31 maio 2013

15.º Portugal de Lés-a-Lés 2013

 
Maratona motociclista que reúne pessoas das mais variadas origens, com um limite de mil inscrições, começa este ano em Fafe. Momento importante para a promoção de Fafe. Com início na Praça 25 de Abril, irá percorrer nesse dia várias zonas do concelho, estendendo-se depois até ao Algarve (Aljezur). Mais informações: http://www.fmotoportugal.pt/artigo.php?id=179501#sthash.ohrDeSPP.dpbs

29 maio 2013

O Meu Cinema Paraíso

Parece o reclame de um salão de cabeleiro unissexo. "Sansão & Dalila". Desinteresso-me primeiro, mas ele está ali mesmo à minha frente, colado na carruagem do metro, e de repente começa a exercer sobre mim um fascínio inesperado e misterioso. Olho melhor, a ver se percebo o que se passa comigo. Ah!, afinal é a ópera de Camille Saint-Saëns, que vai à cena no Coliseu do Porto. É "Sansão e Dalila". O e não é comercial, é apenas truque gráfico, modernice. Pronto, está tudo esclarecido.
Mas não estava. O anúncio continuava a chamar por mim. Que raio de poder hipnótico poderia ter aquele pedaço de papel plastificado? As palavras mágicas não paravam de ecoar na minha cabeça, "Sansão e Dalila", "Sansão e Dalila", "Sansão e Dalila"... Resolvi-me, levantei-me do meu lugar, dei dois passos em frente, tirei os óculos, semicerrei os olhos e tentei espreitar para dentro do reclame. O metro apitou, uma, duas, três vezes, e o reclame abriu-se num clarão como se fosse o meu espelho de Alice, puxando-me pelos colarinhos e levando-me aos confins do meu passado, numa viagem instantânea até ao tempo em que eu era um miúdo.
Éramos todos uns miúdos. E íamos em bando até à porta da D. Laura Summavielle, filha, que morava à beira da Igreja Nova. Os Summavielles (Sumaviéis, na versão fafense) eram os donos do Teatro-Cinema de Fafe, do Cinema. E nós íamos pedir à D. Laura, que devia ser o melhor coração da família e para mim era o melhor coração do mundo, que nos levasse a ver o filme de graça. E a boa senhora levava.
A coisa tinha o seu ritual. Esperar à porta do cinema não valia, tínhamos que ir mesmo a casa da D. Laura, que também não era longe. Éramos para aí uns seis ou sete, às vezes menos, consoante o lado para que tinham acordado os pais de cada qual, e devíamos lá chegar pelo menos com uma boa meia hora de avanço em relação à hora de saída prevista da senhora. Chegávamos e esperávamos. Não se batia à porta, não se tocava na campainha, esperávamos apenas, calados como ratos, porque o mais pequeno ruído podia deitar tudo a perder.
A senhora saía, encarava-nos sempre com um grande sorriso e nós continuávamos sem dizer nada, nem era preciso. Púnhamo-nos atrás dela, em fila, como pintainhos seguindo a mãe galinha, e, agora que penso nisto, acho que devia ter sido uma coisa bonita de se ver, aquele extraordinário grupo a atravessar o Largo da Igreja e a descer até ao Cinema, na máxima compostura e no mais religioso silêncio.
A D. Laura entrava e nós ficávamos cá fora, bem guardados pelo Sr. Leitão porteiro, que era mau como as cobras e vestia um capote castanho, com botões dourados e gola vermelha, que até parecia um general soviético, embora na bilheteira é que estivesse o Sr. Castro, comunista e alfaiate.
Perdíamos os desenhos animados, perdíamos os "documentários", mas na horinha do arranque do filme a sério vinha a ordem da D. Laura e imediatamente desatávamos a correr Cinema acima, dois andares a bater chancas em chão de soalho com escarradores, numa trovoada que quase deitava a casa abaixo, até chegarmos ao nosso sítio. Só ali voltávamos a portar-nos bem, sempre perante o olhar bondoso e compreensivo da nossa benfeitora, que, do seu camarote ao lado da cabina de projecção do Sr. Reinaldo Pires, nos lançava mais um sorriso, com o dedo de chiu sobre os lábios finos.
O nosso sítio era uma frisa e cheirava a veludo velho e tabaco. Quase que pertencíamos ao filme. O som dos altifalantes entrava-nos pelo corpo dentro, estremecia-nos, eu era do tamanho dum buraco do nariz do Maciste e tinha que me afastar para não ser sugado. Foi ali que eu conheci pessoalmente o Ursus, o Spartacus, o Ben-Hur e o Hércules e podem crer que aqueles cenários de papelão só pareciam de papelão. Eu sei, porque estive nos filmes. Fui eu que ajudei o Sansão a dizer "morra Sansão e todos os que aqui estão", para eu e ele nos vingarmos da traidora da Dalila e acabarmos com o filme logo ali, porque aquilo não se faz, e não me venham dizer que ele não disse nada disto.
Perguntassem ao "Sandim". Ele é que ia à estação de comboios "buscar os artistas", num carrinho com rodas de madeira. Mas não trazia os beijos todos. Não cabiam nas bobinas, decerto. As cópias dos filmes eram velhas, cheias de cortes, no melhor e mais quentinho passavam sempre à frente. Como o Jornal da Igreja Nova trazia uma sinopse das películas do fim-de-semana, nós achávamos que o Sr. Arcipreste fazia um visionamento prévio e culpávamo-lo por aquele imperdoável acto de censura. Mal eu sabia que ainda havia de ser feito um filme sobre esta história, mas em italiano.
No meu Cinema, no tempo em que o que eu queria era crescer para ver filmes "para maiores de 17", havia também umas senhoras da Rua de Baixo e de Santo Ovídio que faziam de arrumadoras e tomavam conta do buffet, onde serviam gasosas, laranjadas, café de cafeteira e rebuçados mulatos. Ao intervalo, enquanto o ardina entrava plateia dentro com a edição do Norte Desportivo de domingo à noite, já com os resultados e relatos dos jogos todos, os espectadores recebiam umas senhas para irem lá fora tomar café em condições.
No meu Cinema liam-se as legendas em voz alta para os analfabetos. O respeito e a, como hoje se diria, segurança eram zelados pelo Senhor Barroco, pelos Sr. José e Sr. António do Santo e pelo Sr. António Quim, que eu sempre confundi com o outro, o de "Zorba, o Grego". Foi na companhia desta gente que eu cresci. Mal comecei a ganhar, passei a ter bilhete reservado para todas as sessões e, depois do 25 de Abril, até vi o "Último Tango em Paris". Duas vezes.

