11 janeiro 2014

A Fotografia do Poder

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=253100958183459&set=a.251607951666093.1073741829.241206306039591&type=1&theater


Não aprecio esta fotografia. Não, não é pelo seu lado estético, até porque julgo que estão todos muito bem.
Numa atitude muito recorrente no nosso país - acredito que também nos outros suceda o mesmo - os detentores de cargos políticos têm tendência em ocupar lugares visíveis em acontecimentos públicos. Há uma espécie de glorificação visual e, consequentemente, um simbolismo de poder ou do seu exercício que não concordo. Contudo, o problema não está em quem exerce o poder, mas em quem o identifica. Os políticos fazem-no porque sabem que a autoridade só se efetiva quando são vistos.distintamente, isto é, quando são protagonistas mesmo que ocasionalmente não o sejam. 
Tradicionalmente, o poder é exercido em três momentos: quando situado, no silêncio e na palavra. Os políticos assim fazem e o povo assim consente. Estas três dimensões estão presentes nesta fotografia.
1. Existe um local físico onde o poder está. Em lugar de destaque, visualmente presente, como uma espécie de pai numa das extremidades da mesa. Este poder é antigo. As suas raízes encontram-se no domínio do macho alfa. 2. Existe um silêncio. Nada dizem. A sua génese encontra-se no confessionário. Induzem o pecado. Por isso, quem fala submete-se à autoridade e espera que tudo corra conforme o previsto. Quem ouve tem a decisão relativamente à vida da pessoa. 3. A palavra. Nestes encontros, não sei se assim aconteceu no caso presente, o poder sabe qual o momento para deixar o silêncio. Depois de o gerir e de ter jogado a sua postura corporal, toma a decisão de falar. A posse da fala é a posse do poder. Nestas circunstâncias, ninguém duvida que quem fala é a única fonte de palavra legítima. Como diz Clastres (A Sociedade Contra o Estado, cap. VII), falar para o chefe é uma obrigação imperativa. A tribo quer ouvi-lo porque o seu discurso não perturba, pacifica. 

António Daniel

1 comentário:

Adolfo Luxúria Canibal disse...

Aanda eufórica toda a gente com a era da informação fechada em casa ligada à rede ou grudada à televisão na vertigem das notícias em constante circulação sempre mais e mais depressa tornou-se a grande obsessão "é a aldeia global" - explicam num júbilo imbecil, prontos a desfilar o rosário de maravilhas dos novos tempos, sem discernirem que aldeia sempre foi o sinónimo de isolamento e conformismo, de mesquinhez, aborrecimento e mexerico e que, de qualquer modo, o que verdadeiramente importa se mantém secreto. do além-mar ou da mafia julgam que tudo se pode saber econonomia ou política? o difícil é o escolher crimes de sangue relatos de amor são mais fáceis de perceber "é a aldeia global" - explicam num júbilo imbecil, prontos a desfilar o rosário de últimos acontecimentos, sem discernirem que, contrariamente ao mundo observado directamente, em que a relação com o real é absoluta, estão a consumir meros resumos simplificados da realidade, manipulados num fluxo de imagens de que são simples espectadores e cuja escolha, cadência e direcção não controlam nem têm possibilidade de verificar a veracidade e em que, finalmente, no frenesim meticulosamente planeado de dados surpreendentes, o que verdadeiramente importa se mantém secreto. o que importa é saber onde raio se oculta o poder.