17 maio 2010

Os 16 de Maio


Hoje é o dia 16 de Maio. Dia de feiras francas na minha terra. Durante a tarde andei pelo espaço da feira. Como por cá se diz: andei como um gaio. Ainda há velhos que se vestem usando fato com colete e chapéu, trazendo carinhosamente os netos ou bisnetos à feira e aos divertimentos. E isso tem um valor incalculável. Porque essas pessoas trazem para este tempo uma ideia e um sentimento que, a pouco e pouco, se desvanece. Mas para mim, que teimo em andar por aí a fascinar-me com estas coisas, porque também são as minhas coisas, é um sinal de alegria e de reencontro. Na verdade, olho estas pessoas como sempre as olhei: tão simplesmente os senhores que trazem os netos à feira de Maio. Nada mais do que isto. Mas isto, hoje, é tanto! Estes fafenses das feiras de Maio vêm à feira para serem felizes e deixar felizes os seus. E este é um grande sinal de futuro. Não vale de muito andarmos com grandes teorias sobre a modernidade e pós-modernidade das feiras. O que há de poético e de futuro nisto é ver que ainda nos sentimos bem uns com os outros no espaço da feira e gostamos de levar aos 16 de Maio os nossos e encontrar por lá, com ar satisfeito, os outros que andando assim também nos satisfazem.
No meu tempo de criança os 16 de Maio eram no Largo e os divertimentos na Feira Velha. Da minha varanda via-se tudo. Hoje, já assim não pode ser. A casa do Largo já não existe e dos que comigo moravam já só vive a minha mãe. Mas o milagre do dia é saber que na festa ainda não morremos, ainda continuamos todos vivos, pelo menos no sorriso, pelo menos no som das pessoas que é o som da alegria de um povo. E a alegria de um povo é um dos mais bonitos poemas que ainda ninguém escreveu de forma tão elevada, mas que o sabemos por dentro, nós fafenses, nós os que somos daqui como uma criança é de um pai e de uma mãe, como um Homem é para sempre de um lugar que o define e lhe mostra as fronteiras do risco, da liberdade, do dia que há-de vir e nos surpreenderá como nos surpreendiam a magia dos carrosséis de Maio, em Fafe, sendo pequeno o nosso coração, mas muito longa a promessa de que nunca deixaríamos a terra, a terra que significa chão, que significa sangue, que significa o que somos com o nosso único mundo, mesmo quando não estamos e aí só conseguimos ser a tão grandiosa saudade e o seu tão íntimo e sublime reconhecimento.

Texto retirado do blog "Máquina Royal",
Escrito por Pompeu Martins, a quem agradecemos a autorização para publicá-lo no BlogMontelongo

7 comentários:

António Daniel disse...

Gosto particularmente do «largo». Quando perguntava à minha mãe aonde ia, a resposta não se fazia esperar: «vou ao largo». É no largo que nos sentimos bem. Esse largo é, simultaneamente espaço e tempo: espaço largo e tempo eterno, cheio de reencontros e esperanças. Se algum dia nos tirarem o «largo» tiram-nos a vida. Ele é símbolo e realidade. Caro Pompeu, parabéns pelo texto.

MFM disse...

No tempo em que o 16 de Maio era no largo de Fafe, as carreiras vinham apinhadas de gente. Traziam os avós, os netos,as tias, os primos, os vizinhos,algum cãozito mais atrevido tambem entrava à socapa por entre as pernas do dono aninhava-se por debaixo de um banco e lá vinha rumo a feira.Depois tirava-se a fotografia e era a magia do carrocel e aqule barulho que sabia tão bem

Helena Teixeira disse...

Olá!
Fiquei a conhecer mais um pedacinho de Fafe :)

Deixo um convite: Junte-se a nós no dia 10 de Junho, no Convento dos Frades, em Trancoso, num duplo evento: «Encontro de Bloggers e lançamento do livro "Aldeias Históricas de Portugal - Guia Turístico". Para estar presente, envie um mail para aminhaldeia@sapo.pt a solicitar o formulário de inscrição e o programa das festividades. Faça-o com antecedência, pois as inscrições são até dia 2 de Junho.

Abraço
Lena

Anónimo disse...

Pompeu Martins tem uma visão muito própria deste acontecimento e de outros. Leio regularmente o seu blog e, embora não se limite a falar de Fafe, é sobre Fafe que gosto mais de ler os seus textos.
Apesar do cargo que ocupa na Câmara, tem uma clarividência muito importante nos discursos que emprega.
É um grande nome de Fafe e este blog fazia bem em tê-lo como colaborador.

António Daniel disse...

Caro anónimo, faço minhas as suas palavras. São poucas as pessoas que conseguem atribuir uma poética à vivência quotidiana. Pompeu fá-lo de uma forma lindíssima. Espero que esse seu conhecimento da alma fafense o «alimente» ao nível da política cultural. estaremos cá para avaliar sempre com um intuito construtivo.

Rui disse...

Parabens pelo texto Pompeu.
Os 16 de Maio escrito mesmo de uma forma poética ainda que seja em prosa.
As tradições devem manter-se. As nossas feiras francas também.

Anónimo disse...

Sim espero que o Dr. Pompeu inspirado na escrita seja capaz de trazer para Fafe mais Cultura.
Fafe a nível Cultural é muito pobre.