Deixei Fafe no início da década de 1980 e o meu Cinema entrou em ruína. Pensei que outros tivessem ficado a tomar conta, mas enganei-me. Depois de 25 anos de inactividade, muita politiquice e um impressionante trabalho de recuperação, o Teatro-Cinema de Fafe reabriu portas em 2009, sem Maciste, sem Sansão nem Dalila, sem o Sr. José do Santo e sem a D. Laura Summavielle. Já lá não estão, já cá não estão. O novo Teatro-Cinema de Fafe, que só conheço por fora, funciona agora como entreposto cultural camarário. O que é certamente aplaudível e tem muito mais cagança, mas não é a mesma coisa.

Hernâni Von Doellinger.

http://tarrenego.blogspot.pt/2012/04/o-meu-cinema-paraiso.html#comment-form

21 maio 2013

Geocaching

Não querendo correr o risco de soar como um certo anúncio publicitário e apesar de ser ainda uma jovem, lembro-me perfeitamente do tempo em que não havia tecnologia, nomeadamente o telemóvel, a internet e o GPS, que hoje fazem já parte das nossas vidas. Sem Facebook e outras redes sociais, sem máquinas digitais nem internet para "navegar", recorri frequentemente, na minha adolescência, a jogos  tradicionais para passar o tempo e me divertir na companhia de amigos.
Se, por um lado, o "boom" tecnológico que presenciámos em meados dos anos 90, trouxe a sensação de que hoje em dia vivemos de olhos colados em ecrãs e a ideia de um bom jogo está intimamente ligada com a ideia de estar sentado e imóvel, em frente a uma TV ou PC, mergulhados em fios e comandos cheios de botões, completamente alheados do mundo que nos rodeia; por outro lado, será inegável que a tecnologia nos trouxe um conforto e um outro tipo de divertimento ao qual não teríamos acesso se essa tecnologia simplesmente não existisse. Desta forma, apesar de reconhecerem os óbvios benefícios da evolução tecnológica, muitos julgam que o impacto negativo que ela tem nas nossas vidas será um mal necessário - a vida sedentária, os elevados índices de obesidade, a abstinência de exercício físico e privilegiar o mundo virtual em detrimento do mundo real.
Para contrariar esta ideia tive, há pouco tempo, contacto com algo que me transportou para os inícios da minha adolescência - um jogo de caça ao tesouro. Este não é o jogo tradicional de caça ao tesouro (esse já todos conhecem) mas sim um aproveitamento dessa ideia quase primitiva que todos temos, combinada com a tecnologia do presente. Deram-lhe o nome de Geocaching.
O Geocaching (ou Cache Hunt) consiste, de forma básica, na criação de caches (caixas, pacotes ou qualquer tipo de recipiente, das mais variadas formas e tamanhos) que são escondidas em sítios específicos. Os participantes, através de coordenadas de GPS divulgadas através de um site na internet, têm como objetivo descobrir essas caches, registar lá o seu nome (ou alcunha) para que possam provar que a descobriram e voltar a guardá-la, no mesmo sítio, para futuros participantes.
Confesso que me senti algo envergonhada por conhecer este jogo há tão pouco tempo, uma vez que já existe uma enorme comunidade envolvida - principalmente de jovens - tanto a nível mundial, como também ao nível do nosso país e do nosso concelho. È notável o número de pessoas que participam  nesta atividade lúdica bem como o seu grau de dedicação a um jogo que, embora possa não parecer, vicia todos aqueles que nele participam. Começa-se muitas das vezes por um acaso, porque se tem um amigo que já participou ou porque se ouviu falar que era interessante, mas depois torna-se numa alucinante e divertida aventura a que ninguém quer faltar.
