11 maio 2013

Hospital de Fafe



Tudo o que se relacione com o Hospital de Fafe cheira-me a esturro. Com motivações facebookianas, o PSD local encetou uma cruzada pelo hospital de Fafe. Com «amigos» das mais variadas proveniências geográficas e políticas, o PSD, através dos seus responsáveis, «movimentou-se» no sentido de exercer as suas influências e competências para promoverem a ideia do Hospital de Fafe como legítimo integrante do SNS. O PS (melhor dizendo, José Ribeiro), sempre em silêncio, apresentando um médico para a presidência, mostrava que estava atento. Mais atento se mostrou, inclusive, quando se apresentou aberto a outras possibilidades de gestão. Uma boa forma de menorizar todas as iniciativas até agora do PSD e, até, de as infantilizar. Por isso se entende alguma irritação dos dirigentes do PSD e a aparente concordância da vereadora Fernanda Castro.

A ideia de gestão camarária

Embora considerando-a interessante, apesar de não ser original, não me parece galvanizante. Em primeiro lugar, porque os «arranjos» seriam mais que muitos, colocando à frente dos interesses da instituição «outros» interesses. Creio não ser necessário demonstrá-lo com exemplos. Em segundo lugar, a gestão hospitalar, creio, exige dinâmicas próprias e um conjunto de conhecimentos que não são simples de adquirir. E não vamos para analogias com as gestões escolares...

Actualmente tudo muda de forma muito rápida. De um governo de «excel» pode-se assistir a uma mudança para um governo «word». Mas não me parece muito plausível que relativamente ao Hospital de Fafe as coisas mudem de figura. Os próprios responsáveis fafenses sabem-no. A única solução seria criar um movimento nacional com todos os hospitais que alegadamente irão transitar do SNS. Não são desprezar as cidades em que isso acontecerá: Póvoa de Varzim, Barcelos, Anadia...

De qualquer forma, continuo a defender uma transferência do hospital do SNS para a Misericórdia. Sabendo a forma como os actores políticos e gestores funcionam, Guimarães sempre menorizará o hospital de Fafe. Faz parte da genética da concorrência entre terras minhotas a defesa do minifúndio. Com a entrega à Misericórdia, e desde que os direitos dos menos favorecidos estejam salvaguardados, é possível melhorar os serviços prestados.

O que realmente não vale é dizer o que José Ribeiro afirmou: «O Hospital de Fafe não fechará!» Isto são jogos de linguagem falaciosos. Como cidadão, exijo um pouco mais de cuidado com o que se afirma. 

António Daniel

7 comentários:

Alex disse...

Caro António Daniel, como consegue conjugar estes dois pontos do seu raciocínio:

"a gestão hospitalar, creio, exige dinâmicas próprias e um conjunto de conhecimentos que não são simples de adquirir."

e

" com a entrega à Misericórdia, ... é possível melhorar os serviços prestados."


Dos três em questão, Ministério da Saúde, Câmara de Fafe, e Misericórdia, como é que acha que a Misericórdia é o que tem melhores "dinâmicas próprias e um conjunto de conhecimentos que não são simples de adquirir"?

António Daniel disse...

Fácil, Alex. A misericórdia tem uma larga tradição nos cuidados a idosos. Depois, o hospital já foi da misericórdia. Por último, não faltam hospitais da misericórdia nas proximidades de Fafe que podem dar um contributo importante. A Câmara não possui este know how.

Alex disse...

Esqueceu-se do Ministério da Saúde... Não tem mais "tradição" em tratamentos de saúde? não tem mais hospitais nas proximidades de Fafe? Não tem o know how?

António Daniel disse...

Alex, concordo, mas ainda sonha com o hospital no SNS? Não me parece possível, sinceramente.

Anónimo disse...

