09 dezembro 2013

Geada



O Minho é especial, mas Fafe é ainda mais especial. Sim, somos diferentes. Até na coligação contranatura na Câmara.
Um dos grandes problemas nos que às europas diz respeito é considerar todos iguais, todos diferentes. Se em relação a qualquer condição do direito se aceita, já em relação à «alma» calma aí e pára o baile. Na nossa intangibilidade ninguém toca porque, mais do que qualquer povo europeu, gostamos de carinho e não dessas novas coisas apelidadas de competitividade. Gostamos de olhar de soslaio, certo, mas não é para sermos melhores mas para conservarmos o nosso cantinho.
Não há nada mais interessante do que o nosso «cantinho». É lá que nos aquecemos das geadas e nos alimentamos, curiosamente mais a alma do que  o estômago. Aliás, para nós, a alma mora no estômago. É nas sopas de vinho com açúcar, devidamente aconchegadas nas brasas, que afogamos a amargura. Como nos sabem bem!
Vem isto a propósito da geada que por estes dias vi num campo. Pessoas normais dizem «que frio!», ou «o campo todo branquinho, que giro!». As pessoas excepcionais dizem «faz bem às couves». E faz mesmo. Os «olhos» de couve agradecem. Nada de mais intangível existe na degustação de uma couve amaciada pela geada e guarnecida pela carne gorda do porco, com o azeite a procurar caminhos de fuga e o alho, qual aluvião, a sedimentar-se devagarinho. Os alemães podem ter as suas formas intangíveis, mas nós temos as nossas e Fafe muito mais.
Abaixo de Arões, alguém compreenderia a incomensurável beleza de uma maçã assada afogada no vinho (ok, existem mas chamam-lhes bêbadas. Nós temos respeito!) e a orgia de sentidos quando a introduzimos no nosso sistema digestivo?

Beijinhos, mãe.

António Daniel

6 comentários:

Miguel Summavielle disse...

Caro António Daniel,
A minha costela Beirã reforça o que dizes. O que seria da Açorda de Natal sem as couves amaciadas pela geada.
Já a maça, sinceramente, prefiro-a sem vinho e com canela. Modernices...

Pedro Sousa disse...

Não querendo estragar esta conversa 'natalícia', mas já repararam no quão rico é o nosso património? Cada vez que alguém apela 'à alma', aparece sempre algo muito bom... Um dia, breve, vamos ter de falar nisto tudo... até podem levar umas maças com vinho ou com canela para a malta provar! O turismo irá agradecer!
Não sei se o 'turismo de Fafe', mas pode ser que apareça alguém com vontade de uma recolha das tradições e que as vire para o exterior...

António Daniel disse...

Miguel, é Celorico, certo?
Pedro, a canela, como o Miguel disse é uma modernice de Regadas. Bebes o vinhinho com a maçã assada e pronto!

Ricardo Gonçalves disse...

Ainda vem uma qualquer directiva comunitária a proibir as couves de apanhar geada!!!!
Miguel, nós, por cá, é mais bacalhau. Sem FOSFATOS.Há dias até descobri que havia um "Bacalhau à Fafe" mas no Natal é cozido com batata e ovo (para mim sem couves, por favor).
Em relação às maçãs, prefiro-as separadas do vinho.

Pedro Sousa disse...

António Daniel, acho que também me ficarei pela 'modernidade de Regadas' como dizes, até porque nunca tinha ouvido falar em tal coisa. Logo depreendo que há muitas tradições, bem aqui ao lado (de Regadas), que a malta aí da metrópole (de Fafe) tem. Não sou gajo de espicaçar (ou sim) mas estas coisas deviam estar retratadas num folheto sobre turismo... quem manda na Naturfaf?

Miguel Summavielle disse...

Certíssimo, António Daniel. É Celorico da Beira, terra do queijo da Serra.
Ricardo, a açorda chama-se de Natal mas é, na verdade, de bacalhau. Uma delícia! Bacalhau e couves cozidas, pão partido fininho e toca a colocar, numa terrina de boa dimensão, uma camada de pão, uma de couves e uma de bacalhau (devidamente desfiado). Depois, embebe-se tudo na água de cozer o bacalhau e deixa-se repousar uns instantes. Escorre-se a água e rega-se com muito azeite previamente aquecido com alho em abundância.
Já cheira...