Em Julho passado, tomei a liberdade de fazer com que colegas meus visitassem aquela que é a minha terra. Acompanhei-os numa rota pedestre pelas aldeias do nosso concelho. Entretanto, fui-me apercebendo da magnitude do nosso património rural. Beleza natural não falta. Avistei, julgo, mais de dezena e meia de moinhos de água, desactivados, a cair. É triste.
Veio-me à memória a reportagem e a actividade que tinha lido no jornal Público. Seria interessante promover algo semelhante em Fafe, criando marca turística, um ponto de visita. Acima de tudo, preservar-se-ia património.
Não só nesse caminho, reparei também que há outro património que em Fafe tem sido votado ao abandono: os tanques públicos. É certo que, hoje em dia, poucos são os utilizadores dos tanques públicos. Os anos passaram e ofereceram ao abandono os tanques públicos. Talvez seja sinal de aumento da qualidade de vida. Quiçá. Porém, são símbolos do nosso património, da identidade. A sua restauração traria mais um elemento de identidade ao concelho.
Às vezes, parece-me que Fafe, à imagem de muitas outras terras, tem medo da ruralidade que o constitui. A perda destes elementos constitui um fim. E é preciso pensar, se não somos isto, também não somos mais nada. A ruralidade não nos deve assustar, nem é inimiga do desenvolvimento.
A poucos quilómetros de Fafe, em Guimarães e no Porto, existem boas faculdades de Arquitectura certamente abertas a uma colaboração que permitisse a reabilitação desses moinhos. O caminho do progresso de um concelho deve fazer-se de ideias novas, diferenciadoras e que gerem evolução sem perda de identidade e, nesse ponto, a ligação ao mundo universitário poderia ser um óptimo passo. Fica a ideia.
(Aviso prévio à leitura: não sou especialista em Arquitectura. Arriscar-me-ei, ainda assim.)
2.Não é também novo que, ao longo dos últimos trinta anos, a arquitectura “dos brasileiros” tão reconhecidamente fafense foi sendo destituída da paisagem urbana – no fundo, vandalizada -, por construções esquisitas, se é que isso existe, descaracterizando, quase, por completo o centro, que se queria histórico, da cidade. É um problema facilmente reconhecível, mas como é habitual frouxo em responsabilidades. Não me parece um problema político de destruição atentatória ao património da cidade, de um ou outro executivo, mas sim de uma medonha falta de sensibilidade paisagística. É da arquitectura que vivem as cidades. As cidades têm marca, que é inegável e primariamente os seus edifícios. O centro, que se queria histórico - é repetição, eu sei -, foi perdendo a sua identidade e como tal tornou-se menos viável, inviável até, vender a imagem da capital da arquitectura “dos brasileiros” como uma marca à semelhança do que outras cidades mais responsáveis o poderão relativamente ao seu património.
Os erros do passado não farão melhor o futuro, infelizmente.
À frente. Desde há algum tempo para cá, ouve-se que a Refer, ou CP – Comboios de Portugal, em conjunto com a autarquia fafense movem esforços no sentido de voltar a dar identidade ao apeadeiro de Cepães da antiga linha de comboio, tal como já foi apresentada uma proposta de revitalização do largo 1º de Dezembro de forma a marcarem a, já remota, passagem do comboio pela cidade. A história deve ter um lugar nas cidades, sem dúvida. De louvar.
Não me recordo, contudo, de ouvir nada acerca de intenção de reabilitação do espaço contíguo à antiga estação de caminhos-de-ferro.
Desde que a minha memória é viva, e já lá vão uns bons anos, aquele espaço esteve votado ao abandono, preenchido de sucata e estaleiro, provavelmente da própria Câmara Municipal. Sendo um espaço central, histórico e, mais que isso, identificativo de uma época, seria pertinente avaliar a criação de um espaço público vasto, devolvido à cidade, sem perda dos elementos característicos.
A criação de um “espaço de marca” que vise a diversão nocturna, a instalação de associações, a construção de espaço infantil, ou outros equipamentos sociais seria algo louvável num espaço que espero não se torne mais dos presenteados com o bodo da selvagem construção civil, essas coisas sem história e sem conceito, danosas para as cidades.
Esperemos que exista ali uma intervenção para que se possa tornar, de facto, uma imagem de marca. Salve-se o que ainda sobra…
João Coimbra
6 comentários:
Subscrevo todas as palavras! Fafe tem sofrido com 'o mais do mesmo' que se arrasta. Este poder autarca está gasto e, o grande problema, não sabe o que quer fazer. Um dia acham que é melhor deitar abaixo no outro já acham que não e deve ser preservado... Estou farto de escrever que é preciso olhar de uma vez para o concelho em geral, é preciso ter 'marca própria'... Nós temos muito património e história em todas as freguesias, mas em vez de se sentarem e preparar um plano com qualidade andam a disputar quem tem mais poder... Mas como ganham sempre, começo a acreditar que eles é que estão certos... a maioria quer é marendolas na Malafaia. É triste, mas é a pura das realidades! Em Fafe reina a teoria da 'Merenda'... como costumam dizer: «Temos de ir comer uma merenda...»
Ora aqui está uma excelente ideia, a revitalização(limpeza!?) do espaço da antiga estação de comboios.
Para que serve o depósito/oficinas municipais na Z.I Socorro?
Há que arrumar o lixo daquele espaço...
Nós temos sido desgovernados por políticos sem visão, e que muitas de vezes se vendem por coisa nenhuma...
Sou ainda jovem mas lembro-me de ver aquelas casa bonitas onde agora é a Farmacia Moura, aquelas casas ao lado da Camara, e que foram demolidas sem razão alguma..
Ao longo destes anos tem sido esvanjado dinheiro em projectos falidos, ora vejamos:
Uns transportes colectivos que já nem sei se existem.
Um elevador para funcionar 6 meses com custos elevados (um elevador sazonal só em Fafe)
As pessoas em Fafe quando lançam as obras não fazem um estudo prévio ?
Mais um texto pertinente e objectivo do João Coimbra. Também concordo que o fafense não deve sentir vergonha da sua ruralidade. Nem deve sentir vergonha, como deve valoriza-la cada vez mais através da requalificação e reabilitação de património antigo. Mas não é só a Camara que tem culpa. Há muitos privados que desfazem-me, muito naturalmente, dos seus moinhos, espigueiros e outras marcas antigas! Nem a Camara tem preservado esse património, nem os privados têm a formação necessária para valorizar aquilo que têm!!
Na minha modesta opinião, é desta força empreendedora e inovadora que Fafe precisa.
Um novo olhar sobre as coisas permite, muitas vezes, descobrir recursos onde outros apenas vislumbram dificuldades.
Agora falta concretizar.
Força João, se achares que posso ser útil em algo, conta comigo.
Paula C.
Concordo contigo. Já pensas-te criar um projecto e apresenta-lo ao nosso Presidente da Câmara?
Tenho feito algumas pesquisas no intuito de conhecer um pouco na nossa história, fico maravilhada com o que vejo, por outro lado melancólica por ver a nossa cultura ao abandono e ruptura. Os nossos vindouros não conhecem a nossa história, só vêem Fafe como uma mera cidade. Penso que o povo Fafense precisa de se reencontrar.
Bom trabalho e boa sorte.
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