Em Fafe existe já uma comunidade muito significativa de "caçadores de tesouros" que participam com empenho neste novo conceito e com ele dão a conhecer o Concelho e a nossa cultura local. A colocação de caches em sítios emblemáticos da maioria das freguesias de Fafe em conjunto com a descrição histórico-cultural daquele local, fazem do Geocaching uma combinação perfeita daquilo que de melhor a tecnologia nos pode proporcionar. Assim, parece-me que os jovens começam a convencer-se de que para se divertirem não precisam necessariamente de estarem sentados em frente ao computador ou à TV e que podem ser conhecedores da História e património locais sem terem necessariamente que estudar sobre esses assuntos. É uma aprendizagem subtil e divertida que, precisamente por isso, se entranha facilmente nas mentes e nas vidas dos participantes.
Com os dias de Verão que estão aí a chegar, aconselho vivamente a todos os fafenses, dos 8 aos 80, a experimentarem este "jogo" - vão utilizar a tecnologia em prol de uma saudável e produtiva aventura e vão conhecer muito do património do nosso concelho. Sozinhos ou acompanhados, com espírito competitivo ou apenas para passar uma boa tarde, esta combinação de tradição com tecnologia é, reitero, perfeita.
Aos impulsionadores e principais organizadores deste projeto em Fafe desejo que sejam cada vez mais e que continuem a divulgar o nosso concelho dessa forma tão nobre e tão jovial.
Para saber mais sobre esta atividade consultem www.geocaching.com

Vanessa Barata

19 maio 2013

Distribuição de “propaganda” política em forma de convite!


Em nada me surpreende este gesto do executivo municipal!
Primeiramente porque conforme já o aqui referi diversas vezes sou militante do PS, conheço por dentro a podridão em que o meu partido se tornou nos últimos anos, sobretudo ao nível local, uma espécie de “Monarquia” em que o seu rei D. José Ribeiro corta e prega, sentenciando todos aqueles que se opõem as suas ideias.
Este enxameia a “máquina” com “assessores” da sua confiança, (Carlos Mota, Adérito, Daniel Bastos, e afins) subaproveitando a capacidade dos que efetivamente poderiam contribuir para a musculação do partido. Ostentando-se quase sempre como um moralista, mas daqueles de trazer por casa…
Mas voltemos à propaganda, que além de deplorável assume uma índole muito pouco democrática, em nada condicente com os valores éticos e morais de uma sociedade que se diz livre.
Mas o que me inquieta não é o gesto nem mesmo os tiques ditatoriais com que há muito se “chefia” a autarquia de Fafe.
Surpreende-me e entristece-me acima de tudo a passividade com que os funcionários se deixaram e continuam a deixar controlar, maniatados, como se a liberdade de voto e de expressão depende-se de um qualquer indivíduo ou mesmo de um qualquer executivo.
Há dias discutia-se no parlamento uma proposta do partido “Os Verdes” onde os mesmos queriam pôr alunos a estudar a Constituição da República, digo eu, o problema não está nos alunos, está nos pais dos alunos, ou seja nos Políticos, que há muito esqueceram o que é a república quanto mais os seus elementares “pilares” de constituição…  
Mas tranquilizem-se os funcionários e acima de tudo os Fafenses, porque o VOTO continua a ser livre e secreto (por enquanto)!
E não valerá de muito o referido senhor dizer que agora se vai zangar, tal como o fez no jantar do PS 25 de Abril, porque não mete medo a ninguém…
Portanto se o “Vimaranense” Raul Cunha tenciona liderar o executivo do município de Fafe deverá “descolar-se” destes gestos pouco democráticos.
(Como diz o ditado: Diz-me com quem andas, e dir-te-ei quem és).
PS: Uma sugestão para o próximo livro do Daniel Bastos: “O Rei D. José Ribeiro”.
Esperemos apenas que este o escreva fora do horário de trabalho… Estamos a ficar um pouco fartos de pagar aos incompetentes para fazerem que trabalham…

