No início do século XX, a propósito do projecto da revista A Águia, foi grande a controvérsia entre Teixeira Pascoaes e António Sérgio. O primeiro pretendia uma linha editorial ligada às raízes, ao saudosismo, o segundo propunha uma viragem para as ideias progressistas da Europa. Esta polémica ficou conhecida precisamente por ser isso mesmo, um momento de troca de galhardetes entre quem fazia da cultura o palco da sua existência. A tensão é, pois, um elemento fundamental da vida e, inerente a si, está a dialéctica argumentativa e, consequentemente, a liberdade de expressão.
Mas, a liberdade de expressão é assim tão importante?
Há boas razões para a liberdade de expressão: se omitirmos uma opinião verdadeira perdemos a oportunidade de mudar o erro pela verdade; se omitirmos uma opinião falsa, não conseguimos reafirmar, melhorar e reconsiderar as nossas opiniões verdadeiras. Acima de tudo, o facto de podermos estar errados é que dá força à democracia, caso contrário não seriam necessárias as eleições.
As pessoas em geral não gostam disto, porque dá imenso trabalho intelectual. Mas, para mim e não só, é absolutamente essencial.
Em Fafe sempre houve pouco hábito de questionar o poder, a não ser com os habituais monossílabos e com as palavras mais que comuns. Em Fafe, desde que não seja relativamente à política, adoramos unanimismos porque facilmente nos deslumbramos com o argumento de autoridade. Independentemente da pertinência, importância ou justeza dos comentários, venham eles.
António Daniel
7 comentários:
Este texto que não está assinado, deve ser da autoria do António Daniel, mas se não for, o que vou dizer vale o mesmo: Grande texto! Já não deveria ser necessário escrever estas coisas sobre liberdade! Mas em Fafe é assim, o que se pode fazer? Depois queixam-se que não têm grande projeção exterior mesmo que arrastem milhares de visitantes... Fafe não tem sabido vender muito bem a imagem... tem um défice de marketing e, digam o que disserem, enquanto não abrirem as portas ao exterior nunca chegarão lá. Mas pronto, confesso que já me começo a habituar e a cansar de dizer o mesmo!
desculpa que te diga jovem mas isto foi uma verdadeira diarreia mental.
Até isso pode valer muito. Veja-se a obra de Piero Manzoni: «A obra intitulada Merda de Artista é um trabalho artístico do artista italiano Piero Manzoni, que consiste numa série de 300 latas contendo as fezes do próprio artista.1 Fortemente influenciada pela idéia dos ready-mades de Marcel Duchamp, Manzoni vendia as latas com fezes ao preço do peso do ouro.»
Enquanto houver quem considere "artista" um deficiente mental que vende latas de fezes e considerar isso um "trabalho artístico", nem adianta discutir, caro Pedro Sousa..
O problema é mesmo esse, enquanto existir pessoas que não conseguem ver para além do óbvio... terão mesmo de se esconder no anonimato!
Não partilho da opinião que «...Em Fafe sempre houve pouco hábito de questionar o poder, a não ser com os habituais monossílabos e com as palavras mais que comuns.»
Em Fafe há uma tradição reivindicativa que remonta ao tempo da Monarquia. Estiveram Fafenses na implantação da República e na primeira linha do combate contra a ditadura Salazarista.
Mais recentemente, no pós-25 de Abril, havia um jornal (publicado pelo falecido Dr. Carvalho) que se dedicava, quase exclusivamente, a criticar a gestão autárquica. O extinto Correio de Fafe, fazia jornalismo acutilante e agressivo, constituindo-se como a voz do contra-poder.
Só recentemente, com contratações de jornalistas para desempenho de funções municipais ou com pressão económica, é que a contestação baixou de tom, transformando-se em unanimismo.
A liberdade de expressão é um “bem” precioso, que deve ser, a todo custo, defendido e salvaguardado.
Caberá a cada um de nós usar essa liberdade com sabedoria. Falar com consciência e ouvir com atenção.
Miguel, há evidentemente casos na história que se revelaram muito apropriadamente como contra-poder. Mas, lá está, são casos... Além disso, essa forma de oposição, até no caso do Correio de Fafe era claramente colorida. O que pretendo acrescentar é o facto de, actualmente, esse contrapoder ser exercido pelas pessoas anónimas que, parece-me, sempre estiveram num plano secundário no meio dos bitaites políticos, balançando consoante a banda. Não só em termos políticos era assim, também ao nível cultural, nos gostos, etc...
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