19 setembro 2011

O Património Não É "Descartável"

O concelho de Fafe, como todos verificamos, não é um território onde o Património construído tenha grande imponência e monumentalidade. Contudo, Fafe é fértil em vestígios que testemunham cerca de seis mil anos de História, uma ocupação humana que teve a sua génese durante a pré-história.
Em todas as trinta e seis freguesias que constituem este Município, encontramos Património Histórico que, apesar da sua aparente “pacatez” revela antigas vivencias que importa preservar e valorizar.
Mais de duas centenas de sítios arqueológicos, templos e pontes medievais, casas senhoriais armoriadas, estruturas de uma ruralidade de antanho, casas “brasileiras”, antigas unidades industriais, usos e costumes… Será que esta herança do passado não tem valor?
Para muitos serão “velharias” sem qualquer significado, pedras “encardidas”… E os historiadores cá do “burgo”, aqueles que relatam a nossa História, qual tem sido a sua acção relativamente ao Património, ao seu principal objecto de estudo? Será que para esses investigadores o Património é como cobaia de um qualquer laboratório de ciências naturais?
O conhecimento dá-nos também responsabilidades acrescidas no que concerne à salvaguarda desses bens únicos, tantas vezes abandonados, entregues à incúria humana e à igualmente impiedosa acção dos factores naturais de erosão.
Qual é o papel dos escribas da nossa História relativamente ao Património ameaçado, agredido e até destruído?
Escrever livros é importante, perpetuar aspectos da nossa memória colectiva através da escrita impressa tem muito mérito. Mas, quantas vezes esses intelectuais, dotados de profundo conhecimento científico, vêm publicamente pugnar pela preservação dos nossos Imóveis Históricos?
O leitor mais esclarecido estará, agora, a lembrar-se do Mestre Miguel Monteiro. E com toda a legitimidade! O prematuramente desaparecido historiador investigou, e também escreveu livros, a grande diferença é que Miguel Monteiro apreciava o Património, queria vê-lo conservado e valorizado, amou este rincão minhoto como poucos e por isso travou batalhas em prol da do nosso Património Histórico.
Apesar de adepto do virtual, Miguel Monteiro foi sempre um protector dos bens materiais que usou para estudo sem o abandonar.
Fafe tem ainda um valioso Património que, independentemente da sua monumentalidade, urge preservar e valorizar. Os “velhos” imóveis históricos têm ainda muita História para contar, destruí-los é apagar páginas importantes da nossa memória colectiva.

Jesus Martinho

3 comentários:

Miguel Summavielle disse...

Caro Jesus Martinho,
Obrigado por continuar a lutar pela preservação e salvaguarda do nosso património. Acredite que a sua voz chega mais longe do que pensa e pesa mais do que imagina.
Num momento de escassez de meios financeiros, faz ainda mais sentido falarmos do que necessitamos preservar.
Na minha opinião, deveria fazer-se um plano de acção/gestão para o Património Municipal, procurando encontrar soluções, públicas ou privadas, que levem à sua valorização, única forma de tornar possível pensar-se na sua recuperação.
Há tanto para fazer e tão pouco se tem feito. Falta imaginação, motivação e capacidade.
Bem, pelo menos, a alguns…

António Daniel disse...

Jesus Martinho tem sido das pessoas que mais pugna pelo património fafense. Desde já lhe digo que tem aqui um fã. Continue a lutar e a sensibilizar. O seu texto é um touché.

António Daniel disse...

Esqueci-me de dizer que realmente concordo com o Jesus Martinho quanto à necessidade da intelectualidade fafense, lá o que isso for, calçar galochas, como o Miguel sempre o fez.