Nos concelhos de maior dimensão, conhecemos os casos de Fátima Felgueiras, Isaltino de Morais e Valentim Loureiro, "forçados" partidariamente a concorrer sem sigla partidária e com sucesso.
Mas nada se compara a estas eleições de 2013. Para além de candidatos que no fundo aspiram a ser vereadores e há vários, de Faro a Braga, passando por Cascais, Santarém e Coimbra, há candidaturas que despertam verdadeiramente a presidência de Câmaras em concelhos com muita população. É o caso das três maiores Câmaras a seguir a Lisboa (que terá uma nota final) - Sintra, Vila Nova de Gaia e Porto, bem como de Matosinhos, Oeiras, Gondomar e Guarda entre outras.
Creio que das 308 há cerca de 80 candidaturas não apresentadas por partidos, o que representa cerca de 25% dos concelhos e perto de 33% dos eleitores. Estamos, presumo, perante um novo paradigma, que surpreendeu as direções do PPD/PSD e do PS.
As escolhas dos candidatos foram entregues às concelhias, com alguma intervenção das distritais e pouca das nacionais, o que irá levar a repartição de responsabilidades no rescaldo eleitoral.
A noite eleitoral vai ser um pouco diferente do habitual. Pode ocorrer que perto de um milhão de cidadãos passem a ter como presidente de Câmara um independente, o que presumo será único na Europa ocidental.
Não se trata de um movimento Pepe 5 Estrelas, pois não há articulação política entre os concorrentes, que convém referir não serão 80 mas milhares, se somarmos as listas para as Câmaras, as Assembleias Municipais e as Freguesias.
Entendo que é um aviso sério ao nosso sistema partidário, que provavelmente se entrincheira na manutenção da atual Lei Eleitoral para a Assembleia da República, não admitindo a hipótese de círculos uninominais.
Em Lisboa não há candidaturas independentes. Relembro que, nas penúltimas eleições, Carmona Rodrigues e Helena Roseta obtiveram 28%, e o BE foi a jogo com Sá Fernandes, o que totalizou cerca de 34%.
Mas António Costa antecipou-se e acordou com Helena Roseta e Sá Fernandes, que concorrem mas na sigla PS.
Estamos perante as eleições autárquicas mais atípicas da nossa curta história eleitoral.
In http://expresso.sapo.pt/os-independentes=f827729#ixzz2dGPVOmx4
Rui Oliveira Costa
2 comentários:
As candidaturas independentes são fenómenos demonstrativos da vontade de expressão da sociedade civil. Demonstrações de uma vontade, muitas vezes, férrea.
Digo isto porque, desde sempre, aqueles que têm a obrigação de nos governar, procuram condicionar a expressão de opiniões que não sejam enquadradas pelo crivo dos partidos, ou seja, uniformizadas, controláveis, domináveis.
Portanto, se crescem as candidaturas independentes, é porque os partidos políticos representam cada vez menos a sociedade e, na minha opinião, deveriam estar um pouco mais preocupados com isso.
Não devemos esquecer que Portugal é uma partidocracia antes de ser uma democracia. Deixo 3 pequenos exemplos comparativos entre as candidaturas independentes e as partidárias:
a) Os movimentos independentes, ao contrário dos partidos políticos, não podem utilizar, nas suas candidaturas, símbolos. Todos sabemos que há muita gente que vota na “mãozinha” ou nas “setinhas”;
b) Os movimentos independentes, ao contrário dos partidos políticos, não podem deduzir o IVA das despesas da campanha, ou seja, têm, logo à partida, custos superiores em 23%;
c) Os movimentos independentes, ao contrário dos partidos políticos, têm que reunir um número de proposituras para se candidatarem. Se pensarmos que para poder concorrer à Câmara/Assembleia Municipal de Fafe eram necessárias quase 2.000 proposituras, quando o CDS, CDU e BE têm habitualmente pouco mais de 1000 votos, percebemos o desequilíbrio.
Na minha opinião, ainda mais exemplificativo do controlo partidário sobre a nossa democracia, é a possibilidade de um Presidente da República ser eleito tendo havido uma maioria de votos em branco.
Quem manda?...
As candidaturas à Presidência da República são todas independentes...
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