12 novembro 2009

Uma questão de identidade


A leitura aos comentários inscritos neste blogue fizeram-me reviver situações que considerava pertencentes ao passado. Falo da crónica falta de auto-estima que os fafenses têm. Desde tempos remotos é conhecida o auto-conceito negativo que a gente de Fafe possui. Qualquer pessoa que emigrasse para o Brasil adquiria automaticamente o apelido de Guimarães. São conhecidos exemplos de pessoas que, para mais fácil identificação, percorreram 15 km para serem acolhidos por uma existência simbólica da cidade berço. Também fui testemunha, quando percorria a estrada hormonal da adolescência, de situações de conterrâneos nossos que se identificavam, para melhor salvaguardarem a sucessão dinástica, como pertencentes à comunidade vimaranense. Quase me apetece dizer que Guimarães está para Fafe como Espanha está para Portugal. Portugal sempre olhou de forma desconfiada para Espanha, não por ser mais pequeno mas por Espanha ser maior. Fafe sempre olhou para Guimarães, não por ser feia, mas por Guimarães ser demasiadamente bonita. Situamo-nos, pois, num local geográfico que é simultaneamente simbólico: Somos do Minho mas estamos com um pé em Trás-os-Montes. Esta pertença que não o é, torna-nos susceptíveis de uma não-identidade materializada na incapacidade de olharmos de frente para o problema e de estarmos permanentemente a negar aquilo que somos, como se daí tirássemos alguma satisfação. Qual a causa? Será que os leitores poderão ajudar a desbravar a nossa condição psicanalítica?

António Daniel

8 comentários:

Gil Von Doellinger disse...

A globalização galopante dos últimos anos foi de tal modo transversal que mesmo que venhamos a ter a chamada reginalização continuaremos cada vez mais cidadãos dum mundo cada vez com mais fronteiras abertas a todos os níveis. Com a quantidade de informação que hoje existe é inevitável, por muito que agarrados às raízes, cada vez nos sentirmos melhor em locais que por vezes nem conhecemos. Falta de auto-estima? Não. Só o reconhecimento que fora das fronteiras de Fafe existe em muitos locais um mundo melhor.

António Daniel disse...

Claro que «quem sou eu» tem razão. É inevitável e até saudável que assim seja. Contudo, a minha intenção não é a de questionar as razões que levam as pessoas a saírem de Fafe, mas a de questionar as relações que as pessoas têm com Fafe. É um pouco diferente. Parece-me haver características muito próprias de das pessoas de Fafe pela sua terra. Enquanto noutros locais as pessoas, embora ausentando-se, têm uma relação pouco conflituosa com a sua terra, em Fafe constrói-se fenómenos de rejeição e até de vergonha.

Anónimo disse...

eu acho que este fenómeno de rejeição acontece muito por culpa dos fafenses e da sua mentalidade. Impera a falsidade e a inveja nas gentes de fafe. e contra mim falo porque nasci em fafe, digo que sou de fafe, tenho orgulho na minha terra enquanto local mas não falo bem das pessoas de fafe...
como eu, muita gente e este sentimento de rejeição esta explicado.

OTB_pUnk disse...

Orgulho em ser fafense!!!!
É o que vos digo, por vezes até podemos tar cheios dela mas nunca a deixamos de a amar...
Eu trabalho no Porto e digo-vos: a melhor coisa do dia é quando torno a casa... sentir a harmonia de fafe e dos seus arredores....
Não vejo a vergonha em se dizer que se é de Fafe. Se eu dissesse que era de Celorico ou até de Ribeira de Pena era muito pior!!!
É claro que por vezes somos obrigados a dizer que fica ao lado de Guimarães para as pessoas descobrirem a sua localização.
Enfim...

Anónimo disse...

Caro OTB
Como fafense adoptado penso que aqui estará a questão. A tendência generalizada de rebaixar as outras terras para elevar a nossa. Há 30 anos que oiço a mesma coisa em Fafe.
Falar mal dos outros não nos inibe de culpas.
Celorico de Basto e Ribeira de Pena foram desta vez o bode espiatório...
Quanto tempo mais os fafenses vão continuar a ter estas atitudes megalómanas?...
As terras são feitas pelos seus habitantes e cada Terra tem o que mereçe e se continuar esta mentalidade, Fafe jamais sairá desta "crise de identidade Cultural".
"Morremos na praia" a falar mal dos outros....

Anónimo disse...

pois é
Pena é termos em Fafe uma mentalidade mais pró retrógrada e sem que façamos algo, Ribeira de Pena para muitos é ainda uma aldeia! em Fafe existe uma vergonha de um parque da cidade e na pasmaceira de Ribeira de Pena existe um parque de diversões PENA AVENTURA que é o maior da Península Ibérica , com uma actividade sempre com visitas não só Portuguesas , até do sul , e em Fafe nada, é assim que o Zé povinho gosta e voltaram a coloca-los, na verdade a maioria dos Fafense só tem o que merecem, abram os olhos, que já vão muito tarde, vejam as noticias do presidente da junta de freguesia ao correio da Fafe, comentem.

Anónimo disse...

A inveja é uma caracteristica do povo portugues. Somos capazes de ser solidarios mas ao mesmo tempo invejosos. Quanto às gentes de Fafe somos uns carneirinhos se comparados com algumas pessoas que trabalham cá dos concelhos vizinhos. Com grandes compexos de superioridade, servem-se dos restícios de alguns pergaminhos, e lá se vão infiltrando nas instituições, que trasformam em autenticas camorras, a quererem controlar tudo e todos.
Mas como diz o povo em terra de cegos quem tem um olho é rei

MFM disse...

Quando desço o parque da cidade, vejo ao longe a minha aldeia, é aí ao passar que a minha garganta se aperta. Percorro com os olhos os vários lugares:a casa dos meus pais, a antiga casa dos meus avós, a serração, a antiga escola, a Igreja .Tambem é lá que estão todas as minhas memorias, das pessoas que passaram pela minha vida, por algum tempo, ou por uma vida inteira.

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do Universo
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Poema De Alberto Caeiro