Fafe é uma das catedrais dos ralis em Portugal e uma zona única para a prática da modalidade. Se alguém, um dia, dono de um significativo lote de terras, se lembrasse de criar uma espécie de 'empreendimento' com condições excelentes para a prática de ralis, não precisava de um qualquer "Hermann Tilke" dos ralis para lhe desenhar os troços. Já existem, foi a Natureza que os criou e situam-se nas Serras de Fafe.
Diga-se o que se disser, é realmente uma pena que uma zona destas não possa receber a fina flor dos ralis mundiais, mas isso são contas doutro rosário, que não veem para o caso agora. A verdade é que quem já acompanhou, um dia, alguma especial do Rally de Portugal no Salto de Pereira, na descida do Confurco, no Salto da Pedra Sentada, em Luilhas, Lagoa, etc., conhece exatamente a força da ligação do público com Fafe.
Muitos por lá passaram muitas horas ao frio gélido da noite minhota, à chuva, como por exemplo em 2001. Poucos saberão que nesta jovem cidade do Minho, por lá já andaram povos como os Lusitanos e os Romanos, que deixaram marcas consideráveis, mas boa percentagem de todos os que já tiveram oportunidade de visitar as terras de Fafe, terá sido devido aos ralis. De que outra forma seria possível à maioria conhecer a palavra Confurco, aquela fabulosa descida no troço de Fafe, seguida da passagem no asfalto, um espetáculo que sempre foi presenciado por muitos milhares de pessoas, que nos dois lados das encostas tinham uma visão única do bailado dos carros no "desce e sobe".
Um pouco mais à frente, no Salto da Pedra Sentada, nos anos oitenta era absolutamente impressionante o facto de haver centenas de pessoas que escolhiam a estrada para ver surgir os carros no topo do salto. Nunca aqui ter havido um acidente realmente grave é quase um milagre. Até o pobre espetador que, em 1996, completamente distraído com um helicóptero que pairava sobre si, se esqueceu que caminhava em plena estrada, sendo atropelado pelo Renault Clio de Pedro Azeredo, que bem tentou travar e evitar o espetador, sem sucesso. Ironicamente, o próprio helicóptero que tentava avisar o espetador do perigo, foi o mesmo que não lhe permitiu ouvir o barulho do motor do Clio aproximar-se. A tragédia esteve perto, mas não aconteceu.
A coreografia da fuga, apesar de perigosa, há de ficar para sempre na história visual dos ralis, especialmente quando se quiser mostrar a algum pretendente a adepto, o porquê de tantos serem apaixonados pela modalidade. Na berma da estrada, nas diversas plateias, que os troços da zona proporcionam, muitos milhares testemunhavam o perigo e o espetáculo.
Como é lógico, a ligação do público ao Rali de Portugal e a Fafe desvaneceu-se muito depois de 2001. Para muitos, foi como ver a namorada fugir com um alemão. Os anos de ausência, a mudança de "residência" para palcos diferentes deixaram pouco para fazer paralelismos, e criou distância para a grande massa de adeptos.
O ano passado, durante o Porto Road Show, o ACP voltou a piscar o olho ao público do Norte chegando-se mesmo a falar de um possível "Road Show" em Fafe. Nessa altura logo ouvimos alguém comentar: "Era a p...da loucura!"
Já lá vai uma década sem Mundial, mas os troços de Fafe hão de permanecer na mente dos adeptos por muitos e bons anos, até que um dia alguém se lembre que o WRC, em Portugal, nasceu e viveu muito tempo em locais como Sintra, Fafe e Arganil, ligação essa que há de perdurar na memória e no coração dos adeptos.
In http://www.autosport.aeiou.pt
2 comentários:
Isto foi obra dos Summavielles..
Eram vicios proprios e da sua governação....
Eram "vicios" que levavam Fafe ao Mundo interio, sendo considerado dos melhores troços do Mundo.
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