Para início desta minha colaboração neste espaço de reflexão e debate ideológico sobre a nossa cidade de Fafe, ousei pegar na temática do desemprego na nossa sociedade. Bem sei que não é uma problemática exclusiva do nosso concelho, ainda mais quando a mesma incluída no contexto geral do Vale do Ave, se apresenta com verdadeiros traços de tragédia Grega. Contudo julguei (mal ou bem só os leitores me julgarão), extremamente redundante confinar-me somente às estatísticas, como todos sabemos, a ponta do icebergue. Se acontecer como julgo, que todo este processo nada mais seja que o começo do lento definhar da indústria têxtil, que desde à décadas é o motor, não só do nosso concelho mas também dos concelhos limítrofes, não deveríamos, já pensar numa espécie de “Centro de Memória e História do Trabalho da Indústria Têxtil no Vale do Ave”? O flagelo do desemprego e a criação de um centro de Memória
É um chavão, bem sei, mas bastará para isso recorrer a nossa memória, e para o modo como olhamos, para as imagens pictóricas da grande depressão de 1930, para facilmente verificarmos da actualidade da temática e do surto e flagelo social que o desemprego representa na nossa sociedade, bem como das suas possibilidades históricas dos registos actuais servirem para a posterioridade como registos históricos, ainda mais quando contados na primeira pessoa.
Deste modo o concelho constitui um espaço intensamente marcado pelos tempos áureos da indústria têxtil no Vale do Ave e evocar a história deste têxtil é assim, ir ao encontro das vivências de homens e de mulheres que desde há muito tempo, mas de forma mais intensa no último século, moldaram as suas vidas de trabalho pelos ritmos das máquinas de fiação e tecelagem.
Numa era globalizante, nesta conjuntura social, política, económica e cultural e defronte das dubiedades e mutações estruturais que actualmente afrontam o mundo globalizado, estamos na iminência de toda uma possibilidade de perda de memoria e de esquecimento colectivo no qual é fácil cair, fruto de uma era e de uma sociedade tecnológica globalizante e materialista no qual como nunca antes na nossa história, em que novos problemas tem lesado a estabilidade do conceito de identidade, o que segundo alguns autores leva a “multiplicidades de identidades” ou a “negociação de identidades”. É por isso crucial combater com todas as armas possíveis ao nosso alcance a perda de identidade regional e por sua vez a nacional. Cujo projecto de edificação de um centro de Memória e História do Trabalho da Indústria Têxtil no Vale do Ave, ligado à manutenção e preservação do passado industrial da região, faz todo o sentido.
A preservação histórica deveria passar assim a ser um projecto importante para instituições ligadas à história e a região em si: (caso da Universidade do Minho e os municípios, estes, tanto a nível individual como colectivo), o qual deveria contemplar os registos físicos do passado, bem como os registos das memórias das pessoas que vivenciaram esses momentos importantes, os quais se estão a dissipar no tempo a cada dia que passa.
É por isso fundamental que se tenha a noção global da importância da preservação e divulgação de uma história que se confunde com a da região envolvente, e que no fundo é a nosso história, e cabe-nos a nós a sua preservação.
Rui Freitas
5 comentários:
Óptima ideia. À semelhança do que já existe em algumas cidades, seria pertinente a construção de um museu da indústria Têxtil. Matéria prima e interessados não faltarão. Mais um artigo com óptimas e originais ideias para quem é responsável pelos nossos destinos ou até para a Associação Comercial e Industrial de Fafe.
Bem vindo a este forum de debate.
É, de facto, uma excelente ideia. Num colóquio organizado em 2008 pela Associação Cívica "Fafe Presente", versando o tema da defesa, preservação e aproveitamento do património histórico do concelho, já o Prof. Dr. João Paulo Avelãs Nunes (um dos palestrantes convidados)defendia a criação desse mesmo espaço.
A primeira indústria têxtil do distrito de Braga foi a Fábrica do Bugio.
A Fábrica do Ferro chegou a ser uma das maiores da Peninsula Ibérica.
Quem já saiu de Portugal (e já há bons exemplos no nosso cantinho - Minas do Lousal, Museu da Electricidade, etc.) sabe que o património industrial pode ser aproveitado turisticamente.
Pode ser que se muitos disserem o mesmo, alguém escute...
Miguel Summavielle
A ideia foi lançada e é indiscutivelmente boa!
Existem já em Fafe alguns pólos integrados na Rota do Património Industrial do Vale do Ave.
Pode fazer-se mais...claro que sim!
Vejam: www.rotanoave.com/
Caro Rui, antes de mais parabéns pela pertinência do tema escolhido, concordo contigo pois acredito que um núcleo museológico da indústria têxtil seria uma mais-valia para Fafe, nele poderia ser mostrado às novas gerações a sua evolução desde os seus primórdios ainda no século XIX até aos nossos dias, e como o crescimento de Fafe e da industria têxtil estão intrinsecamente ligados, mas temo que já seja demasiado tarde porque com o encerramento das empresas mais antigas (fábrica do ferro, bugio etc.), muito do património material está irremediavelmente perdido.
Quanto á crise na têxtil, pensei que seria o fim do sector na nossa região, mas graças a alguns empresários com visão, que não olharam apenas ao lucro imediato e que apostaram forte na qualidade, estão agora a colher os frutos da sua audácia, agora acredito que a crise serviu para separar o trigo do joio, pena que a famigerada crise tenha custado o emprego a tantos trabalhadores.
Mais uma vez parabéns, talvez um dia nos voltemos a encontrar numa qualquer empresa têxtil e se possa voltar a formar o trio d’ataque.
Não só concorco como subscrevo o que aqui já foi dito. Contudo, relembro, não basta criar é preciso dar vida! Felizmente, nos últimos tempos, os museus compreenderam que não são meros locais depositários, mas memória de tempos vividos e começaram a criar 'a noite no museu'... e outras formas de captar a atenção dos mais novos e, principalmente, das Escolas. Em Coimbra, por exemplo, o Chimico, na zona da Universidade, foi restaurado e tem listas de espera para grupos que querem participar nas actividades... Por isso, em primeiro é preciso criar, depois não esperar que as pessoas tenham curiosidade... às vezes tem de se saber provocar!
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