língua, nem um dialecto, era uma invenção. Cuidadosamente, o antropólogo continuou a dialogar em francês e o chefe respondendo na língua desconhecida. Resultado, todos os índios ficaram surpreendidos com a inteligência do chefe e o seu poder saiu reforçado. Para ser chefe é preciso saber, é necessário ser, mas também é imprescindível parecer.

António Daniel

1 comentário:

Anónimo disse...

Um dos melhores textos, deste blog, parabéns.