(Excerto de uma breve conversa numa viagem de comboio)
- (…) Sou de Fafe!
- Fafe?! Que engraçado… Eu tenho familiares em Fafe mas sou de Celorico de Basto (…) Fafe desenvolveu-se muito nos últimos anos.
- Acha que sim? Não tenho muito essa ideia!
- Conheço aquelas terras todas perto de Fafe e acho que em comparação com outras de igual dimensão, Fafe conseguiu ganhar outra visibilidade e tem crescido de forma sustentável.
- (…) Mas olhe que em Fafe ainda subsistem grandes problemas. Por exemplo, há uma grande falta de dinamismo do poder local, falta de opções estratégicas para captar investimento, aposta no turismo rural ainda muito deficitária.
- O problema não é só de Fafe. Em Celorico, por exemplo, também existem esses e outros problemas bem piores que os vossos.
- Pois, acredito… também é mais pequeno… Mas nós temos que nos comparar com os bons exemplos, com cidades maiores, para daí tirarmos ideias para a nossa terra.
- Por isso é que, por vezes, comparo Celorico com Fafe.
- E os fafenses com Guimarães…
- Sabia que as pessoas de Celorico agora vão muito a Fafe às compras?! Vocês agora têm lá à saída da auto-estrada muitos supermercados.
- Os supermercados vão dando emprego a muita gente, o que é importante, apesar de trabalhos precários. Se não houvesse isso, muita gente já não estaria em Fafe a trabalhar e a viver. Mas, por outro lado, o comércio local está nas ruas da amargura…
- Está em todo o lado e mesmo em sítios onde não existem hipermercados.
- Pois… não há dinheiro… é a crise...
- Mas olhe que em Fafe há mais oferta e os preços são mais baixos do que em Celorico. Por isso é que muita gente de Celorico vai a Fafe às compras. E olhe que conheço pessoas que já se mudaram para Fafe.
- Não tinha essa percepção. Até me parece que Fafe está a perder gente, seja para cidades maiores, como para fora do país. Muita gente tem emigrado, mesmo pessoas muito qualificadas. Há muito desemprego, pobreza a aumentar...
- A nossa região sofre muito com este tempo de crise. E é nas cidades pequenas que mais se notam estes dramas. Nota-se em Fafe e nota-se muito mais em Celorico ou em Cabeceiras (…) Há uns meses atrás fui a Fafe ao novo teatro que lá têm. Aquilo é muito bonito! Fui ver uma dança. O espectáculo não foi nada de especial mas aquela sala é espantosa. No outro dia, soube que a Tereza Salgueiro esteve em Fafe. Gostava de ir ver mas só soube depois…
- Sim, é verdade. Foi a melhor obra de Fafe dos últimos anos. E a requalificação de toda a zona envolvente e a instalação da Academia de Música naquele espaço foram excelentes apostas. Ficou tudo muito bonito e criou uma grande mais-valia no centro de Fafe. O mesmo já não se pode dizer do Parque da Cidade (…) A programação também tem vindo a melhorar. Pena que nem sempre haja audiência para tudo… mas por lá já passaram grandes nomes…
- Olhe, fui ver Deolinda a Fafe também nas festas.
- E que tal? Gostou?
- Claro que sim. Muita gente. Era um concerto que sempre queria ver e acabei por ver na sua terra, e sem pagar nada.
- Nos últimos tempos, Fafe tem dado outro destaque à cultura. Antes havia um bom concerto em Fafe uma vez por ano. Hoje em dia já se pode presenciar muita coisa boa com frequência (…) Em Celorico as pessoas conhecem o Cine Teatro e a sua programação?
- Olhe que nem por isso. Há gente que, como eu, conheceu por acaso. Mas ali ainda não se dá a devida importância à educação e à cultura.
- Fafe também padece do mesmo mal. É um problema português (…)
Rui Silva
7 comentários:
Muito interessante, Rui. Numa pequena conversa destacam-se tudo o que podemos dizer: as amarguras e as riquezas. Também a tónica em como Fafe sempre ganhou com as terras de Basto. Um facto. Por isso Fafe, comoá havíamos dito, fica nessa fronteira... Muito bom texto.
Rui, se eu tivesse alguma responsabilidade autárquica, independente da área, este teu texto seria tomado em consideração. Não só porque apresenta uma análise em diversificada, mas sobretudo porque se noa que as pessoas de Celorico vêm às compras a Fafe. Isto é uma indicação para uma aposta certeira no comércio local, ou seja, tentar atrair cada vez mais os nossos vizinhos... e, por outro lado, repensar as estruturas da cidade. Um exemplo rápido, quem quiser ir às compras em Fafe não tem estacionamento sem ser a pagar... todos sabemos que as pessoas procuram conforto, o que faz com que procurem mais os centros comerciais ou grandes superfícies, não seria uma ideia repensar os estacionamentos?!?!
Quem vem às compras a Fafe, não precisa de pagar estacionamento. Todas as zonas comerciais t~em estacionamento.
A juventude de Fafe e de Celorico vai muito às compras sabem onde? em supermercados em França, na Suíça, na Bélgica, na Galiza, em Angola...
Ó senhor anónimo das 11:35,
todas as zonas comerciais têm estacionamento gratuito?
Já percebi que é um dos que só vai aos hipermercados...
Tente ir a uma farmácia no centro da cidade sem pagar, das duas uma, ou mora em Fafe e vai a pé ou é daqueles que a polícia nunca multa. Os meus parabéns!
Eu sou lá da aldeia, sabe... não dá muito para deixar o carro na garagem e muito menos andar com as compras às costas!
Aqui fica o meu nome, sem medo...
Ninguém gosta de pagar estacionamento mas quando não haviam parquímetros em Fafe o que acontecia é que os moradores do centro da cidade deixavam sempre os carros ca fora, (eternamente!!) e poucos lugares libertavam para quem quisesse estacionar. Os parquímetros é um mal necessário. Com eles é mais facil estacionar em Fafe e o preço até é muito reduzido.
Adorei o texto. Abraço
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