Miguel Correia

16 maio 2013

Em Memória da Burra do Reigrilo


Vou directo ao assunto: a corrida de jericos faz falta. Olho para o programa das Feiras Francas de Fafe, que começaram ontem, e o que vejo, marcada para a tarde de hoje, é a "corrida de cavalos a passo travado". Apenasmente e, ainda por cima, estigmatizada por essa denominação assaz amaricada, "passo travado", só faltava mesmo dizer-se que as cavalgaduras também vão de salto alto. Mas burros é que nada, e logo nos tempos que correm. Parece impossível.
Lembro-me muito bem como era. Havia a corrida de cavalos, sim senhor, coisa amadora, com montadores e montadas da terra e arredores, que mediam forças por entre um mar de gente cheia de entusiasmo, chapéus e vinho, na mais nobre rua da vila. No empedrado onde costuma terminar a etapa da Volta a Portugal em Bicicleta. Partiam em frente ao Café Império e iam dar a volta na Cafelândia, ainda não havia rotunda, com as ferraduras novas a chisparem por todos os lados e alguns animais, de travões bloqueados, a espargatarem contra vontade para um 10 de nota artística nos Jogos Olímpicos e os donos de focinho no chão. Ao Império regressavam apenas três ou quatro conjuntos completos e o pódio era discutido já depois de cortada a meta, à força de varapau, ameaças de tiros e polícia, com a multidão a tomar diferentes partidos, de cabeça e chapéus perdidos, mortinha por também molhar a sopa. Isto eram as pessoas, os cavalos não se metiam. Mesmo os cavalos que tinham terminado a prova sozinhos, apesar de um tudo-nada desorientados, mantinham o fair play, viravam as costas à confusão e iam procurar os donos mercurocromados para pedirem desculpa pelo mau jeito. Quanto ao júri, ponderava criteriosa e responsavelmente todos os argumentos em discussão, sobretudo os argumentos que metiam pistola, e depois entregava a taça às primeiras mãos que a agarrassem.
O melhor vinha a seguir. Era a corrida de burros, que não era bem uma corrida, porque os burros recusavam-se terminantemente a correr. Davam uns passos, nem sempre no sentido correcto, e se calhar às vezes não havia vencedor. Mas o povo ria-se. É preciso que se note, porém, que os burros portavam-se assim não por serem burros mas por serem ignorantes. Na verdade, naquele tempo eles ainda não sabiam do estudo da Universidade de Londres que acaba de descobrir que os burros não são animais estúpidos nem teimosos. Serão surdos ou não compreendem inglês, quando muito, mas agora já sou eu a extrapolar.
O Reigrilo tinha uma burra que se chamava a burra do Reigrilo. O Reigrilo era tão teimoso como a burra, portuguesa e analfabeta, mas bebia muito mais. Eu nunca na vida vi o Reigrilo sóbrio. A sorte dele, quando saía do tasco do Paredes em adiantado estado de fermentação, era exactamente a burra, que o levava a casa, submissa e em piloto automático, debaixo de um chorrilho de insultos e chibatadas absolutamente imerecidas. Eu tinha medo do vinho do Reigrilo e a burra parecia que também.
Creio não cometer nenhum erro histórico se afirmar que a burra do Reigrilo só fazia frente ao dono pelos "16 de Maio", na corrida que nunca era. O Reigrilo, altamente decilitrado, aparecia sempre, para incómodo da organização e gáudio da populaça. Podiam dar a partida quantas vezes quisessem: a burra do Reigrilo não saía do sítio, apesar das bordoadas impiedosas que apanhava, e se se mexia era apenas para deitar o dono de cangalhas, uma e outra vez, numa vingança anual e certamente bem amadurecida, ali mesmo onde a humilhação do homem podia ser maior.
Por falar em humilhação. Soube-se ontem que a sorte grande do desemprego já sorri a mais de um milhão de portugueses, números oficiais. Não sendo tão bom como uma corrida de jericos, é, no entanto, uma alegre notícia para todos os felizes contemplados, provavelmente a melhor do ano - no disléxico léxico de Pedro Passos Coelho. Quem sabe até se não estará aqui a oportunidade de que o povo carece para resolver enfim atirar com a albarda ao ar.
 
