02 setembro 2009

Nós e as ruas


Dizia um leitor deste blogue que falta fazer um levantamento linguístico, nomeadamente fonético, das influências que durante tantos anos moldaram o «linguajar» fafense em particular e minhoto em geral. Embora desconheça a existência de estudos académicos, é bem possível que, no âmbito da história da língua, haja já trabalhos efectuados. Se os houver, seria interessante a Câmara Municipal investir na sua publicação e publicitação. Se tem prémios para as monografias e para os doutores também podia incentivar estudos que remetessem para a nossa cultura. Fica o repto.
O comentário que suscitou este repto também contribuiu de forma significativa para uma reflexão que decorreu de uma constatação acerca da toponímia da nossa cidade. Vivi muitos anos numa rua que, em forma de linha angular com outras duas ruas, designava-se Travessa da Rua do Maia. Era Travessa precisamente por que servia de marcação angular com a Rua do Maia e a famigerada Ponte do Ranha. Eram formas designativas que se tornaram familiares a todos e, por isso, de fácil identificação. Num certo dia fui interpelado na rua por um indivíduo que procurava a Rua António Sérgio. Educadamente apresentei as minhas desculpas pela minha ignorância, pois não sabia da sua localização. Até que… bom, até que, ao deslocar-me às minhas vísceras primevas, deparei-me com a placa Rua António Sérgio. Bom, António Sérgio foi uma personalidade importante na nossa cultura. Ao nível da pedagogia e da luta cultural, nomeadamente no projecto A Águia, teve um papel relevante. Contudo, o Maia possivelmente exerceu um papel relevante para Fafe, muito mais importante do que António Sérgio, apesar de não possuir a sonoridade nobilitante deste. Sei que, por vezes, salta-nos a vergonha de sermos pequenos e, por isso, desejamos elevar-nos no pedestal do conhecimento cultural através da toponímia. Mas isto é provincianismo. Urbanidade é acreditarmos em nós e afirmarmo-nos por aquilo que somos. Sim à Rua do Maia e respectiva Travessa.

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