05 junho 2012

A Justiça de Fafe


Apesar de pouco relevante e escusada, a discussão à volta da possível deslocação do monumento da Justiça de Fafe pode suscitar algum interesse intelectual. Por isso, aqui procurarei apresentar as razões, creio que um pouco diferentes daquelas que têm surgido, pelas quais não considero pertinente a deslocação do monumento.
A justiça, numa acepção abrangente, consiste em atribuir às pessoas aquilo que merecem. Sem querer entrar em discussões mais ideológicas sobre as questões de igualdade ou até de igualdade de oportunidades – até porque não é o lugar apropriado – o certo é que o conceito de justiça está intimamente ligado à própria natureza humana. Um dos conceitos mais susceptíveis de reação por parte das crianças é a justiça e todos nós, independentemente das origens e credos, estamos predispostos a falar de justiça. Mesmo não sabendo explicitar o conceito, todos o conhecem e todos são muito sensíveis aos seus efeitos. Portanto, o Estado não fez mais que formalizar a justiça que, em virtude da nossa racionalidade, faz parte das nossas idiossincrasias mais nucleares.
A Justiça de Fafe significa mesmo isto, significa a lei natural na sua maior manifestação, na defesa da honra que, por vezes, a justiça positiva, própria de um estado de direito, não consegue vislumbrar de imediato. Portanto, a Justiça de Fafe perpetua e vincula-nos a pensar na verdadeira natureza humana e, por esse motivo, possui uma dignidade universal, não particular como muitos, levianamente, querem fazer crer.
O facto do monumento se situar por detrás do Palácio da Justiça não o desmerece, antes pelo contrário, pode proporcionar um bom motivo para pensar nos fundamentos da própria justiça.

António Daniel

9 comentários:

Alex disse...

Concordo com a primeira e também com a última frase :)

António Daniel disse...

Na última frase o artigo correcto é «o» e não «a». Peço desculpa.
Alex, não me diga que o resto é um vazio? Abraço e obrigado pelo comentário.

Albano disse...

concordo plenamente!! como ja tenho vindo a dizer isto de discussões publicas e para tapar olhos pois os assuntos a tratar sao sp mesquinhos ou então não a intenção de os realizar!!
ja que a câmara anda numa de discussões publicas pq nao o fez quando plantou aquele objecto estranho e muio caro na rotunda perto do largo da feira??
pq nao discutir propostas para o desemprego e plano diretor municipal??

Albano disse...

o que queria dizer era propostas de criaçao de emprego

Alex disse...

Não, não é nada vazio. Só que é "pouco relevante e escusado" estar agora a discordar disso (mas já agora, isso a que chamas "lei natural" eu vejo como uma construção sociológica, a justiça "natural" de hoje será igual à justiça "natural" de há 5 mil anos?... mas isso é conversa que só deita fumo para o que interessa aqui...).

O que queria era mesmo sublinhar é que "a discussão à volta da possível deslocação do monumento da Justiça de Fafe é pouco relevante e escusada" e também o "facto do monumento se situar por detrás do Palácio da Justiça não a desmerece, antes pelo contrário".

Pedro Fernandes disse...

Quando se pede a colaboração dos cidadãos para uma discussão pública, apesar da mesma ser pouco pertinente, é útil que os cidadãos se manifestem, sob pena desta participação popular ser um fracasso.
Em todo o caso, parecem-me haver aqui duas variáveis nesta possível deslocalização: a simbólica e a cultural/turística. Se, a nível simbólico, o monumento à justiça de Fafe está bem onde está, nas costas da justiça "das leis", o que vem suscitar diversas interpretações, parece-me que, sendo este um dos símbolos turísticos/culturais (para o bem e para o mal) de Fafe a sua visibilidade e, quiçá, informação e desmistificação teria mais a ganhar noutra localização.

Pedro Fernandes disse...

Perseguindo estátuas:
Clica no link:

http://blogmontelongo.blogspot.pt/2011/08/perseguindo-estatuas.html

António Daniel disse...

Albano, partilho das suas ideias.
Pedro, se é difícil descortiná-la que se torne fácil. Bastam pequenas alterações. Se o Pedro coloca a situação numa espécie de dilema, então sou levado a não concordar consigo. Se um monumento perder a sua capacidade simbólica, perde a sua razão de existir.
Cumprimentos.

Pedro Fernandes disse...

Caro António Daniel,
De facto, esta discussão é algo que não considero assim tão importante, não tendo, por isso, uma opinião devidamente formada. Limitei-me a questionar algumas ideias que me foram passando pela cabeça.
No entanto, considero que existem alternativas melhores do que o atual estado. Agora, se a Câmara decidir avançar com uma requalificação daquela área traseira ao tribunal, talvez seja a melhor solução.
Penso que faz falta a Fafe enquadrar este monumento na nossa história e na nossa identidade cultural. O que realmente me interessa é que, independentemente da sua localização, existe ainda uma ideia generalizada que o monumento tem a ver com a ideia de justiça pelas próprias mãos levadas a cabo por um visconde fafense e, não sendo a pessoa mais certa para falar disso, existem outras versões em que a única coisa em comum é o pau de marmeleiro.