06 maio 2012

Por Que Razão Somos Assim?


Li algures que não se entende como o povo do concelho de Fafe mostra-se passivo e amorfo face à possibilidade do governo central diminuir alguns serviços no nosso concelho. É verdade! De facto, excetuando alguns casos pontuais, a população tem-se mostrado quase sempre resignada. Foi assim no caso do comboio, do hospital, da PSP, da EDP, entre outros casos. Em contrapartida, verificaram-se os exageros no caso da destituição do padre, até com laivos de alguma descompostura. É estranho. É necessário refletir nisto. Como é que se faz uma espécie de levantamento popular a propósito de uma pessoa e se cai no marasmo quando o que está em causa são instituições?
Tenho uma teoria que, certamente, terá os seus defeitos. Melhor assim, trabalho para os leitores.
A minha teoria baseia-se em duas premissas: a primeira corresponde à liderança; a segunda prende-se com o exercício político.
Não é comum encontrar-se na vida em geral a geração espontânea. Dito de outro modo, as reivindicações populares não surgem do nada. Por detrás aparece quase sempre uma liderança. Esta liderança, quer seja messiânica (que não aprecia) quer seja racional (que aprecio) é capaz de fornecer às pessoa motivos para a luta. Ora, em Fafe essa liderança tem faltado. Aliás, não há líderes e não estou a ver que nos tempos mais próximos apareçam.
O exercício político verificado nos últimos anos promove este ambiente. É um exercício que alimenta muito a inércia e pouco a desenvoltura (o que não é caso raro no nosso país). É um exercício do poder que não permite a promoção da liberdade individual. Perante isto, as pessoas não se sentem motivadas e pensam que, para colmatar alguma necessidade futura, será preferível estarem  caladas.

António Daniel

12 comentários:

Alex disse...

"As reivindicações populares não surgem do nada. Por detrás aparece quase sempre uma liderança."

Por detrás aparece sempre uma injustiça. Uma injustiça evitável, digo eu.

As "injustiças inevitáveis" dão lugar a lamentos e desabafos.

As "injustiças evitáveis" são mais "injustas" e mais "revoltantes".


Essas "injustiças" do fecho das instituições foram vistas como evitáveis ou inevitáveis. E foram vistas como injustiças?

Se calhar é um problema de óculos...

António Daniel disse...

Alex, antes demais obrigado pelo comentário. Pois, talvez seja um problema de óculos pelas quantidade de ópticas que existem. Mas o seu comentário tem certo interesse. De facto, a inevitabilidade ou não remete-nos para o conceito de justiça. Ora, sabendo que justiça significa atribuir ao outro o que merece, o justo e o injusto são, por assim dizer, universais, desde que avaliados de um ponto de vista neutro. Ora, a questão é a diferença de respostas. A mim parece-me que os lamentos e desabafos decorrem de uma certa visão fatalista, resultado de um certo «abandono», a revolta é proveniente de uma vivência mais próxima e do exercício de uma liderança que, apesar de um teor mais messiânico, foi exercida com as pessoas. Na política em Fafe essa proximidade não existe porque o estilo de liderança é executado de um modo que parece ao comum dos mortais distante. Longe vão os tempos em que Parcídio, com todos os seus defeitos e virtudes, aparecia na televisão porque uma telha caiu... e a sua voz era ouvida. Evidentemente que os tempos são outros, as exigências diferentes, mas não me parecia mal se houvesse uma participação mais cívica por parte das pessoas e por quem é responsável pelo concelho.

Alex disse...

Sim, concordo que

"Que, vindo o Castelhano devastando
As terras sem defesa, esteve perto
De destruir-se o Reino totalmente;
Que um fraco Rei faz fraca a forte gente."

António Daniel disse...

Pertinente recurso a Camões.

Anónimo disse...

Concordo plenamente com o seu texto. Cada vez ficamos mais pobres e ninguém se manifesta.
Afinal, o que quremos para Fafe?
Onde estão os nossos politicos?
Parece-me que estão todos a ver a banda passar.É tempo de dizer basta. Vamos todos para a rua, lutar e reivindicar pelo que é nosso. Basta de cobardias e de pancadinhas nas costas. Maria

Anónimo disse...

Concordo plenamente com o seu texto. Cada vez ficamos mais pobres e ninguém se manifesta.
Afinal, o que quremos para Fafe?
Onde estão os nossos politicos?
Parece-me que estão todos a ver a banda passar.É tempo de dizer basta. Vamos todos para a rua, lutar e reivindicar pelo que é nosso. Basta de cobardias e de pancadinhas nas costas. Maria

P.T.N. disse...