Hernâni Von Doellinger, http://tarrenego.blogspot.pt/2012/05/em-memoria-da-burra-do-rei-grilo.html

14 maio 2013

A Liberdade de Expressão é Importante?

No início do século XX, a propósito do projecto da revista A Águia, foi grande a controvérsia entre Teixeira Pascoaes e António Sérgio. O primeiro pretendia uma linha editorial ligada às raízes, ao saudosismo, o segundo propunha uma viragem para as ideias progressistas da Europa. Esta polémica ficou conhecida precisamente por ser isso mesmo, um momento de troca de galhardetes entre quem fazia da cultura o palco da sua existência. A tensão é, pois, um elemento fundamental da vida e, inerente a si, está a dialéctica argumentativa e, consequentemente, a liberdade de expressão.
 
Mas, a liberdade de expressão é assim tão importante?
 
Há boas razões para a liberdade de expressão: se omitirmos uma opinião verdadeira perdemos a oportunidade de mudar o erro pela verdade; se omitirmos uma opinião falsa, não conseguimos reafirmar, melhorar e reconsiderar as nossas opiniões verdadeiras. Acima de tudo, o facto de podermos estar errados é que dá força à democracia, caso contrário não seriam necessárias as eleições. 
 
As pessoas em geral não gostam disto, porque dá imenso trabalho intelectual. Mas, para mim e não só, é absolutamente essencial.
 
Em Fafe sempre houve pouco hábito de questionar o poder, a não ser com os habituais monossílabos e com as palavras mais que comuns. Em Fafe, desde que não seja relativamente à política, adoramos unanimismos porque facilmente nos deslumbramos com o argumento de autoridade. Independentemente da pertinência, importância ou justeza dos comentários, venham eles.
 
 
 António Daniel

13 maio 2013

Opinião: Das Jornadas Literárias


Diogo Vasconcelos
In Notícias de Fafe, 10/05/2013

11 maio 2013

Hospital de Fafe



Tudo o que se relacione com o Hospital de Fafe cheira-me a esturro. Com motivações facebookianas, o PSD local encetou uma cruzada pelo hospital de Fafe. Com «amigos» das mais variadas proveniências geográficas e políticas, o PSD, através dos seus responsáveis, «movimentou-se» no sentido de exercer as suas influências e competências para promoverem a ideia do Hospital de Fafe como legítimo integrante do SNS. O PS (melhor dizendo, José Ribeiro), sempre em silêncio, apresentando um médico para a presidência, mostrava que estava atento. Mais atento se mostrou, inclusive, quando se apresentou aberto a outras possibilidades de gestão. Uma boa forma de menorizar todas as iniciativas até agora do PSD e, até, de as infantilizar. Por isso se entende alguma irritação dos dirigentes do PSD e a aparente concordância da vereadora Fernanda Castro.

A ideia de gestão camarária

Embora considerando-a interessante, apesar de não ser original, não me parece galvanizante. Em primeiro lugar, porque os «arranjos» seriam mais que muitos, colocando à frente dos interesses da instituição «outros» interesses. Creio não ser necessário demonstrá-lo com exemplos. Em segundo lugar, a gestão hospitalar, creio, exige dinâmicas próprias e um conjunto de conhecimentos que não são simples de adquirir. E não vamos para analogias com as gestões escolares...

