No capítulo XXI do Príncipe, Maquiavel escreveu que o «príncipe deve evitar que o desprezem e odeiem». Não sei se concordo totalmente com o «odeiem» mas sou levado a prestar atenção ao «desprezem». Podemos odiar alguém que exerce o poder sem com isso colocar em causa a liderança. O ódio surge quase sempre acompanhado pelo seu antípoda, a paixão. Contudo, quando o príncipe é desprezado é porque a sua condição alcançou tal nível de degradação que não lhe sobra qualquer réstia de liderança e, consequentemente, de legitimação, pelo menos moral. Obviamente que o interesse dos textos clássicos advém da sua contextualização e da sua possível actualização. Maquiavel apresenta algumas características que levam ao desprezo, sobressaindo o ser volúvel, leviano e efeminado. Se existe alguma diacronia relativamente a esta última característica, já às restantes exige-se uma miragem mais pormenorizada, pois são passíveis de actualização.
Mais actual se torna o pensamento de Maquiavel quando o tentamos aplicar ao exercício do poder numa altura em que as redes sociais são cada vez mais utilizadas na sua promoção As redes sociais trouxeram um novo élan à palavra escrita. É através dela que se estabelece as várias nuances do exercício do poder, quer pela ausência, quer pela presença. Saber gerir a imagem é fundamental e acima de tudo, saber manter a dignidade. Diz Maquiavel que, em todos os atos a dignidade deverá ser permanente, deverá afirmar-se em tudo o que o príncipe faça e em todos os assuntos em que intervenha.
As redes sociais são exigentes dentro da sua aparente mediocridade. Por esse motivo, é fácil cair nas mais básicas tentações, no confronto fácil e na linguagem banal. Quando o príncipe cai na teia torna o governo da cidade mais difícil.
António Daniel
1 comentário:
Um livro que anda aí por casa e ainda não li
Obrigado pela sugestão
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