Faço do texto do António Daniel também a minha opinião mas apenas com uma ligeira diferença. Porque razão havemos de estar sempre a criticar os políticos quando nós nunca assumimos na rua as nossas posições particulares? Não será hora de nós fazermos alguma coisa também em vez de estarmos sempre a criticar a (habitual) ineficácia política?
Onde estão os fafenses? Só se manifestam por causa do Padre Lopes? Então e as urgências... o tribunal... etc? Será que é preciso aparecer um rosto da oposição a liderar as coisas quando deveríamos ser nós, sem qualquer ligação política, a ir para a rua?! Não nos podemos deixar manipular! Temos que ter voz na rua contra as injustiças!

Anónimo disse...

A última intervenção é, na minha opinião, bastante oportuna e acertada! Totalmente de acordo!

António Daniel disse...

Agradeço à Maria a PtN e anónimos os comentários. Nós não temos grande tradição de poder da sociedade civil. Pecamos muito por isso. Também não vejo como as pessoas em geral possam mudar as coisas. Veja-se, por exemplo, as consequências das manifestações dos «facebookianos». Mesmo as grandes revoluções fazem-se com enquadramentos de líderes. Veja-se, por exemplo, a resposta dos portugueses às invasões francesas como bem retrata Vasco Pulido Valente no seu Ir Para o Maneta. Já para não falar noutras situações. Mas o que interessa é que os novos meios de comunicação trouxeram a possibilidade desta sociedade civil se manifestar. Mas fazem-no pouco. Porquê? É a resposta que busco. Mas creio que não andarei muito longe se disser que a forma como as instituições são geridas fomentou esta passividade.

Alex disse...

Então não tem havido manifestações??
Se calhar andas a ver os "canais" errados.

Vou citar só algumas deste ano:

Manifestação dos trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, pelas ruas da cidade, aberta a trabalhadores, antigos funcionários, familiares e população que culminou num plenário na Praça da República, em defesa da manutenção da empresa e dos postos de trabalho. (3/Fev)

Grande Manifestação Nacional, em Lisboa contra o medo e resignação. Mais de 300 mil pessoas responderam ao apelo da CGTP-IN e fizeram, no Terreiro do Paço, a maior manifestação desde há mais de 30 anos. (11/Fev)

Cerca de dois mil profissionais da GNR, de todo o País, repudiaram o novo regime remuneratório e a extinção do seu subsistema de saúde, num «Passeio contra as injustiças», em Lisboa. (1/Mar)

Greve na Transtejo, prosseguindo a sua luta contra a alteração das escalas de serviço, contra a redução de carreiras e pela discussão e negociação do seu AE (28/Mar)

Manifestação Nacional em Defesa do Serviço Nacional de Saúde (organizada pelo Movimento de Utentes dos Serviços Públicos), em Lisboa, Porto e Braga (14/Abr)

Greve e manifestação nacional dos guardas-florestais, em Lisboa, com concentração no Largo do Carmo, seguida de desfile até ao Terreiro do Paço, para defronte da secretaria de Estado da Administração Interna e, em seguida, junto ao Ministério das Finanças. (18/Abr)


(ver uma lista mais completa aqui: http://jangada-de-pedra.blogspot.pt/2012/04/lutas-de-2012-1-parte.html )

António Daniel disse...

Mais uma vez, Alex, obrigado por ter comentado. Sim, de facto tem havido manifs mas não se pode dizer que sejam oriundas da sociedade civil. Todas elas são muito bem organizadas. Com o seu comentário não queria fugir ao essencial que era, no fundo, questionar-me sobre a razão pela qual isso acontece pouco em Fafe quando esta em causa determinados serviços públicos. Uma das últimas, pelos menos as televisionadas, referiu-se à saída de um médico do hospital, há vinte anos. Resultado, as pessoas manifestam-se quando existe cumplicidades, proximidades, o que aconteceu a propósito do padre Lopes.
Mais uma vez, obrigado pelo seu comentário.

Alex disse...

Acredito que sim, que as pessoas se manifestam quando se trata de algum assunto que os toca directamente.

Sendo assim, se não se manifestam será por não sentirem que a perda dos serviços públicos os afecta directamente...

Ainda por cima disseram-lhes que os funcionários públicos (e por arrasto os próprios serviços) são uns preguiçosos, mal dispostos, e privilegiados...

E agora, acabando por concordar contigo, se os dirigentes locais, que lhes são próximos, também não se manifestam, encontrarão sentido em se manifestarem?