Actualmente tudo muda de forma muito rápida. De um governo de «excel» pode-se assistir a uma mudança para um governo «word». Mas não me parece muito plausível que relativamente ao Hospital de Fafe as coisas mudem de figura. Os próprios responsáveis fafenses sabem-no. A única solução seria criar um movimento nacional com todos os hospitais que alegadamente irão transitar do SNS. Não são desprezar as cidades em que isso acontecerá: Póvoa de Varzim, Barcelos, Anadia...

De qualquer forma, continuo a defender uma transferência do hospital do SNS para a Misericórdia. Sabendo a forma como os actores políticos e gestores funcionam, Guimarães sempre menorizará o hospital de Fafe. Faz parte da genética da concorrência entre terras minhotas a defesa do minifúndio. Com a entrega à Misericórdia, e desde que os direitos dos menos favorecidos estejam salvaguardados, é possível melhorar os serviços prestados.

O que realmente não vale é dizer o que José Ribeiro afirmou: «O Hospital de Fafe não fechará!» Isto são jogos de linguagem falaciosos. Como cidadão, exijo um pouco mais de cuidado com o que se afirma. 

António Daniel

06 maio 2013

Até Onde Pode Ir a Demagogia

A população da Lagoa apresentou um abaixo-assinado à Junta de Freguesia de Várzea Cova, no qual declarava expressamente pretender que o Exmo. Sr. Presidente da Junta de Freguesia de Várzea Cova, no seguimento e em cumprimento do que assumiu na “reunião pública” em que a população do lugar da Lagoa manifestou vontade de pertencer exclusivamente à Freguesia de Aboim, levasse o assunto a discussão na próxima Assembleia de Freguesia, propondo a aprovação de uma deliberação que permita cumprir a vontade expressa da população.
No passado dia 29 de Abril, a Assembleia de Freguesia de Várzea Cova reuniu para aprovar as contas de 2012 e o assunto da Lagoa foi discutido. Tendo acompanhado o processo desde a sua génese, fiz questão de estar presente.
Foi aprovada, por unanimidade, uma proposta que prevê a marcação de uma Assembleia de Freguesia extraordinária para debater a questão da Lagoa, para além de criar uma comissão, composta por 2 elementos da Junta e 2 elementos da Assembleia de Freguesia que, em conjunto com o Sr. Presidente da Câmara, Sr. Presidente da Assembleia Municipal de Fafe, vão, junto da UTRAT (Unidade Técnica para a Reorganização Administrativa do Território – Comissão da Assembleia da República a quem compete gerir o processo da reorganização administrativa do território), procurar uma solução para o assunto.
Questionei o Sr. Presidente da Assembleia de Freguesia sobre qual seria o objetivo da dita comissão, uma vez que a Junta de Freguesia já se tinha pronunciado favoravelmente sobre a alteração aos limites da freguesia que permitirão incluir toda a Lagoa na futura União de Freguesia de Aboim, Felgueiras, Gontim e Pedraído.
A resposta não foi esclarecedora e fico convencido que apenas pretende branquear a posição do Partido Socialista em todo este processo. Demagogicamente, ao criarem uma comissão integrando os Presidentes da Câmara e Assembleia Municipal, tentam “limpar a face” e “emendar a mão”.
Mas, nesta sessão da Assembleia de Freguesia, a demagogia não se ficou por aqui.
Todo o “estado maior” do PSD de Fafe esteve presente na reunião, em claro trabalho eleitoral. É estranho mas não deixa de ser legítimo. Mais difícil de entender é a posição que o candidato Dr. Eugénio Marinho defendeu na Assembleia: após as eleições, alterar a Lei, desanexando Várzea Cova de Moreira de Rei e juntando-a à União de Freguesias de Aboim, Felgueiras, Gontim e Pedraído.
Claro que esta hipótese resolveria o assunto da Lagoa, que ficaria a pertencer à mesma freguesia, mas alguém acredita que é possível? Como se pode prometer à população que se vai lutar para alterar uma Lei que tantos incómodos já causou? Que tão dificilmente passou na Assembleia da República. Uma Lei, diga-se, do Ministro Relvas, colega Social Democrata do Dr. Eugénio Marinho. Demagogia pura!
Havia um refrão de uma música que, salvo erro, dizia: Demagogia, “feita à maneira”, é como queijo, numa ratoeira.