"O PS (melhor dizendo, José Ribeiro), sempre em silêncio, apresentando um médico para a presidência, mostrava que estava atento." Ai agora do hospital até serve para justificar as escolhas do candidato do PS à camara? Então foi muito bem escolhido, é um supercandidato que irá gerir a Camara, o Hospital, o Centro de Saúde e a clinica privada!... Não será concentração a mais, de poder? É a isto que chama outras possibilidades de gestão, quando diz: "Mais atento se mostrou, inclusive, quando se apresentou aberto a outras possibilidades de gestão." Ou será que é para mais facilmente concretizar o sonho de entregarem o hospital aos privados? É que assim, também um determinado grupo privado (e ao que por aí se consta, interessado na privatização do hospital) fica mais bem posicionado!
Ah!... sim, isto explicaria muito do tão longo silencio de determinados setores, com responsabilidade na área...
Mas concordo consigo, não que a experiencia da Santa Casa da Misericórdia ao cuidar de idosos, se possa comparar; tão pouco pelo facto do hospital já ter sido da Misericórdia (porque isso foi noutros tempos, em que era mais um asilo do que um hospital), mas porque a União das Misericórdias (de que fará parte a SCM de Fafe) tem já muita experiencia na área. O mais que vai acontecer é como acontece nos tais hospitais aí da área, quando quiser marcar uma consulta, perguntar-lhe-ão se é privada ou pela caixa, no primeiro caso marcam-lhe para o dia seguinte, pela caixa só dali a 3 ou 4 meses!... Se entretanto o doente não morrer (nem optar por consulta privada), o médico que o atenderá, será o mesmo e os outros profissionais também (nem percebo porque as pessoas se assustam tanto com a saída dos hospitais do SNS; pura resistência à mudança)!...

António Daniel disse...

anónimo, está a ir ao encontro do que eu disse. Já viu o que seria a Câmara dominar as instituições que mais emprego dão em Fafe? É verdade, seria mau. Mas, sinceramente não sei se pretendiam isto. Agora, a candidatura de um médico poderá levar a fazer ligações por parte do eleitorado. De resto, quando afirmo que simpatizo com a hipótese da misericórdia gostaria que se salvaguardasse determinados requisitos e que todos, sem excepção fosse bem acolhidos. O que me parece é que, mesmo se o hospital se mantenha no SNS, que me parece uma hipótese muito ténue, os serviços continuariam a ser predominantes em Guimarães. Nós sabemos que os serviços de Guimarães olham com algum desdém para Fafe, injustamente.

Miguel Summavielle disse...

Desde 2007 que luto activamente contra o encerramento do Hospital de Fafe.
Tenho, infelizmente, desde a primeira hora, poucas dúvidas que se trata de uma inevitabilidade.
Não acredito na promessa de construção de um novo hospital. Disse-o, repetidamente, ao Dr. José Ribeiro, sempre que este o relembra para justificar a sua injustificável passividade.
Posto isto, julgo eu, será necessário ser pragmático e procurar a melhor solução possível. Para mim, sem margem para qualquer dúvida, seria manter o Hospital na rede do SNS, reforçando as suas valências. Contínuo a achar que sai mais barato transportar médicos do que doentes.
Para isso, precisamos de nos manter atentos e trabalhar seriamente, sem politiquices, defendendo o que temos e não embarcando em sonhos irrealizáveis, que só desviam a atenção do que é realmente essencial.
Temos que fazer valer os nossos argumentos, chamando os Municípios de Celorico de Basto, Cabeceiras de Basto e Mondim de Basto para a “frente de batalha” por uma causa que é do interesse de todos.
Temos que colocar a necessário pressão sobre aqueles que têm a obrigação de decidir e, para isso, defendo que se encomende, a técnicos de reconhecida valia, um estudo sobre o Hospital de Fafe que avalie: a população que serve; o seu quadro de pessoal; os meios que dispõe e as suas taxas de utilização; a sua eficiência; o seu desempenho financeiro; o seu custo real para o SNS, etc. Com dados concretos, faremos valer melhor os nossos argumentos.
Foi recentemente criada uma comissão na Assembleia Municipal, integrando elementos de todos as forçar políticas, que pretende ajudar a debater este assunto. Esperemos que obtenha resultados.