Miguel Summavielle

02 maio 2013

Confraria da Vitela Assada à Moda de Fafe


Foi apresentada no Salão Nobre dos Paços do Concelho, a ideia da formalização da “Confraria da Vitela Assada à Moda de Fafe”.
O Presidente da Naturfafe, Vitor Moreira, considerou que “após alguns anos de de tentativas de promoção da vitela assada, de uma vez por todas se resolveu avançar, como um primeiro passo para a certificação”.
Recorde-se que a certificação é importante para a promoção deste prato tão caraterístico de Fafe e que é Sui generis na gastronomia portuguesa. A autarquia quer que a Vitela Assada à Moda de Fafe, faça parte de um roteiro turístico/gastronómico, que referencie o concelho a nível nacional e internacional.
Trata-se de um grande momento para a gastranomia fafense, pois pela primeira vez há uma unanimidade de critérios para que se avance com um projeto deste género que irá, posteriormente, lutar pela respetiva certificação.
Recorde-se que em 2000, o Município realizou o I Festival Gastronómico “Vitela Assada à Moda de Fafe” que teve como objetivo fixar o método e as técnicas de confeção do receituário “Vitela Assada à Moda de Fafe”, e com o apoio do júri, foram avaliados, quinze restaurantes participantes nos seguintes parâmetros: A apresentação do prato; a avaliação da carne; a confeção; o tempero; a estrutura do paladar; a textura do molho e a apresentação. Na perspetiva dos jurados verificaram-se traços comuns na confeção do prato, que permitiram identificar a factível matriz desse saber-fazer tradicional.
Do resultado deste festival, e devidamente autorizado por todos os proprietários dos restaurantes participantes, procedeu-se ao levantamento do receituário, matérias-primas usadas, técnicas e métodos adotados em cada estabelecimento, criando uma importante base de trabalho para a elaboração de um caderno de especificações, ferramenta indispensável na certificação do receituário “Vitela Assada à Moda de Fafe”.
Neste contexto foram convidados 10 dos restaurante participantes, para dar impulso a este projeto e que estiveram presentes no encontro.
Já em 2002, o Município colaborou com a Região de Turismo Verde Minho no levantamento do Receituário Tradicional de Doces, Carnes, Peixes, Petisco e outros na área da gastronomia, em todas as freguesias do Concelho de Fafe. Este trabalho permitiu editar a Carta Gastronómica do Baixo Minho, para salvaguarda do Património Gastronómico. Hoje, tendo como objetivo continuar os trabalhos já executados, apontando para a preservação e a promoção da cultura gastronómica fafense e minhota, surge o momento de criar e apresentar a confraria “Vitela Assada à Moda de Fafe” que visa a investigação, a defesa da autenticidade, o registo dos costumes e saberes ancestrais e a atribuição da sua devida qualificação e visibilidade.
O Presidente da Naturfafe, desafiou outros personalidades, proprietários de restaurantes, que ainda não estão presentes nesta comissão instaladora mas, que ainda podem integrar o grupo desde que contactem a comissão e aceitem serem avaliados por um juri quanto aos seguintes parâmetros: a apresentação do prato; a avaliação da carne; a confeção; o tempero; a estrutura do paladar e a textura do molho. É, ainda, indispensável uma autorização, por escrito, do proprietário, cedendo à comissão, o receituário, as matérias-primas, as técnicas e métodos adotados.
Foi formalmente apresentado o traje do Confrade ainda numa fase de finalização que é constituída por uma Capa de cor castanho e amarelo, que interpreta uma espécie de croça que os pastores de gado usavam para agasalho; O chapéu de cor castanho com aba larga e fita amarelo representa o chapéu ceifeiro dos entrançados de palha; A vara, com a tonalidade do pau de marmeleiro, representa o pau que os pastores usavam nos pastos para se equilibrarem e para “tocarem” o gado. Este varapau tem ainda outra simbologia, muito característica no Concelho, que é o instrumento habitual na prática do Tradicional Jogo do pau. O escapulário, em tom de bronze, é composto por uma pingadeira com as batatas e a vitela assada.
Presente da reunião, o Vereador da Cultura, Pompeu Martins, informou aos presentes que “o desafio efetuado, no prograna das Jornadas Literárias, à Naturfafe foi felizmente acatado, e irá permitir ao património gastronómico que é o prato “Vitela Assada à Moda de Fafe” ter a visibilidade merecida quer em termos culturais, quer pela sua pela diferenciação na qualidade”.

In www.correiodominho.pt